O Senhor dos ExércitosExemplo
Semana Verde
O campo, no contexto militar, refere-se às atividades no terreno: aos acampamentos de instruções predominantemente práticas e, muitas vezes, extenuantes. A Semana Verde, como o primeiro campo do ano de formação, era o período de conhecer um nível de desconforto e sofrimento físico novo. Foi nesses dias que muitos entenderam o que era sentir frio, fome, sede, o peso da mochila afundando os ombros e a saudade de casa. Lembro da feição assustada que meus pais fizeram ao me ver ao final dos 4 dias, com alguns quilos a menos e muita história para contar.
Com as primeiras punições – ficar molhado durante o dia e a noite, dar voltas correndo com a mochila ou ter menos tempo para comer e dormir – fomos percebendo como pelotão que as punições físicas não eram o pior, mas sim, o efeito que elas geravam no nosso psicológico. A “moral da tropa”, como dizíamos, apontava para a união do pelotão, a capacidade que tínhamos de nos manter focados, motivados e unidos durante os obstáculos mais assustadores e aos poucos, começamos a ser intencionais em mantê-la intocável.
É claro que depois de ser punido como pelotão por conta da demora ou do erro de apenas um (afinal, “se um militar não chegou a tempo ou não conseguiu se sair bem em alguma atividade, todos precisam pagar”); é natural que o grupo se volte contra os mais devagares e fracos, com raiva e desprezo. Lembro-me ainda hoje da frase que diziam para nós: “Senhores, somente o trauma coletivo gera a união, e como os senhores sairão unidos daqui.” Parece em tom de ironia e sarcasmo, mas certamente o tenente estava certo: nos campos mais duros aprendi que o sofrimento físico não é o que mais importa, mas a forma como lidamos e reagimos a esse sofrimento.
A história de Atos 5 lida anteriormente mostra exatamente isso: homens unidos entre si e com um propósito firme são inatingíveis. A certeza daquilo que faziam era tanta que eles saíram do Sinédrio “regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome”. Esse episódio confirma aquilo que Gamaliel supôs versículos antes:
“Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele.” Atos 5:38-39
Da mesma forma, com o desenvolvimento da nossa maturidade militar, percebemos que sofríamos menos em castigos mais severos quando estávamos unidos uns com os outros em um mesmo propósito. Uma das frases que dizíamos que refletia isso, dita muitas vezes quando prevíamos que o pior ia acontecer era: “Agrupa, agrupa e deixa bater.” Era uma lembrança de que a dor viria de qualquer forma, mas se uníssemos como grupo poderíamos passar por ela.
Um dos alunos que mais sofria no nosso meio era o 20, e muitas vezes ele se encontrava inabalável diante de punições, nas quais muitas vezes me dizia: “Não há nada que eles possam fazer, se me mandarem para água, ficarei molhado. Se for pra fazer 50 flexões, eu faço as 50. Se me pedirem mais e eu não tiver forças, não há nada que eles vão poder fazer. E se me mandarem de novo para a água, eu já estava molhado mesmo.”
Aprendi também que uma das melhores formas de manter a “moral elevada”, mesmo nas dificuldades e intempéries, era a gratidão. A partir do nosso segundo campo eu cantava uma canção que em um trecho dizia:
“O trauma coletivo é que gera união
Obrigado Deus pelo meu pelotão!”
Eu buscava gritar a plenos pulmões cada palavra desse trecho, por mais difícil que fosse agradecer a Deus por aqueles que muitas vezes eram as causas das punições. Depois de tantas orações em que eu pedia ao Senhor para entrar no exército, o sofrimento que eu sofria parecia um convite muito convincente para esquecermos da graça de Deus. Por mais lógico que possa parecer aceitar esse convite, resista-o: ele o afastará do Senhor.
A melhor forma de lidar com um coração que anseia por amargura é exercer a gratidão: a decisão de confiar que tudo o que recebemos de Deus é reflexo do caráter paternal de Deus e do seu cuidado, mesmo que aparentemente em meio ao caos. A gratidão mantém a igreja de pé, mantém famílias unidas nas dificuldades financeiras e mantém o relacionamento com Deus vívido e inabalável.
Quando tiramos os olhos das circunstâncias que estão ao nosso redor e os fixamos no autor e consumador da nossa fé (Hebreus 12:1-2) somos constrangidos a agradecer a quem tem estado conosco durante cada um dos nossos dias. Nunca se esqueça: nem enquanto estamos passando pelo vale da sombra e da morte o Senhor deixa de ser digno de louvor. As bênçãos da provisão de Deus na peregrinação do deserto não podiam ser percebidas pelo coração endurecido e rebelde de seu povo. O Deus que permite que passemos por dias sombrios é o que promete estar conosco em cada um deles.
Enfim, Gamaliel estava certo, a pregação do evangelho era mantida por Deus, e a história só prova que os sofrimentos físicos, as perseguições e as lutas não podem impedir o avanço de um uma igreja que é sustentada pelo Senhor dos Exércitos.
Qual tem sido sua reação frente às dificuldades da vida? Você se abate e duvida do cuidado do Senhor? Ou permanece grato e alegre na confiança naquele que guiou e continuará guiando sua igreja pelos séculos e séculos?
As Escrituras
Sobre este Plano
Esse plano conta algumas histórias de experiências com Deus que tive no meu ano de serviço militar, sempre comparando-as com textos bíblicos que o Senhor usou para falar comigo nas situações mais cotidianas. Te convido a conhecer uma face pouco falada do nosso Deus: a de Senhor dos Exércitos. Que Ele fale ao seu coração.
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Gostaríamos de agradecer ao Arthur Bessa por fornecer este plano. Para mais informações, visite: https://www.instagram.com/arthurnbessa/?next=%2F