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O Senhor dos ExércitosExemplo

O Senhor dos Exércitos

DIA 8 DE 12

Vibração

Um dos conceitos típicos do ambiente militar, que me foi introduzido logo no início da minha vida no quartel, era o de “vibração”. Lembro de uma das canções que eu gostava de puxar, enquanto corríamos em forma, que dizia: “Vibra que não doi”. Confesso que nas primeiras vezes que ouvi isso, não conseguia entender muito bem o que significava. Em um dos muros do quartel, havia sido pintada uma frase no mesmo sentido: “Um corpo que não vibra é um esqueleto que se arrasta”. Em vários contextos diferentes, éramos encorajados a vibrar.

Aos poucos fomos entendendo a realidade desse conceito. Nas corridas mais difíceis, quando sentíamos o nosso corpo pedindo para pararmos de correr de tantas formas diferentes, começávamos a cantar ainda mais alto, ignorando a dor que sentíamos. Parece contra intuitivo, e eu mesmo não acreditava no início, mas só obedecíamos ao grito dos instrutores: “Vibraaa Alunooo!” Quanto mais difícil ficava, mais alto cantávamos, em uma tentativa desesperada de tirar o foco da dor que sentíamos. E de certa forma, a equipe de instrução estava certa: a dor já não era tão grande assim.

Paulo e Silas, em Atos 16, estavam pregando o evangelho com ousadia e intrepidez em Filipos, Lídia e toda a sua casa haviam se convertido e parecia que tudo estava bem. Até que, de repente, começaram a ser perseguidos por uma jovem endemoniada. É interessante que eles começam a ser incomodados justamente quando estão indo para o lugar de oração, o que nos faz refletir sobre como a oração incomoda o reino das trevas. Não é à toa que muitas vezes, nossas maiores dificuldades nos momentos de oração, são os inesperados convites e intercorrências que aparecem “do nada”. Satanás agindo exatamente nesse contexto nos mostra o poder de joelhos dobrados.

Assim que eles expulsam esse espírito imundo, eles acabam fazendo inimigos: na visão dos senhores dessa jovem, ela não era uma mulher que sofria nas mãos de um demônio, mas uma fonte de renda. O inevitável acontece: acusados de mentiras, ambos são açoitados e presos. Parecia que o Deus sobre o qual haviam pregado tanto, os tinha abandonado. Silas e Paulo, porém, não pensavam assim: ambos cantavam e louvavam ao Senhor, mesmo com os pés presos presos em um tronco, em uma prisão escura.

No campo básico, o segundo campo da nossa formação, – como comentamos alguns dias atrás – foi um nível novo de sofrimento. O 1º pelotão, do qual fazia parte, era nitidamente mais atrapalhado do que o 2º. Parecia que todos os “bisonhos” do CPOR tinham caído no mesmo grupamento e cumprir as exigências do campo não era uma tarefa fácil. Cada vez que não cumpríamos uma atividade no tempo estipulado, já imaginávamos: voltas correndo com a mochila, entrar no lago de madrugada com a farda completa, subir e descer colinas correndo e assim por diante. Uma punição levava a outra, e o ciclo muitas vezes demorava horas para acabar.

Na segunda ou terceira noite do campo - quando o corpo já sentia o desgaste das intensas atividades - voltamos para o lugar de barracas, aguardando apenas o aval do tenente para sermos liberados para dormir. Era uma madrugada de inverno, quando as temperaturas baixam consideravelmente à noite. Eu só pensava comigo mesmo: “impossível o tenente nos mandar para o lago hoje, nós vamos ter hipotermia se ele fizer isso”. Enquanto acertávamos o grupamento e dávamos instruções uns para os outros, podíamos perceber o vapor de água que saía de nossas bocas ao falar. De canto de olho, mirávamos o lago cuja temperatura tínhamos experimentado nos dias anteriores, já com uma névoa esbranquiçada sobre as águas. Entramos em forma, de frente para o tenente, em silêncio absoluto, apenas esperando a liberação.

No campo havia uma regra: entre uma instrução e outra o deslocamento era feito sempre vibrando: correndo em forma, levantando joelhos e cantando canções. Se a vibração do pelotão não estivesse à altura, todos pagavam. Confesso que naquela noite eu nem me preocupei em cantar tão alto e levantar os joelhos, afinal, eu estava exaurido e o tenente não nos mandaria para a água naquelas condições climáticas. Mesmo assim, permanecíamos imóveis em apreensão diante do veredito da liberação. Assim que o xerife apresentou a tropa, ouvimos: “Que padrãozinho baixaria é esse? Não foi assim que aprenderam! Sabe o que eu acho xerife? Eu to achando que o pelotão está dormindo, por isso que estão se arrastando por aí! Todos para a água, vamos ver se o pessoal acorda!”

Não acreditei nas palavras que ouvi. Entramos todos no lago congelante, com a água batendo na cintura e os ossos tremendo de frio. Foi quando eu pensei: “impossível piorar”. Mais uma vez eu estava errado: “Ao tempo 3, todos mergulhando até o capacete sumir na água!” gritou o tenente. Depois de 10 mergulhos, já encharcados e tremendo de frio, ouvimos nossa última ordem: “Agora xerife, vocês vão subir com todo o pelotão para o alto daquela colina e eu quero ver esse pelotão vibrando como nunca! Vamos ver o padrão que vocês vão voltar”

A essa altura, só escutava o barulho dos dentes batendo e sentia os músculos tremendo para minimizar o frio, até que um de nós gritou: “É essa parada mesmo! Vão bora primeiro pelotão! Vamo vibrar! Vamo mostrar o nosso padrão!”. Não sei nem de onde tiramos tanta força, mas subimos e descemos a colina cantando o mais alto que podíamos, até o frio parou de nos atingir. Voltamos com os dentes cerrados em determinação de mostrar nossa vibração e apresentamos a tropa como nunca antes até que ouvimos: “Excelente 1º pelotão, esse é o padrão que aprenderam, estão liberados!”

Tanto na história de Paulo e Silas como nesse episódio do campo básico, vemos que os momentos extremos que Deus nos permite enfrentar nada mais são do que oportunidades de “vibrarmos”. São convites para darmos tudo o que temos e superarmos as circunstâncias. Como se cerrássemos os nossos dentes e fixássemos os nossos olhos em Cristo, sem abrirmos mão da excelência, afinal, independente do nosso ambiente, tudo que for feito para Deus merece ser feito da melhor forma possível.

Essa confiança vai muito além de um estado de espírito tranquilo – está na postura ativa de nos comprometermos com a excelência em meio ao caos, para dar o melhor que conseguimos oferecer para o Senhor, dentro das condições que temos para isso. John Wesley, pastor anglicano do século XVIII, conta em seu diário como foi profundamente impactado pelos missionários morávios, que no meio de uma tempestade feroz, não paravam de louvar e bendizer ao Senhor.

O Senhor dos Exércitos nos chama a exaltá-lo em meio às dificuldades, afinal, o que é a vida senão o único intervalo de tempo até a eternidade em que temos a oportunidade de louvar ao Senhor em meio às lutas?

As Escrituras

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Sobre este Plano

O Senhor dos Exércitos

Esse plano conta algumas histórias de experiências com Deus que tive no meu ano de serviço militar, sempre comparando-as com textos bíblicos que o Senhor usou para falar comigo nas situações mais cotidianas. Te convido a conhecer uma face pouco falada do nosso Deus: a de Senhor dos Exércitos. Que Ele fale ao seu coração.

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Gostaríamos de agradecer ao Arthur Bessa por fornecer este plano. Para mais informações, visite: https://www.instagram.com/arthurnbessa/?next=%2F