O Senhor dos ExércitosExemplo

Solitude

Certamente uma das piores partes da vida militar: o serviço. Os dias em que o CPOR era responsável pela segurança do quartel. Para você que não sabe, todos os dias, todas as horas e em todos os quartéis sempre há alguém de serviço para garantir a segurança do lugar. No caso do CPOR, nossa escala cobria os sábados e alguns feriados, em que nos alternávamos nos postos de segurança. Na época, fazíamos um revezamento: 2 horas descansando, 2 horas sentados, formando uma força para reação caso necessário, 2 horas em pé no posto e assim por diante. Durante essas 24 horas, era proibido o uso de celular, mesmo quando descansando, e o silêncio era um dos maiores desafios. Quando ia chegando o momento de “entrarmos na hora” – ou assumir o posto – já desanimávamos: seriam 2 horas sem conversar com ninguém, sem música, sem celular, sem qualquer estímulo que não o do ambiente. Completamente a sós. Não havia tortura maior do que isso.

Os salmos de hoje falam sobre esse silêncio. No primeiro deles, o salmo 23, talvez o mais conhecido da Bíblia, Davi se refere ao Senhor como um pastor, figura essa que conhecia bem. Como o filho responsável por cuidar das ovelhas de seu pai, o caçula de Jessé tinha bastante contato com esse ambiente bucólico. A quietude que ao nosso ver pode trazer inquietação trazia a ele paz: o pasto e cuidado que tinha com suas ovelhas lembrava-o do cuidado que o Senhor tinha com ele. É como lemos:

“O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. ” Salmo 23:1-3

Ele é quem nos faz repousar em pastos verdejantes, somente nEle encontramos paz. Davi percebe essa oportunidade de encontrar refrigério em Deus ao se aquietar na confiança de que Ele continua regendo o mundo em suas mãos.

Já no salmo 62, o desafio que Davi enfrentava era outro: aquietar-se e confiar em Deus em meio à adversidade. Em um mundo repleto de mentiras, em que os ímpios procuram derrubar os justos de qualquer maneira, Davi escolhe confiar em Deus, e o faz isso em silêncio:

“Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a minha rocha, e a minha salvação, e o meu alto refúgio; não serei jamais abalado. De Deus dependem a minha salvação e a minha glória; estão em Deus a minha forte rocha e o meu refúgio. Confiai nele, ó povo, em todo tempo; derramai perante ele o vosso coração; Deus é o nosso refúgio.” Salmo 62:5-8

O exemplo de Davi nos ensina que seja em meio ao caos ou à tranquilidade, sempre temos a opção de sermos imperativos em relação aos nossos medos, e direcioná-los ao Senhor esperando nEle em silêncio.

Aos poucos fui percebendo que as 2 horas na madrugada fria não precisavam ser tão dolorosas: não havia um convite maior do que esse para passar um tempo com Deus. Eu podia me torturar esperando o tempo passar das formas mais inusitadas possíveis ou simplesmente me aquietar diante de Deus e buscar sua voz em oração. Seriam 2 horas para conhecer mais de Deus, as quais eu dificilmente investiria para isso se não estivesse de serviço. E não se engane, Deus usou muito desses momentos para falar ao meu coração.

Em um mundo agitado, buscamos sempre fugir da solitude, com medo de encararmos a solidão. Richard Foster comenta em seu livro “Celebração da Disciplina” que solidão é o vazio interior, enquanto solitude é a realização interior. A solitude, segundo ele, é o ato de nos aquietarmos em silêncio com um coração atento para ouvir a voz de Deus, o que é quase impensável nos dias de hoje:

“Um motivo de quase não aguentarmos permanecer em silêncio é que ele nos faz sentir tão desamparados. Estamos demais acostumados a depender das palavras para manobrar e controlar os outros. Se estivermos em silêncio, quem assumirá o controle? Deus fará isso; mas nunca deixaremos que ele assuma o controle enquanto não confiamos nele. O silêncio está intimamente relacionado com a confiança.” Richard Foster

A verdade é que não pagamos o preço para ouvirmos ao Senhor. Estamos tão acostumados em sempre falar que o silêncio nos incomoda e aquietar-se diante do Senhor é quase impossível no nosso dia a dia. O Salmo 46 coloca uma relação direta na quietude e no conhecer de Deus

“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra.” Salmo 46:10

A Solitude nos coloca face a face com o próprio Deus e nos possibilita contemplar seus atributos de uma forma muito mais completa do que na correria dos nossos dias. É por isso, que o salmista ordena sua própria alma a se aquietar:

“Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo.” Salmo 116:7

Se o Senhor tem sido generoso para conosco, precisamos de um esforço imperativo em nos silenciarmos para percebermos e agradecermos suas bênçãos. O cuidado de Deus passa despercebido em rotinas agitadas sem momentos de oração. Meu caro leitor, não permita que seus afazeres te impeçam de passar seu tempo a sós com o Criador. O Senhor dos Exércitos busca ser conhecido por filhos que estejam dispostos a orar e ler a bíblia todos os dias.Nesse sentido, não se trata de um ritual religioso, mas uma oportunidade diária de nos encontrarmos com Deus. Não espere pelo próximo culto para isso. Como diria um cântico (tirei hino antigo porque a música é dos anos 2000) que cantamos lá na igreja:

“Na oração encontro calma

Na oração encontro paz

Orar a Deus faz bem a alma

Falar com Deus me satisfaz.

Falar com Deus que privilégio

Abrir a alma ao Criador

Sentir que os céus estão abertos

E ouvir a voz do Salvador.”

Busque a Deus nos seus dias aqui na Terra e o ordinário passará a ter mais propósito. Por fim, que essa pergunta possa nos visitar sempre que necessário: é Deus quem não fala ao seu coração, ou você que não tem se aquietado para ouvir a sua voz?