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Discipulado da FamíliaExemplo

Discipulado da Família

DIA 5 DE 5

EDUCAÇÃO DE FILHOS - pais e filhos caminhando como imitadores de Deus

Qual a sua definição de riqueza? Qual o seu estereótipo de sucesso e realização? No ideário comum da sociedade em que vivemos, riqueza é sinônimo de possuir muito dinheiro. Mas será que podemos definir riqueza, apenas em parâmetros monetários? Em nome da busca pela riqueza, muitos acabam desprezando (ou deixando para segundo plano) o seu relacionamento com Deus e a importância da família. Outros definem uma vida de realização baseados em parâmetros de prazer. Buscam o prazer acima de todas as coisas, e acabam desprezando o seu propósito diante de Deus, bem como o valor da família. O assunto desse capítulo é de extrema importância, quando pensamos sobre o contexto da família. Veremos o que diz a Escritura, através do texto de Efésios 6.1-4, sobre o relacionamento entre pais e filhos, à luz do evangelho.

Você já parou para pensar na importância que a sociedade tem dado aos filhos? Na cultura dos pets’s, os animais muitas vezes são mais bem tratados do que os filhos; além de muitos que deixam de ter filhos para “adotar” um pet; até porque, segundo eles “filhos dão muito gasto”! Os filhos são muitas vezes assassinados no lugar que deveria ser o lugar de maior segurança do mundo: o ventre de suas mães. O aborto tem sido cada vez mais popularizado. Talvez você seja tentado a pensar que o tema da educação de filhos não é muito importante para você, porque você teve filhos e não os abortou. Mas, a maternidade e a paternidade é muito mais do que apenas trazer filhos ao mundo. Quantos pais têm negligenciado a educação dos seus filhos, o discipulado de seus filhos, e tratado os seus filhos como se eles não existissem. Apenas terceirizando os filhos aos avós, à escola. Por isso, é de grande importância compreender que pais e filhos devem caminhar como imitadores de Deus, como revelado pela Sagrada Escritura, especialmente no texto de Efésios 6.1-4.

Esse texto está inserido na segunda metade da epístola aos efésios. E o contexto aponta para a necessidade de ANDARMOS segundo a realidade do novo homem, criado EM Cristo Jesus. O capítulo 5 inicia dizendo que a maneira de ANDAR segundo essa nova humanidade, nada mais é do que andarmos como imitadores de Deus, como filhos amados. Andando em amor, como Cristo, que nos amou e a si mesmo se entregou por nós. Ou seja, a maneira de andar como imitadores de Deus é ‘CRISTO REFERENTE’, amorosa e sacrificial. Observamos que um dos aspectos desse ANDAR como imitadores de Deus envolve uma vida de santidade, ilustrada por Paulo através do contraste entre luz x trevas. Mas, um outro aspecto desse ANDAR como imitadores de Deus envolve uma vida de sabedoria, ilustrada por Paulo através do contraste entre néscios x sábios. E a partir do versículo 22 ele continua falando sobre ANDAR como imitadores de Deus nas relações interpessoais. Tanto no casamento, como na família e na sociedade.

E qual deve ser a nossa chave hermenêutica? Quais as bases da nossa compreensão desse texto? Uma dessas chaves é entender que Paulo continua falando sobre esse andar como imitadores de Deus, e tendo Cristo como referência desse andar. Uma outra chave é o versículo 21, que também fundamenta o que Paulo vai falar nos versículos seguintes. E a ideia é de que a despeito das nossas relações horizontais e interpessoais, que podem envolver as nossas relações de autoridade, existe um nível mais elevado. Existe um aspecto vertical de submissão, onde todos nós, independentemente de sermos homens ou mulheres, pais ou filhos, servos ou senhores, somos iguais. Devemos nos sujeitar uns aos outros no temor do Senhor. No que diz respeito ao temor do Senhor, todos nós devemos nos sujeitar. E uma outra espécie de chave hermenêutica, para entender o nosso texto é a relação entre as perícopes: capítulo 5.22-23; capítulo 6.1-4 e capítulo 6.5-9. O que essas três perícopes têm em comum? Todas elas estão falando sobre relacionamentos que envolvem autoridade; uma autoridade que envolve responsabilidade. Sendo assim, está claro que o nosso texto – efésios 6.1-4 - sobre como sermos imitadores de Deus em nossas relações de paternidade e maternidade, tendo Cristo como referência. E essa é uma das formas de seguirmos o modelo de Jesus como pais e como filhos.

Pais e filhos caminhando como imitadores de Deus

O evangelho e a obediência aos pais

“Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo”. (Efésios 6.1-3)

Esse é um texto riquíssimo! Um livro poderia facilmente ser escrito, a partir apenas dessa perícope. E tanto é fato que somente esse primeiro versículo daria um sermão. Não temos tempo hábil para nos aprofundar em cada detalhe desse texto, e nas muitas aplicações que poderíamos fazer a partir dele. Mas somente nesse versículo nós observamos pelo menos 4 verdades norteadoras sobre o tema da relação entre pais e filhos, especialmente sobre a ordem direcionada aos filhos. Uma dessas verdades observadas nesse primeiro versículo é justamente a própria ordem direcionada a eles:

“Filhos, obedecei”.

Obedecei! Por que os filhos devem obedecer aos pais? Primeiro porque obedecer aos pais é uma ordem e não uma opção. Pode parecer algo óbvio, mas por incrível que pareça muitos filhos não obedecem aos seus pais, justamente porque acreditam que não obedecer pode ser uma opção. Quando na verdade não é. Desobedecer não é uma opção. A questão da obediência aos pais não é uma escolha dos filhos entre duas opções. Não existe opção. O que existe é um imperativo, uma ordem: “Filhos, obedecei a vossos pais”. E o que significa obedecer aos pais?

A palavra grega utilizada aqui, se traduzida literalmente, tem o significado de “ouvir abaixo”. A ideia de que a pessoa que vos fala está “em cima”. Obedecer significa se submeter a autoridade dos pais, considerando-os como aqueles que têm a última palavra, que estão acima no sentido de que eles possuem o governo da família.

E nesse ponto eu acredito que cabe uma observação: muitas vezes pensamos na autoridade apenas como um privilégio, como um status ou como algo que nos torna melhores do que os outros. E nós pensamos apenas numa espécie de benefício de possuir uma autoridade. Mas nós não nos atentamos para o fato de que a autoridade pesa; é pesada. Isso porque a autoridade carrega em si o peso da responsabilidade. Logo, os pais não arrogam pra si essa autoridade, como se eles fossem tiranos e quisessem ser melhores do que os filhos, mas lhes é imposta essa obrigação. E Deus cobrará de cada pai, e de cada mãe, essa responsabilidade de dar conta da educação dos filhos que foram confiados a eles. Isso nos mostra, por um lado, que os filhos podem se submeter aos pais, porque isso não os diminui diante de Deus. E porque a responsabilidade dos pais em educar os filhos é um fardo muito maior do que a obediência dos filhos aos pais. Se você, como filho, acha pesado ter que obedecer aos seus pais, imagina o fardo que você terá, de ter que prestar contas diante de Deus da educação dos seus próprios filhos. E isso também nos mostra que filhos rebeldes são uma pedra de tropeço na vida dos pais, porque tornam a missão de educar um fardo pesado. Em contrapartida, quantos pais exigem obediência, mas não assumem a responsabilidade na educação dos seus filhos. É claro que uma coisa não exclui a outra. A boa educação dos pais não é critério para o filho obedecer ou não. Mas, muitos pais exigem a obediência dos filhos, mas não assumem a responsabilidade da educação. E isso reflete o exato oposto da liderança bíblica, que é uma liderança sacrificial. Pais que exigem a obediência e submissão dos filhos, sem assumir a sua responsabilidade na educação deles, agem como tiranos. Isso se aplica aos maridos que querem “ganhar no grito” a sua liderança em casa, e acabam agindo como tiranos; algumas vezes se impondo sobre a esposa através de sua força física, sua voz mais forte, ou por possuir o controle financeiro da casa. Da mesma forma há muitos pais, que são hábeis em gritar com os filhos dentro de casa, corrigir fisicamente, mas não movem uma palha para educá-los no temor do Senhor. Pais que querem a obediência dos filhos, mas que não estão nem um pouco preocupados em pastorear o coração dos seus filhos. Que não discipulam os seus filhos. Exigem a obediência, e um padrão perfeito de conduta dos filhos, mas faltam culto para assistir televisão, vivem gritando e falando palavrão em casa, não fazem um culto doméstico, devocional com os filhos. É incoerente. Mas, a ordem para os filhos é “obedecei a vossos pais”. Mesmo se os seus pais vierem a falhar, ou mesmo que o seu pai não seja um exemplo de conduta. Porque, e esse é o ponto, o padrão de conduta dos pais não é o critério da nossa obediência como filhos. É muito mais fácil se submeter a pais que são um exemplo de auto sacrifício. É muito mais fácil para a esposa se submeter a um marido que se auto sacrifica, que não é um tirano. É claro que existe um limite para essa obediência, justamente porque essa obediência é uma obediência “no Senhor”. Se os pais exigem que os filhos façam algo que o próprio Deus proíbe, como diz Pedro: “Antes importa obedecer a Deus do que os homens”. E é muito mais fácil se submeter e obedecer aos pais que andam como imitadores de Cristo. Porém, esse não é o critério da nossa submissão ou obediência. Devemos obedecer, primeiro porque essa é uma ordem da Escritura inspirada; uma ordem do próprio Deus.

“vossos pais”

Outro motivo, do porquê os filhos devem obedecer aos pais é uma outra verdade norteadora aqui desse versículo. Os filhos devem obedecer, simplesmente porque esse é o padrão estabelecido por Deus na criação. A palavra traduzida para “pais”, se traduzida literalmente seria “seus genitores”. É como se Paulo estivesse dizendo: “filhos, obedecei àqueles que te colocaram no mundo”. Você percebe que, no versículo 2 e 3, Paulo fala sobre a relação entre a obediência e a lei. E aqui Paulo está dizendo que, antes dos filhos terem que obedecer aos seus pais porque isso foi estabelecido na Lei de Deus, eles também devem fazer isso porque é um padrão estabelecido por Deus na própria criação. Isso é muito interessante, pois ao falar sobre o casamento, no versículo 31 do capítulo 5, Paulo também se refere ao casamento como ordem criacional: “deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, e se tornarão uma só carne”. É como se Paulo dissesse aqui: “olha filhos, vocês devem obedecer aos seus pais, porque Deus é o idealizador da família. Foi ele quem colocou os pais sobre os filhos, e os filhos debaixo da autoridade dos pais”. O que, dentre tantos objetivos, possui uma função protetiva. A paternidade e a maternidade são ferramentas de Deus na vida dos filhos, para os cuidados fundamentais de alimentação, abrigo, segurança, educação, formação, crescimento. Imagina uma criança brotando da terra, sem pai e sem mãe. Imagina um bebezinho colocado para viver sozinho no mundo. Por quanto tempo ele vai sobreviver? Os pais são os genitores e responsáveis por cuidar, por suprir, por conduzir os seus filhos. E os filhos devem obedecê-los, dentre tantos outros motivos, simplesmente pelo fato de que os seus pais foram os que Deus usou para trazê-lo ao mundo; para cuidar e suprir as suas necessidades. Esse é o padrão estabelecido por Deus na criação.

“No Senhor”

Além disso, os filhos devem obedecer aos pais “no Senhor”. Essa expressão “no Senhor” é bem distintiva. Ela é uma clara relação de Paulo com a expressão “em Cristo”, que ele utiliza várias vezes ao longo da carta. A ideia é a de que o evangelho não se limita apenas a nossa salvação, mas ao seu caráter prático, aplicado a todas as áreas da vida, como imitadores de Cristo. Nesse sentido os filhos, ao obedecerem aos pais, estão agindo conforme o evangelho, que confere a eles uma nova posição, uma nova humanidade, mas também um novo modelo e padrão de vida. Essa expressão “no Senhor” estabelece um princípio norteador e balizador do evangelho, no que diz respeito a relação entre pais e filhos. E, a expressão “no Senhor”, também nos aponta para a relação referencial entre Cristo e as nossas relações de autoridade. Lembre-se que ao longo da carta Paulo está falando sobre a autoridade de Cristo sobre todas as coisas, no céu e na terra. E como Cristo conquista essa autoridade? Se entregando. É por meio da cruz que Cristo cria uma nova humanidade[1]. O poder que Deus exerceu em Cristo, que tendo sido morto, “ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais”[2]. Cristo recebe autoridade morrendo na cruz e ressuscitando. Ele se entrega! Percebe esse padrão de autoridade de Cristo? O padrão Cristo-referente é um padrão de uma liderança e de uma autoridade sacrificial. Uma liderança humilde. E é dessa forma que a gente assume a nossa autoridade; através do auto sacrifício. Observe que na perícope anterior[3], Paulo afirma que o marido claramente possui autoridade, como o cabeça da mulher. Mas, como o marido exerce essa autoridade? Através do auto sacrifício. Ele deve dar a vida por sua esposa, assim como Cristo deu a vida pela igreja. E na perícope imediatamente seguinte ao nosso texto[4], diz claramente que os senhores são autoridade sobre os servos. Mas, como os senhores exercem essa autoridade Cristo-referente? Sabendo que tanto eles como os servos possuem um Senhor nos céus. Ou seja, a autoridade sacrificial e Cristo-referente compreende que a autoridade que possui é uma autoridade delegada. Ela não significa que somos melhores do que nossas esposas, nossos filhos e servos. Mas, todos temos o mesmo Senhor nos céus, e somos igualmente submissos a ele. Além disso, ainda no versículo 1, nós também observamos a expressão “pois isto é justo”.

“pois isto é justo”

Os filhos devem obedecer aos pais, porque essa é uma ordem do próprio Deus, porque é um princípio natural da ordem criacional e porque é o padrão de viver conforme o evangelho. Além disso, os filhos também devem obedecer aos pais, “pois isto é justo”. Esse vocábulo - “justo” - aparece apenas uma única vez aqui, na carta aos efésios. Porém, o mesmo autor, utilizou essa palavra várias vezes em seus escritos.

Esse é o mesmo vocábulo utilizado por Paulo em Romanos 1.17: “O JUSTO viverá pela fé”. Se você voltar algumas páginas da sua Bíblia, em Gálatas 3.11, Paulo também usa essa mesma palavra, para praticamente repetir o que ele disse em Romanos: “É evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o JUSTO viverá pela fé”. Nos textos em que Paulo utiliza esse mesmo vocábulo, me parece que ele está se referindo a um padrão moral, que reflete a justiça do próprio Deus. A ideia é de que essa expressão carrega em si uma natureza moral de certo ou errado. Em alguns textos, como em Filipenses 1.7, me parece que essa palavra “justo” poderia facilmente ser traduzida pela palavra “certo”. “É justo que eu assim pense a respeito de vós”. Seria o mesmo que afirmar: “É certo que eu assim pense a respeito de vós”. Em Filipenses 4.8 nós lemos: “Tudo o que é justo, tudo o que é puro”. Em Colossenses 4.1 Paulo diz: “Senhores, tratai os servos com justiça”.

Poderíamos citar muitos outros textos, mas fica claro que o uso habitual de Paulo desse vocábulo está ligado a uma espécie de evidência de caráter. O caráter de alguém que faz o que é certo, porque reflete a justiça do próprio Deus. Em outras palavras, se você quiser conhecer o caráter de alguém observe a maneira como ele trata os pais. E isso se aplica não apenas aos filhos pequenos, que devem obedecer aos seus pais. Lembra da crítica que Jesus faz aos mestres da lei[5], que criavam regras e acrescentavam à lei para negligenciar o cuidado com os pais? Os pais necessitavam de ajuda financeira e, ao invés de ajudar os pais financeiramente, eles diziam que aquele dinheiro era CORBÃ, ou seja: um dinheiro oferecido a Deus. Mas faziam isso como uma desculpa para negligenciar o cuidado com os pais. Quer conhecer o caráter de alguém? Veja a maneira como essa pessoa obedece aos pais; mas também se essa pessoa honra os seus pais. O texto está dizendo: Filhos, obedeçam aos seus pais, porque isso é o certo a se fazer. Porque a obediência aos pais reflete o caráter de Deus. E porque isso é algo expresso na própria lei de Deus. É o que Paulo enfatiza, nos versículos 2 e 3: “Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra”.

“Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra”

Imediatamente fica claro que Paulo está citando aqui o decálogo. E, apesar de conhecer os Dez Mandamentos, e normalmente fazermos referência a eles. Alguns podem querer argumentar que eles fazem parte do Antigo Testamento, e por isso eles estão ultrapassados. Já ouviu algo parecido com isso? Mas, a referência feita por Paulo aqui deixa claro que isso é uma falácia. Os Dez Mandamentos continuam sendo válidos, como lei moral estabelecida por Deus. E os Dez Mandamentos podem, e devem, perfeitamente ser compreendidos como graça de Deus, assim como fica claro por meio do evangelho de Deus. Não temos espaço para argumentar sobre esse tema tão importante, e às vezes complexo, que é a relação entre lei e graça. Mas, fica claro para nós aqui que, respeitando as suas peculiaridades, essas não são duas coisas auto excludentes. Existe graça na lei, e existe lei na graça. No sentido de que a graça de Deus não é sinônimo de antinomismo ou libertinagem (a graça não exclui a lei). E a lei de Deus não é sinônimo de legalismo (a lei não exclui ou invalida a graça). E, assim como vimos que a obediência reflete um caráter moral, porque “isso é justo”; a própria lei moral é a descrição perfeita desse caráter moral. Que continua perfeitamente sendo válido, de acordo com Paulo. Ou seja, os filhos devem honrar seu pai e sua mãe.

É interessante que Paulo enfatiza que esse é o primeiro mandamento com promessa, para depois descrever a promessa: “Para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra”. É claro que a obediência não deve ser apenas com segundas intenções. A obediência deve ser simplesmente porque esse é um mandamento do Senhor. Porque somos chamados para refletir o caráter moral justo do próprio Deus. Porém, Paulo enfatiza que esse é um mandamento com promessa. Paulo poderia apenas citar e concluir o texto descrevendo a promessa, mas antes disso ele enfatiza que esse é o primeiro mandamento com promessa. Justamente para deixar claro, que existem bênçãos atreladas a obediência. É claro que Paulo não está propondo uma espécie de barganha aqui, do tipo: “olha, mesmo sem querer obedecer faça isso porque você vai ganhar algo em troca”. A ideia não é obedecer, apenas com segundas intenções. Antes, apontar para o fato de que os filhos só têm a perder com a desobediência. A desobediência carrega em si uma consequência. Se obedecer, tudo te irá bem, e serás de longa vida sobre a terra. Já pensou no contrário? Se não obedecer, tudo te irá? Como será sua vida, se você desonrar os seus pais? Perceba que a ideia aqui não é obedecer pensando em ganhar alguma coisa em troca. E, também, não é desobedecer apenas porque você tem medo das consequências. O ponto é justamente demonstrar a seriedade do que significa a obediência aos pais. Percebe isso? Ao ler esses versículos fica claro que a nossa relação com os nossos pais não é a mesma relação de um colega, ou com alguém qualquer. A relação de filhos com seus pais está num patamar muito mais elevado, e é tratado com muita seriedade por Deus. E esse é um ponto muito importante, e muito negligenciado em nossos dias. Percebe como o mundo tem lutado, com unhas e dentes, para desconstruir o conceito de família? Para descredibilizar; destruir os pilares da família, do casamento, da paternidade e da maternidade? Acontece que isso é algo inerente à pessoa humana e à humanidade. Eles podem tentar destruir ou desacreditar a família, mas Deus trata a família, o casamento, a paternidade e a maternidade com muita seriedade. Deus colocou a paternidade e a maternidade num nível extremamente elevado. O casamento é algo de uma importância mais profunda do que podemos imaginar, apesar de toda a tentativa do mundo ateu em criar uma narrativa que desacredite a família. O mesmo princípio podemos aplicar em relação a maternidade e a paternidade. A sociedade pode militar para as mulheres ficarem cada vez mais tempo fora de casa. A sociedade pode militar para que as mulheres tirem a vida dos seus próprios filhos no ventre, porque filhos são atraso de vida. Pais podem negligenciar a sua responsabilidade de assumirem os seus filhos. Mas, você imagina o resultado disso? O resultado é o que observamos ocorrer constantemente. Homens e mulheres sozinhos, sem sentido para a vida, sem propósito. Com muito dinheiro na conta, mas com corações vazios. Em outras palavras, Paulo está dizendo: “dê importância para o que Deus dá importância”. E Deus dá importância para a paternidade, para a maternidade, para a família. Família é coisa séria; é solo sagrado. Valorize a sua família! Defenda a sua família! Filho, honre teu pai e tua mãe! Não despreze os seus pais! Não envergonhe os seus pais! Valorize os seus pais! E, como o imperativo (a ordem) de Paulo é para que os filhos obedeçam aos pais; logo, a desobediência é uma forma de desonra.

Paternidade e Maternidade à luz do evangelho

“E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. (4)

Até aqui, apesar de observarmos nos versículos anteriores alguns princípios que se aplicam não apenas aos filhos, mas também aos pais, o foco de Paulo era a ordem dada aos filhos. Os filhos são chamados a obedecer aos seus pais, e Paulo apresenta as razões disso. Agora, o foco de Paulo é voltado diretamente aos pais. Assim como Paulo fala que não são apenas as esposas que devem ANDAR como imitadoras de Deus no casamento, mas também os maridos. Assim como Paulo fala que não são apenas os servos que devem ANDAR como imitadores de Deus, mas também os senhores. Da mesma maneira, não são apenas os filhos que devem ANDAR como imitadores de Deus em obediência aos seus pais. Os pais, da mesma forma, devem ANDAR como imitadores de Deus, em sua relação com seus filhos.

O que vemos nesse versículo é o que poderíamos chamar de paternidade e maternidade Cristo-referente, que reflete o ANDAR de uma nova humanidade em Cristo. É claro que nós observamos várias maneiras de nutrir uma paternidade e uma maternidade bíblica, ao longo de toda a Escritura. Entretanto, esse é um dos principais textos, nesse sentido. Isso porque é um texto normativo e epistolar, além do fato dele estar inserido num contexto que trata diretamente sobre o assunto de viver o evangelho na prática. E porque ele resume bem a nossa missão como pais. Observamos aqui mais um contraste, como Paulo faz de maneira recorrente nessa carta. Esse contraste fica muito claro pelo uso que ele faz de uma preposição que significa: “pelo contrário”; que foi traduzida na versão ARA[6] por “mas”. E o contraste é entre o que NÃO FAZER e o que DEVEMOS FAZER. Ele diz: “Não provoqueis vossos filhos à ira”. Ao invés disso – e vem a ordem do que fazer - “Criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. Observe esse contraste, que traz um imperativo, uma ordem negativa e outra positiva. A nossa missão como pais envolve uma ação que deve ser colocada em prática: “criar os nossos filhos na disciplina e na admoestação do Senhor”. Assim como ações que devemos evitar:

“Pais, não provoqueis vossos filhos à ira”

Um ponto importante, para deixar claro diante de tudo o que temos falado, é que eu e você não somos expert nesse assunto e tarefa. Deus é o expert nesse assunto. E devemos ser gratos pela Palavra dele, que tem nos guiado e direcionado, e pela graça dele em nossas vidas. Como uma palavra de encorajamento, o fato de sermos pais faz com que cresçamos muito, como casal, em nossa própria caminhada com o Senhor. O fato de sermos pais faz com que nos tornemos mais dependentes de Deus, e nos impulsiona a orar, para que ele nos ajude. Estou dizendo isso porque muitas vezes criamos um estereótipo e seguimos um ideal quase inalcançável de educação, e, por isso, nos sentimos frustrados. É claro que sempre será mais fácil para alguém que está de fora, criticar e criar um estereótipo de educação perfeita. É muito mais fácil falar sobre educação de filhos, do que de fato educar. Sempre será mais fácil seguir páginas no Instagram, sobre educação de filhos, e idealizar a educação perfeita. Mas, o que temos que ter em mente é que todo o nosso esforço não é o suficiente. E, por isso mesmo, não devemos viver como se tudo dependesse de nós, e de que podemos por nós mesmos dar conta da educação dos nossos filhos. Somos responsáveis e devemos nos esforçar ao máximo sim, mas sabendo que em última instância é Deus quem nos sustenta. Paulo está tratando do tema da educação de Filhos, mas depois de ter fundamentado a obra de reconciliação de Cristo e enfatizado a graça de Deus, em fazer por nós o que jamais poderíamos fazer por nós mesmos. Ele está falando sobre educação de filhos, porém, ele faz isso numa esfera do evangelho da graça de Deus. E graças a Deus que nos concede sua graça, nos capacitando como pais e mães.

Em contrapartida, não devemos negligenciar a nossa responsabilidade. O que fica claro nesse texto é que Deus trata esse assunto com muita seriedade. Que existe um aspecto missional da maternidade e da paternidade. Somos chamados a levar isso a sério, e cumprir esse chamado de educar os nossos filhos, na disciplina e admoestação do Senhor. Minha palavra de encorajamento para os leitores é: não pense que esse é um assunto que pode ser tratado mais para a frente, ou que esse não é um assunto tão importante. Não tenha preguiça de educar os seus filhos. Tenha isso como uma prioridade. Assuma a sua responsabilidade. Coloque isso como uma missão, como de fato é. O fato é que você acabará educando de qualquer maneira; mas, qual é o padrão de educação dos seus filhos? Será que é o padrão do evangelho, de educação intencional “no Senhor”, como Paulo diz aqui? Nós temos que assumir a nossa responsabilidade e tratar esse assunto com a seriedade que Deus trata.

O contraste do texto tem algo em comum, que é a educação, a disciplina dos filhos. Podemos pensar que a ordem de Paulo, de não provocar a ira dos filhos, pode estar meio desconexa do assunto. Mas, uma vez que ele está tratando da responsabilidade dos pais na educação dos filhos, como uma maneira de ANDAR como imitadores de Deus, isso implica que existe uma responsabilidade inerente a ordem criacional, que envolve a educação de filhos. Mais uma vez, me parece que Paulo tem em mente a lei de Deus e o padrão de Deus na criação, ao determinar as relações familiares e na sociedade. Em outras palavras, é como se Paulo estivesse dizendo que é natural que os pais disciplinem os seus filhos, uma vez que os filhos nascem com um coração insensato. A disciplina é uma ferramenta natural de correção, que visa corrigir a insensatez do coração da criança.

Quando Paulo diz: “Pais não provoquem os seus filhos a ira, mas antes criem-nos segundo a disciplina e a instrução do Senhor”, ele está afirmando que a disciplina física e a instrução caminham juntas. A ideia de Paulo é a de que os pais devem criar os seus filhos pela ação e com educação, pela palavra. Esse é o modelo bíblico. O modelo bíblico envolve tanto a instrução, quanto correção; envolve tanto conselho, quanto disciplina. No livro de Provérbios nós encontramos um vocábulo muito importante, shebet, que traduzida do hebraico, significa vara. Não temos como passar por todos os textos, onde essa palavrinha é usada no livro de Provérbios; mas em textos como o de Provérbios 13.24 e 22.15, Salomão diz que, de alguma forma, as crianças nascem com o coração cheio de insensatez. Você percebeu que seu filho não nasceu uma pessoa sábia, que faz boas escolhas? Nossos filhos nascem com um coração insensato, propenso a fazer escolhas ruins. Propenso ao egoísmo, propenso a querer fazer as coisas do jeito dele, no tempo dele e que se ira profundamente quando as coisas não acontecem do jeito dele. É duro de ouvir, mas é real. Se você tem um filho com mais de uma semana de vida, você já o viu profundamente irado contra você. E não há dúvidas que se ele tivesse força suficiente, não tendo sabedoria, mas tendo um coração cheio de insensatez ele, provavelmente, te espancaria. Salomão está dizendo que a insensatez está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a livrará dela.

O ponto do nosso texto é que Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, talvez esteja entre a minoria dos autores antigos que desaprovam a disciplina excessivamente severa (6.4). A sociedade greco-romana era extremamente severa com os filhos. O filho só seria aceito como personalidade civil no instante em que o pai o reconhecia oficialmente. Até que isso acontecesse era possível abandonar o bebê ou, se ele fosse deformado, até matá-lo. Mas, tanto os primeiros cristãos como os judeus se opunham unanimemente, tanto ao aborto como ao abandono de recém-nascidos. Em Provérbios 23.13-14, por exemplo, observamos um vocábulo que foi traduzido por sepultura, que é a palavra sheol, muitas vezes também traduzida como inferno. A ideia de Salomão é que, ao disciplinar os nossos filhos com a vara, nós não corramos o risco de matar fisicamente nossos filhos (justamente porque a disciplina não é uma surra). Ao mesmo tempo, a vara é uma ferramenta para reorientar o coração da criança. Para tirá-la de um caminho de rebeldia, e a colocarmos de volta num caminho de submissão, onde ela estará mais propensa a ter o coração aberto para a Palavra de Deus. Basicamente, o texto apresenta um padrão de que a correção física é uma ferramenta para afastar a insensatez do coração da criança, preparando a criança para receber a instrução da Palavra de Deus. E não apenas uma forma de extravasar a ira dos pais, batendo na criança. Infelizmente esse é um ponto extremamente controverso e mal compreendido. Para muitos pais a disciplina é sinônimo imediato de surra, ameaças, discussão; além de outros que tentam “comprar” a obediência dos filhos, ou negligenciam a disciplina em nome de uma pretensa igualdade que exclui a autoridade dos pais:

Surra

Infelizmente, é senso comum associar a disciplina, como sinônimo de surra. Precisamos deixar claro que a disciplina bíblica requer o uso da vara, mas isso é completamente diferente de surra. Inclusive, pessoalmente penso que não deveríamos nem ao menos fazer uso da expressão “bater” nos filhos. Nós não batemos nos nossos filhos, mas os disciplinamos, o que é completamente diferente. Lembro-me de um professor meu do seminário, que inclusive passou por uma situação difícil junto ao conselho tutelar, na escola onde sua filha estudava, e o termo que eles usavam foi o que o salvou de um grande problema. A representante do conselho tutelar perguntou se ela apanhava dos seus pais, ou se os pais batiam nela. A resposta da menina foi não, uma vez que eles utilizavam a expressão corrigir, para o uso da vara. Surra não é o caminho que Deus espera de nós, como um meio de disciplina na criação dos nossos filhos. Pegar ele pela orelha e sair arrastando não é o caminho da disciplina bíblica. Bater com a tua mão no teu filho, e indiscriminadamente, não é o caminho da disciplina bíblica. Disciplina não é sinônimo de espancamento, ou um meio de extravasar a nossa ira. A Bíblia não nos manda dar surras em nossos filhos, mas discipliná-los pelo uso sensato e amoroso da vara.

Mentiras e ameaças

Alguns pais tentam manter os filhos “na linha” e manipular o seu comportamento, por meio de ameaças. Para demonstrar a sua autoridade, ou quando desejam que os filhos façam algo, esses pais ameaçam os seus filhos. Essas ameaças podem ser de correções físicas ou perda de algum benefício. E, na maioria das vezes essas ameaças são mentirosas, o que agrava ainda mais o problema. Ameaças do tipo: “se você não me obedecer, você nunca mais vai assistir jogar vídeo game!”. É óbvio que os pais não cumprirão essa promessa, de não deixar mais os filhos jogarem vídeo game para o resto da vida. Pais que querem conquistar a obediência dos filhos através de mentiras. Por exemplo, para fazer com que o filho não entre em determinado lugar dizem: “cuidado! Não entre naquele lugar, porque lá mora um monstro, um ‘bixo-papão’!” São pais que almejam evitar algum comportamento errado do filho, ou impor uma obediência, mentindo para ele. Esse tipo de disciplina negligencia o princípio bíblico de “disciplina do Senhor”, que possui como fundamento a verdade e a justiça de Deus.

Discutir com a criança de igual para igual

Uma outra maneira equivocada de disciplina é discutir e debater com o filho, como se a relação entre pais e filhos, como já vimos, fosse uma relação entre iguais. Pais e filhos não devem debater entre si, como se possuíssem a mesma autoridade. Ao debater com os filhos, os pais se colocam no mesmo nível que eles; mas, como vimos, Deus não os colocou no mesmo nível deles. Os pais possuem autoridade de Deus sobre seus filhos. Os filhos devem ouvir a ordem dos pais, e simplesmente obedecer àquilo que os pais dizem, como um chamado de Deus. O mesmo se aplica as melhores escolhas para os filhos. Não deve ser dada ao filho, principalmente na tenra infância, a autonomia para decidir sobre todas as coisas, mesmo àquelas menores, como a escolha do que vestir e o que comer. Tal liberdade caminha junto com a capacidade para assumir responsabilidades.

Disciplina como moeda de troca

Alguns pais abandonam a disciplina bíblica, e tentam conquistar a obediência dos filhos oferecendo a eles algum tipo de benefício em troca, como uma espécie de suborno. Esses pais não querem ter trabalho ao disciplinar os seus filhos, e procuram “comprar” a sua obediência. É muito comum nos depararmos, em lojas e supermercados - com crianças fazendo ‘birra’, esperneando e se jogando no chão – e os pais dizem: “filho, se você parar com isso e me obedecer ganha um brinquedo”. Pais que tentam lidar com os filhos oferecendo a eles algo em troca estão negligenciando a sua responsabilidade, e distantes do modelo bíblico de disciplina. Esse tipo de disciplina despreza o princípio bíblico de autoridade dos pais, sobre os filhos. Além disso, tal atitude demonstra preguiça e negação da responsabilidade dos pais.

Amizade em detrimento da autoridade

Outra maneira equivocada de disciplina é a ideia de que os filhos devem ver os pais como amigos, antes de vê-los como autoridades. Observamos muitos pais que querem ser muito “legais” e “descolados”, desejando alcançar o status de melhores amigos dos filhos. É óbvio que existe um lugar para a amizade entre pais e filhos, mas essa amizade não consiste numa relação entre iguais. Tal amizade vai ganhando novas formas à medida em que os filhos vão amadurecendo, e passando pelas diversas fases do desenvolvimento humano. Chegará um momento em que haverá de fato uma amizade mais sólida entre vocês. Essa amizade será desenvolvida, mas ela é secundária. O primeiro relacionamento, entre pais e filhos, precisa ser um relacionamento de autoridade e não de amizade. Uma relação saudável entre eles é fruto da autoridade bíblica dos pais, e da submissão bíblica dos filhos. Infelizmente, em nome de uma pretensa amizade muitos pais deixam de exercer a sua autoridade. Consequentemente, os filhos passam a arrogar para si uma autoridade indevida, visto que não existe espaço vazio para o “poder”. Ainda que exista certo poder relacionado a autoridade dos pais, este poder é delegado por Deus e representativo. Aos pais, visto serem naturalmente mais sensatos e capazes de assumirem responsabilidades, foi delegada a autoridade. Como fruto desse desequilíbrio, de filhos assumindo o poder diante da omissão de pais, em nome de uma pretensa amizade “de igual para igual”. Os filhos passam a agir como tiranos (visto que são desprovidos da sensatez requerida para assumir responsabilidades) e os pais se veem cada vez mais desesperados por perderem o controle da própria vida e família. Enquanto as crianças e adolescentes decidem o que a família vai comprar, para onde ir e o que comer, os pais estão mais desorientados do que nunca. É inerente aos filhos, especialmente na tenra infância, a necessidade de se estabelecer limites, pois eles proporcionam a segurança necessária para o desenvolvimento da criança. Os pais que buscam a “amizade” dos filhos em detrimento de sua autoridade, acabarão por perder a autoridade e a amizade, de filhos que crescerão rebeldes e desprotegidos, e que naturalmente se revoltarão contra aqueles que desprezaram o seu cuidado representativo.

Diante do exposto, podemos afirmar que correção com vara não é espancamento; não é o castigo apenas pelo castigo. Pelo contrário, disciplina nas Escrituras é sempre uma ferramenta de correção amorosa, que visa o arrependimento e a mudança daquele que é corrigido. A disciplina é uma ferramenta que visa o preparo do coração da criança, para receber a instrução, a educação da Palavra de Deus. E esse é justamente o mandamento, imperativo do texto, o que se deve fazer:

“criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”

É interessante que o vocábulo que Paulo utiliza aqui, e que foi traduzido para CRIAI-OS, se lido mais literalmente ele tem a ideia de ALIMENTAI-OS. A ideia de NUTRIR, ou mais bem aplicada, também pode ter o sentido de PROVER O SUSTENTO. É claro que a paternidade e a maternidade envolvem a provisão de nutrição e sustento dos filhos, mas a questão é que isso deve ser feito na disciplina e na admoestação do Senhor. Muitos pais interrompem a leitura apenas na primeira parte do versículo. Acreditam que dando o que comer, o que vestir, onde morar, isso já é suficiente. É óbvio que essas são questões inegociáveis e fundamentais, na criação de filhos. Os pais devem prover para os filhos um ambiente de segurança, cuidado, sustento, proteção. E, nesse sentido, é fato que muitos pais pecam em não assumir uma paternidade sacrificial e servil. Esse é um dos principais argumentos daqueles que são contrários a multiplicação da família. O argumento é o mesmo de sempre: “filhos dão muito gasto”. Alguns não falam isso abertamente, mas apresentam argumentos que partem do mesmo princípio. E, de fato, filhos exigem de nós abnegação, empenho, cuidado. Filhos necessitam o mínimo de desprendimento e empatia. Mas, infelizmente muitos pais não querem renunciar a uma vida egoísta e autocentrada. Pensam apenas em satisfazer os seus deleites e vontades pessoais, mas não pensam no que é o melhor para a família. E isso principalmente em tratando-se de planejamento financeiro, cuidado e provisão pessoal. Em outras palavras, é claro que as coisas mudam financeiramente quando os filhos nascem. E o cuidado familiar vai exigir de nós maior abnegação. Porém, ao contrário do que muitos dizem, isso não é perder, e não deve ser visto como uma derrota, ou como um dinheiro perdido. Pelo contrário, o cuidado familiar é um dos maiores e mais nobres investimentos. E, esse sentido, temos que pensar que a nossa maneira de lidar com o dinheiro deve ser uma maneira santa, e que glorifique a Deus. A instrução bíblica nos apresenta uma visão equilibrada a respeito do dinheiro e das finanças. É claro nas Escrituras que o nosso coração não deve estar no dinheiro, como um ídolo que nos impede de exercer a generosidade, a dependência de Deus. É indiscutível que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Em contrapartida, a mesma Escritura nos apresenta uma visão equilibrada, que não nos leva para um outro extremo afirmando que devemos fazer voto de pobreza, para glorificar a Deus. A solução bíblica para o amor ao dinheiro não é uma ‘teologia franciscana’ de apologia à pobreza. Alguns podem dizer: “eu sou mais espiritual, porque não penso em dinheiro”; e ao mesmo tempo estar pecando por negligência quanto as suas responsabilidades no cuidado com a família. É o caso da igreja em Tessalônica, em que Paulo exorta os ociosos, que estavam deixando de trabalhar e, consequentemente, interferindo no cuidado familiar de outros irmãos daquela comunidade[7]. A exortação de Paulo para aquela igreja nos fornece uma visão equilibrada, e afirma que existe uma maneira santa e responsável de pensar e de lidar com o dinheiro. Essa maneira envolve a generosidade, a gratidão a Deus e o cuidado familiar. Glorificamos a Deus quando planejamos e pensamos a respeito do dinheiro sim; não deve ser nos levar a colocar o nosso coração nas riquezas desse mundo, mas para exercer a generosidade e prover para a nossa família, através do trabalho. Ou seja, num primeiro momento essa afirmação de Paulo (‘criai-os’) deixa claro que criar filhos envolve cuidados básicos de provisão, segurança, saúde. E é óbvio que, para isso, muitas você vai ter que desistir de pensar apenas em você, suas roupas, smartphones, carros, maquiagens, viagens etc.; e isso é bom. Isso faz parte da criação dos nossos filhos: a provisão financeira, cuidados, educação, segurança, saúde etc. Entretanto, não se deve educar filhos como quem cria animais. Na verdade, hoje em dia vemos muitos pais que criam melhores os seus animais, do que educam os seus filhos. No entanto, o texto nos ensina que criar filhos vai muito além do que apenas prover o sustento deles. A criação dos filhos deve ser feita na admoestação e na disciplina do Senhor. E os vocábulos utilizados por Paulo, e que foi traduzido para DISCIPLINA e ADMOESTAÇÃO são riquíssimos para o nosso aprendizado.

Não temos espaço para observá-los a fundo, mas o texto original traz dois vocábulos interessantes: Paideia kai nouqesia [paideia kai noutecia]. PAIDEIA carrega o conceito de uma educação para a vida, de uma educação ligada a formação da pessoa; uma espécie de educação integral. NOUTESIA vem da raiz NOUS, que significa mente, colocar na mente. A ideia aqui é de que a educação é algo mais profundo, que envolve a formação da criança como um ser humano total/integral, que envolve coração, inculcar, colocar na mente.

Além disso, a educação e a instrução são DO SENHOR. Ou seja, fica claro nesse texto que a ferramenta de formação da criança é a vontade de Deus expressa em sua Palavra. É a Palavra de Deus aplicada ao coração da criança; aplicada a formação dela como um todo. Em outras palavras, ser pai e mãe é muito mais do que prover o sustento. A paternidade e a maternidade são missionais; é uma vocação. Somos chamados para pastorear o coração dos nossos filhos, numa educação que visa o coração deles, e que tem como objetivo a formação deles na justiça. E a pergunta é: você tem proporcionado para os seus filhos um lar, um ambiente seguro; tem dado o que vestir, alimento, proteção? Além disso: você tem pastoreado o coração dos seus filhos? Você encara a sua maternidade e a sua paternidade como um peso, uma perda de tempo, e você acha que colocar comida na mesa já é o suficiente? Ou você entende que, acima de tudo, você foi chamado por Deus para ser pai e mãe dos seus filhos? Você entende a sua paternidade e a sua maternidade como uma missão? Sabendo disso, você tem caminhado com os seus filhos? Não apenas no sentido de levá-los ao shopping, ou levá-los para passear; mas você tem discipulado os seus filhos? Você tem pastoreado o coração deles? Você tem se preocupado, de fato, com o crescimento espiritual deles? Qual o conceito de riqueza para você? Como isso tem afetado a educação dos seus filhos? Aprendemos com esse texto que seguimos o modelo de Jesus, como pais e filhos, quando caminhamos como imitadores de Deus. E uma das maneiras de educar os nossos filhos é por meio da instrução deles na Palavra de Deus, que visa o coração da criança e a formação dela na totalidade do seu ser.

[1] Efésios 2. 13-16

[2] Efésios 1.20

[3] Efésios 5.22-33

[4] Efésios 6.5-9

[5] Marcos 7.9-12

[6] Almeida Revista e Atualizada

[7] 2 Tessalonicenses 3.6-12: “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes;7 pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém imitar-nos, visto que nunca nos portamos desordenadamente entre vós,8 nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós;9 não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes.10 Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma.11 Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia.12 A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranquilamente, comam o seu próprio pão”.

As Escrituras

Dia 4

Sobre este Plano

Discipulado da Família

Qual a sua definição de riqueza? Qual o seu estereótipo de sucesso e realização? Em nome da busca pela riqueza, muitos acabam desprezando (ou deixando para segundo plano) o seu relacionamento com Deus e a importância da família. O assunto desse plano de leitura é de extrema importância, quando pensamos sobre o contexto da família. Veremos o que a Escritura tem a nos dizer sobre o casamento, a sexualidade, a administração dos nossos recursos, a educação dos filhos etc, à luz do evangelho.

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Gostaríamos de agradecer ao Danilo Paixão por fornecer este plano. Para mais informações, visite: https://www.instagram.com/danilo.paixao_/