O Senhor dos ExércitosExemplo
Guerra
Diferente do serviço militar obrigatório comum, a experiência que tive no Exército Brasileiro me preparava para ser um oficial. No curso de oficiais temporários, não só reforçavam para nós a importância da obediência e da disciplina, mas também nos ensinavam a comandar. “A palavra convence, mas o exemplo arrasta” dizia o capitão, e sempre nos instruíam para que pudéssemos tomar decisões com base no objetivo final, e não simplesmente abaixando a cabeça e agindo sem pensar. Nesse contexto, sou eternamente grato ao Exército Brasileiro pela dedicação e esforço que tiveram na minha vida. Esse investimento que o país teve em mim – seja de tempo, esforço ou dinheiro – foi imenso, justamente para garantir uma formação completa, que me capacitasse a liderar e desenvolver um raciocínio estratégico em meio a adversidade. O título de aspirante-a-oficial agrega muito a vida de alguém; e no fim das contas, depois de formado, eu entraria para a reserva e o Brasil nunca entraria em uma guerra mesmo. Ou será que poderia?
Faltando dois meses para a minha formatura, já na reta final da formação, Israel sofreu uma invasão terrorista do Hamas, um grupo extremista da Palestina. Em 3 dias, foram recrutados 300 mil reservistas para a defesa nacional. 300 mil pais, filhos e ex-militares que voltaram a vestir uma farda para defender o país, suas famílias e suas terras. No meio de crianças sendo feitas reféns, mulheres sendo estupradas e idosos espancados, homens responderam ao seu chamado. Se eu tivesse nascido lá, seria eu que estaria pegando meu fuzil, preparando minha mochila e capacete, despedindo de amigos e família e embarcando rumo ao front de batalha. A formação que tinha sido exageradamente completa para um civil, se tornaria insuficiente para a guerra. Além disso, pelo meu histórico militar, seria um dos primeiros a serem chamados, haveria um pelotão ao meu comando e o investimento que fizeram em mim enfim retornaria para o país. No meio civil, estaria entre os mais aptos para o combate, e não poderia abrir mão da minha responsabilidade.
O trecho bíblico de hoje remonta o tempo do império Persa. Após um desentendimento com sua esposa, o rei Xerxes anuncia um concurso de beleza em busca de uma nova esposa e a vencedora não poderia ser mais improvável: a judia Ester, que morava com seu primo Mordecai. O segundo homem do império persa, logo abaixo do rei, era Hamã, e este nutria profundo desprezo por Mordecai, por ele não se curvar perante ele. A adoração somente a Deus, princípio seguido por Mordecai e pelo povo judeu, custa caro: Hamã usa sua autoridade para escrever um decreto permitindo a destruição e morte dos judeus em um dia específico, como vemos no final do capítulo 3.
Assim que Mordecai descobre do decreto, ele rasga suas vestes e se cobre de pano de saco e cinza em profundo luto, e vai contar a notícia a Ester. No início a rainha parece relutante em falar com o rei – afinal, qualquer pessoa que fizesse isso sem sua autorização poderia morrer caso ele não levantasse seu cetro. Mordecai então dá o ultimato: Ester também era judia e não seria poupada. Deus a havia colocado no trono e era para essa situação que ela havia sido preparada. Ester percebe enfim sua responsabilidade e resolve encará-la, nem que significasse arriscar a própria vida para isso.
No último campo do ano, a operação FIT (Fibra Iniciativa e Tenacidade), não só fomos testados da forma mais rigorosa mas também foi nítida a percepção do quanto tínhamos evoluído. A pista de rastejo foi alguns quilômetros maior, o intervalo de descanso diminuiu, os quilômetros andados na marcha final dobraram em comparação ao primeiro campo, mas em contrapartida, nossas capacidades cresceram. Por mais difíceis que esses últimos dias tivessem sido, o sofrimento não foi tão grande como na Semana Verde. Dormimos menos, comemos menos, e fizemos muito mais ao longo dos dias – apesar disso, lidamos muito melhor com os desafios. A impressão que tive é que eu estava virando uma máquina, e o que parecia impossível parecia ter se tornado rotina: o treinamento de um ano inteiro produziu frutos notáveis. Eu me senti preparado, mas preparado para quê?
Assim como Ester pensava na aleatoriedade e na coincidência de ter se tornado a rainha da Pérsia, eu pensava comigo sobre todas as habilidades que havia adquirido. Aparentemente, aspectos tão sem importância, coisas que simplesmente aconteceram mas que não tinham tanto propósito. O treinamento físico intenso, as longas caminhadas com a mochila, a disciplina da ordem unida e as instruções de tiro foram só atividades momentâneas, que dificilmente seriam úteis depois. Os reservistas de Israel, que tiveram a oportunidade de passar por algum treinamento militar foram chamados para defender o país. Ester foi usada por Deus, em uma aparente coincidência que aponta para a soberania de Deus, para proteger seu povo. Nas sábias palavras de Mordecai:
“Então, lhes disse Mordecai que respondessem a Ester: Não imagines que, por estares na casa do rei, só tu escaparás entre todos os judeus. Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” Ester 4:13-14
Ester, sem saber, tinha sido preparada para aquela conjuntura e não era hora de se esconder. Circunstâncias aparentemente irrelevantes se tornaram cruciais para sua vida. Davi foi preparado para batalhas cuidando de seu rebanho e protegendo suas ovelhas de ursos e leões. Moisés cresceu na corte do faraó, e Deus usou o poder e a educação que ele adquiriu para libertar seu povo. Paulo encontrou segurança jurídica em sua cidadania Romana. Enfim, a Bíblia é repleta de histórias de Deus usando circunstâncias triviais ou até desfavoráveis de vida dos seus servos para sua glória. Os processos mais ordinários passaram a ser úteis quando chegou o tempo que Deus tinha preparado.
Passamos os dias rotineiros reclamando das nossas vidas sem perceber que possivelmente Deus está nos preparando para nos usar no futuro. Ele pedirá contas de cada uma das competências e experiências que negligenciamos dia após dia.
Em Lucas 12, Jesus conta a parábola do mordomo fiel, que se encontra preparado para a volta do seu senhor em vigilância, em contraponto do servo infiel:
“Mas, se aquele servo disser consigo mesmo: Meu senhor tarda em vir, e passar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, virá o senhor daquele servo, em dia em que não o espera e em hora que não sabe, e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os infiéis. Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.” Lucas 12:45-48
Você tem aproveitado seu dia a dia para estar cada vez mais pronto para ser usado por Deus?
Não sei se o treinamento pelo qual tive oportunidade de passar será usado por Deus de forma tão específica como no caso de Ester, mas quero estar pronto caso seja. Não despreze os processos e as etapas de sua vida hoje por não ver propósitos neles no futuro, é Deus quem produz os frutos. Se Deus te dirigiu para uma faculdade, um emprego, uma cidade nova, um caminho diferente, ele pode usar essas experiências no futuro em prol do Reino dEle. A pergunta que fica é: se Deus quiser usar suas experiências ordinárias, você estará pronto?
E assim nos despedimos, meu caro leitor. Muito obrigado por revisitar o meu ano de formação nesses últimos dias. Espero que, assim como Deus me falou em cada momento da minha vida militar, Ele tenha falado ao seu coração na leitura desse plano. Que sirva de convite para que você abra seus olhos para o que o Senhor tem para falar com você no seu dia a dia. E que você nunca se esqueça: o mesmo Deus que é Pai de amor é também o Senhor dos Exércitos.
As Escrituras
Sobre este Plano
Esse plano conta algumas histórias de experiências com Deus que tive no meu ano de serviço militar, sempre comparando-as com textos bíblicos que o Senhor usou para falar comigo nas situações mais cotidianas. Te convido a conhecer uma face pouco falada do nosso Deus: a de Senhor dos Exércitos. Que Ele fale ao seu coração.
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Gostaríamos de agradecer ao Arthur Bessa por fornecer este plano. Para mais informações, visite: https://www.instagram.com/arthurnbessa/?next=%2F