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Felizes....!

DAY 2 OF 8

FELIZES OS QUE CHORAM!

A segunda bem-aventurança jamais cairá no vazio ou no esquecimento, porque enquanto houver vida humana haverá dor, infelicidade e lágrimas. A razão mais comum para o choro é a tristeza, seguida em ordem (segundo alguns estudiosos) por felicidade, raiva, simpatia, ansiedade e medo. Entretanto, ninguém geme para alcançar a felicidade. Via de regra nosso choro é tão somente a expressão da nossa impotência, da nossa frustração, dos nossos egos contrariados, desejos não atendidos; e certamente Jesus não se referia em Mateus 5:4 a nenhuma destas motivações mencionadas.

Se a primeira beatitude atingia o centro da necessidade do homem, como Fitch dizia: “A pobreza de espírito é essencialmente destronamento do orgulho” - e o orgulho é a própria essência do pecado - a segunda, segundo pensou Martin Lloyd-Jones é a sequência: “Chorar é algo que vem logo depois da necessidade de ser ‘pobre de espírito’. “Quando eu confronto Deus e a sua santidade, e contemplo a vida que devo viver, vejo a mim mesmo, o meu total desamparo e falta de esperança.”

A leitura descuidada do texto pode sugerir que os que choram são todos os que de alguma forma caíram sob o domínio do sofrimento. O sofrimento humano é um tema recorrente em todas as religiões. A diversidade de crenças não evita o consenso em questões que afligem corações de todas as estirpes: A divindade é a fonte do meu sofrimento? A divindade não se importa com o meu sofrimento? No caso do Cristianismo, as dúvidas se aprofundam com o aparente paradoxo de um amor que permite e convive com o sofrimento.

As motivações duvidosas para esses questionamentos não encontram domicílio no domínio da pessoa de Deus, mas no egocentrismo humano, que subsiste em atitudes irracionais, e em uma existência sem vida (dasein ohne leben, como se diria em alemão). Disse alguém que "Jesus veio para nos lembrar que nós, que estamos presos no temporal, subsistimos sem a matriz da vida. Embora continuemos a existir, carecemos da vida no seu verdadeiro significado." Essa compreensão só é possível com o auxílio dEle (“se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?” – João 3:12). Ou seja, a vida sem as coisas celestiais é puro egoísmo.

Com isso em mente, a conclusão óbvia é que há choros e choros, e o sermão maior não se dirige a todos que derramam lágrimas chorosas, mas a algumas pessoas que choram por motivos de nobreza compatível com o Reino anunciado.

Os que choram são os que lamentam a sua própria pecaminosidade. Tal como Isaías, que, diante da glória de Deus, exasperou-se,“Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos!”.

Por vivermos constantemente assediados por filosofias humanistas, esse tipo de choro é desestimulado, por vezes até censurado severamente, afinal de contas, as tais filosofias afundam suas frágeis raízes no arenoso solo da pressuposição de que o homem é bom por natureza, ou no escapismo da negação da culpa (sem falar na negação da existência de Deus). Na verdade, as filosofias são a fachada embelezada de um esforço horroroso para desqualificar a luta contra o pecado.

Graças a elas é muito mais comum encontrar falastrões do que humilhados, rebeldes em maior número do que quebrantados, deuses e semideuses em panteão diverso, além de humanos meramente. Fernando Pessoa, sem qualquer preocupação teológica, assim expressou essa mesma percepção:

[...]Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? [...]

O apóstolo Paulo já havia delimitado o território dessa guerra: nosso íntimo, dizendo em Romanos 7:15,19,24 “...nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. (...) Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. (...) Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”

O salmista Davi, assim como Paulo, tinha concluído que “...sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado;...” demonstrando para uma multidão de pecadores que o choro do coração, de arrependimento, é aquele que verdadeiramente sensibiliza nosso Pai.

Sentir a própria maldade é algo que não somente nos coloca sob o conforto divino, mas nos leva também a chorar pela pecaminosidade do mundo.

Um teólogo explicou isso de maneira bem simples: Estou convencido de que o único meio de se experimentar a plenitude da alegria do Senhor Deus é participar de sua tristeza. Deus sente pesar por causa do pecado, e os que andam com Ele de modo verdadeiro, participam desta dor. Nos dias de Noé, "viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra, e isso lhe pesou no coração" (Gênesis 6:5,6). A palavra hebraica empregada aqui significa "penetrar no coração". Quer dizer "mágoa, dor". A maldade da raça humana estava magoando profundamente a Deus, causando-Lhe grande dor no coração. Isaías disse o seguinte sobre Cristo: "Era...homem de dores, e experimentado no sofrimento" (Isaías 53:3). Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si" (Isaías 53:4). O pecado da raça humana causou esse sofrimento. Ele participou da verdadeira mágoa e dor do Pai celestial.

O enorme assédio das informações sobre (quase) tudo que acontece no globo, (quase) em tempo real, oprime e faz chorar, não pela maldade, sofrimento e tragédias, descritas tendenciosamente na maioria das vezes, mas principalmente pelo pecado que aparece como cenário principal de um palco onde os atores não estão comprometidos com o Autor, mas consigo próprios.

Finalmente, os que amam o Senhor Jesus, sabem que Ele não esqueceria os que choram por serem perseguidos ou desprezados por causa de sua fé, muito embora talvez não fosse esse seu foco principal na fala de Mateus 5:4.

Esse tipo de sofrimento funciona como um filtro de disposições para seguir o Mestre, até às últimas consequências. Disposições que não se caracterizam por buscarmos o sofrimento, mas pela coragem de não fugir deles.

O midiático mundo em que vivemos, que exalta a imagem pessoal como bem maior, também contribui para que muitos desanimem de enfrentar o choro da perseguição e do desprezo, enquadrando-se bem em outro alerta de Jesus sobre a ‘vergonha do Evangelho: Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos.(Lucas 9:26)

Pedro tem uma inspirada palavra de conforto para os que choram por amor a Cristo: “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte.” (1 Pedro 4:12-16)

O convite de Jesus para que nos tornemos seus súditos, implícito nas bem-aventuranças, é feito para todos aqueles que choram por reconhecer sua pecaminosidade, confessando-a, e entregando-se ao domínio dEle, e recebendo o seu maravilhoso consolo.

Tom Wright escreveu: “A justificação pressupõe duas coisas: pecado e graça. Nenhum pecado, nenhuma necessidade de justificação; nenhuma graça, nenhuma possibilidade de justificação.” Poderíamos muito bem acrescentar à essa afirmação: nenhum arrependimento por pecados, nenhum choro, nenhum consolo.

Verdadeiramente, são felizes os que choram, porque serão consolados!

Wilson Avilla

Scripture

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About this Plan

Felizes....!

Nestes tempos em que cada um quer ‘fazer Deus’ a seu próprio modo, em que as selfie-religions validam o individualismo, as bem-aventuranças são afirmações maiores da lei do Reino de Deus. Compreender a justiça desse novo domínio implica em obedecer de coração à Sua vontade em relacionamentos governados pelo amor a Deus. No mais famoso discurso de todos os tempos, Jesus ensina pessoas a serem simplesmente felizes.

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