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Discipulado da Família

DIA 2 DE 5

O Casamento e a Nova Vida em Cristo – O Fundamento Cristológico da Vida Conjugal

Ao refletirmos a respeito do casamento, precisamos considerar que um casamento não passa a ser válido apenas após o sacrifício de Jesus na cruz, ou apenas após a conversão dos cônjuges. Ou seja, o casamento foi estabelecido por Deus não apenas para a igreja, mas para a criação do homem e da mulher. Sendo assim, se quisermos pensar sobre os fundamentos da aliança do matrimônio temos que recorrer ao Gênesis, e ao padrão de Deus estabelecido na sua criação, reiterado na própria lei de Deus. E ainda que o casamento tenha sido diretamente afetado pelo pecado do primeiro casal e pela queda da humanidade, os fundamentos do casamento não foram invalidados ou descontinuados. Prova disso é que, mesmo após a queda, e ainda considerando os termos da nova aliança e o progresso da revelação, o próprio Senhor Jesus refere-se ao Gênesis para estabelecer os fundamentos do casamento, além de reiterar a própria lei veterotestamentária[1]. Os apóstolos fizeram o mesmo, ao reafirmar os fundamentos legais e criacionais do casamento, a fim de determinar as relações do matrimônio de maneira normativa e neotestamentária[2].

Entretanto, a nova vida em Cristo não possui um caráter meramente subjetivo. Ou seja, a conversão não diz respeito apenas a uma mudança interna. Pelo contrário, a nova vida em Cristo Jesus afeta e ressignifica significativamente todas as coisas; desde a cosmovisão do homem, os seus valores, os seus princípios éticos e morais, as suas escolhas, até mesmo a sua maneira de agir em seu novo status existencial, dentre as quais as suas relações interpessoais. Isso significa que a nova vida em Cristo implica em viver o caráter de Cristo, dentre todas as coisas, também no casamento. Em outras palavras, a nova vida em Cristo não modifica ao ponto de validar o casamento, mas o ressignifica ao ponto de aproximá-lo de seu objetivo primário estabelecido na criação, mesmo depois de manchado pelo pecado: a aliança perfeita entre um homem e uma mulher, manifestando visivelmente a comunhão entre ambos, e de ambos com o próprio Criador, em adoração. Uma comunhão que transcende a união física e de ânimo, mas que alcança uma comunhão espiritualmente mais elevada, que está reservada apenas para aqueles que estão em Cristo Jesus[3]. Dessa forma, o matrimônio pode ser ainda mais capaz de refletir, de maneira análoga, a comunhão do próprio Cristo com a igreja.

O casamento é uma bênção de Deus para a criação. No casamento desfrutamos de companheirismo, amizade, deleite. Tudo o que Deus fez é bom. Por isso, ainda que seja cada vez mais descredibilizado, o casamento é algo muito bom. Porém, sabemos que, assim como todos os aspectos da criação, o casamento também foi afetado pela queda. O que nos impede de desfrutar o máximo de nossas potencialidades, pretendidas por Deus na criação. Sendo assim, existe uma nova vida em Cristo. Uma nova criação que, consequentemente, nos permite redimir todos os aspectos da criação, inclusive o casamento. A nova vida em Cristo pode nos fazer experimentar uma nova vida conjugal. Os reflexos da nova vida em Cristo podem, e devem, ser experimentados no casamento.

O casamento e a nova vida em Cristo

A possibilidade de uma nova vida em Cristo

A igreja em Colossos, como qualquer outra igreja, também estava sujeita a deturpações da verdade. E era justamente o que poderia ocorrer naquela igreja. Havia ali um perigo iminente de deturpação da fé genuína, resultando na má compreensão da identidade cristã, e que tinha um potencial destruidor da igreja. Por isso, Paulo escreve para alertar aqueles irmãos a respeito do cuidado que eles deveriam ter, em relação a esses ataques contra a verdade de Deus. Essas heresias precisavam ser combatidas. Caso contrário, aquela igreja que até então demonstrava produzir frutos de ser uma igreja saudável, poderia se afastar de ser uma genuína igreja cristã.

A síntese dessa heresia pode ser observada no capítulo 2, versículos 16 a 19[4]. O problema era basicamente duplo. Pelo que fica evidente ao longo da epístola, existiam pelo menos dois grupos dentro daquela igreja, que brigavam entre si por causa de diferentes definições a respeito da verdadeira fé. Havia ali um grupo mais legalista e um outro grupo mais místico. Um grupo que ainda mantinha um apego a usos, costumes, tradições e práticas judaicas; práticas essas que estavam sendo exigidas por esse grupo, mesmo vivendo na nova aliança (eles eram legalistas). Por outro lado, havia ali um outro grupo que defendia uma visão mais mística de mundo, exigindo culto aos anjos e baseando-se em possíveis “visões” (uma heresia possivelmente vinda do mundo greco-romano[5]). Duas cosmovisões deturpadas do cristianismo entraram na igreja e estavam minando o evangelho da verdade. Apesar das diversas análises dos pormenores dessa heresia, podemos destacar pelo menos dois grandes aspectos dela: uma cosmovisão judaica legalista, atrelada ao cristianismo, e, também, uma vertente de cosmovisão mística religiosa, talvez própria do mundo greco-romano.

Diante desse cenário, quais são os parâmetros de Paulo para combater essas heresias? Como aqueles crentes de Colossos poderiam ter certeza de que a sua fé era verdadeira, diante dessas deturpações da verdade do evangelho? Da mesma maneira, como nós podemos ter certeza da veracidade da nossa fé? A resposta de Paulo é clara e precisa: a centralidade e a supremacia de Cristo. Sendo assim, podemos afirmar que a epístola de Paulo aos colossenses é essencialmente cristológica. Paulo apresenta a excelência da pessoa e da obra de Cristo, e as implicações disso para a vida cristã. Ele fala sobre a pessoa e sobre a obra de Cristo, e sobre como essa verdade pode definir quem o cristão é; ou seja, a sua identidade. Consequentemente, isso influenciaria sobre a sua nova maneira de viver.

É justamente dessa maneira que a carta está organizada. Paulo inicia a carta com uma introdução e termina com um encerramento. O corpo da carta, por sua vez, está dividido entre essas duas grandes partes: a confrontação daquelas heresias por meio da centralidade de Cristo, num primeiro momento; e a partir do capítulo 3 Paulo fala sobre as implicações da centralidade de Cristo para a vida cristã, para a nova vida dos crentes em Cristo Jesus. Em resumo, além do alerta sobre as heresias iminentes, que poderiam afastá-los desse ensino verdadeiro a respeito da pessoa, da obra de Cristo e da genuína fé cristã, - Paulo fala sobre a nova vida dos crentes em Jesus. A nossa perícope está justamente nessa segunda parte da carta, nesse contexto das implicações da centralidade de Cristo para a vida cristã.

Você já desejou viver algo novo? Você já sentiu que existe algo além do que a vida que você tem vivido? Esse parece ser um sentimento comum para muitas pessoas. Muitos desejam algo mais que os satisfaça. Sentem que a vida às vezes não faz muito sentido e gostariam de ir além. O que também se aplica ao casamento. Especialmente depois de alguns anos de casados, das lutas e das dificuldades inerentes a vida matrimonial. O casamento tende a cair na rotina, e muitos almejam viver algo novo em seu relacionamento. Outros procuram literalmente um novo casamento, contraindo uma nova relação “conjugal”. Ou então, se pudessem ao menos voltar a sentir o que sentiam nos primeiros anos de matrimônio, acreditam que já estariam muito satisfeitos. Nesse cenário, não é à toa que muitas empresas têm usado estratégias de marketing nesse sentido: “Viva o novo”! Já viu isso? Esse, infelizmente, acaba sendo o cenário ideal para surgirem os marketeiros da nova vida, das novas experiências e das novas sensações. Esse, infelizmente, acaba se transformando no cenário ideal para se estabelecer a cultura do divórcio, do sexo casual, da pornografia e da infidelidade conjugal. Esse texto nos fala sobre a possibilidade de viver uma nova vida, e consequentemente um novo casamento. Nós veremos aqui qual a intenção de Paulo ao escrever para aqueles irmãos colossenses. Além disso, esse texto também se aplica perfeitamente a nós. A palavra de Deus nos apresenta não apenas a possibilidade de uma nova vida, mas nos ensina como essa vida deve ser vivida. Essa nova vida não possui um caráter apenas futuro e escatológico, mas consiste numa nova vida que já pode ser desfrutada desde o presente, nessa terra. Uma vida de alegria, contentamento, satisfação, esperança. Uma nova vida infinitamente melhor do que as falsas propostas da promiscuidade sexual, dos vícios, das posses, do egoísmo narcisista. Uma nova vida de prazer real. Uma vida que faça sentido. Uma vida com um novo propósito. Mas, o nosso texto inicia com um pequeno “SE”.

O critério para a nova vida em Cristo

“SE fostes ressuscitados juntamente com Cristo” Colossenses 3.1

O texto parte do pressuposto de que somente aqueles que foram ressuscitados com Cristo poderão viver em novidade de vida. E o que fica claro nesse texto é que essa nova vida é muito mais do que uma mera mudança de estilo de vida. Essa nova vida é uma vida verdadeiramente nova. Não consiste em mera religiosidade. Não é apenas uma mudança de comportamento. Mas ela consiste numa mudança real e numa transformação interior. Podemos ler muitos livros ou ouvir palestras motivacionais sobre o relacionamento conjugal. Podemos ouvir pregadores dinâmicos que nos envolvem e que trazem princípios para serem simplesmente obedecidos superficialmente, visando uma mudança que se dá apenas num nível igualmente superficial, de comportamento. O que pode até dar certo por um tempo. Mas só dura até a próxima dose motivacional, como uma espécie de ansiolítico. Participar de programas de grande impacto emocional, palestras motivacionais, estratégias meramente comportamentais. Tudo isso parece ser bastante atrativo, principalmente quando estamos passando por alguma dificuldade. Mas o que precisamos, para experimentar de fato uma nova vida, é muito mais do que uma mudança de comportamento. A nova vida que Deus tem para nós é fruto de um novo nascimento. A nova vida que Deus tem para oferecer é como um transplante de coração. Ele retira um coração de pedra e nos dá um coração de carne. Muitos estão desejando uma nova sensação, uma nova aventura, uma viagem dos sonhos para “apimentar a relação”, quando o que eles necessitam é uma cirurgia, um transplante de coração. A nova vida que Deus nos oferece nos coloca numa nova posição em Cristo. Nos permite fazer parte da família de Deus e recebermos um Pai nos céus. Essa nova vida nos dá alegria, porque ela é supra circunstancial, e nos ensina a enxergar além dos problemas. Essa nova vida nos dá esperança, porque nem a morte poderá detê-la. Não é apenas uma nova vida, mas uma nova vida eterna. Porém, o texto começa com uma condicional “SE”, ou seja, somente poderão viver essa nova vida aqueles que “foram ressuscitados juntamente com Cristo” mediante a fé. A ressurreição de Cristo é a garantia de que aqueles que nele creem também ressuscitarão no futuro, mas já renasceram e desfrutam os efeitos dessa ressurreição no presente. Morrer e ressuscitar com Cristo mediante a fé, baseado na pessoa e na obra de Cristo, apresentada por Paulo nos primeiros capítulos dessa epístola, é a conditio sine qua non para experimentar essa nova vida, e, consequentemente, os aspectos dessa nova vida em seu casamento. Por isso, se você deseja viver essa vida nova que Deus tem a oferecer - e um casamento que desfruta de todas as potencialidades do evangelho, - você precisa se arrepender dos seus pecados e crer em Jesus como o Deus que se fez homem, morreu e ressuscitou para te tornar justo diante do Pai. Compreender que Jesus Cristo é o fundamento de toda a sua vida, inclusive do seu casamento. Só podem experimentar essa nova vida aqueles que estão em Cristo, porque ressuscitaram com ele. E a ressurreição com Cristo não é o fim. Ressuscitar com Cristo é só o início dessa vida nova. Viver com Cristo é viver em novidade de vida. Mas, talvez você esteja se perguntando: além de ser ressuscitar com Cristo pela fé, no que consiste essa vida nova com ele? O que significa ter Cristo como o fundamento de nossas vidas? Quais as implicações da nova vida em Cristo para o casamento?

As implicações da nova vida em Cristo para o casamento:

1) A prioridade de Cristo: o coração deve estar em Cristo acima de todas as coisas – amar a Cristo mais do que ao cônjuge

“Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.” (1-4)

Considerando toda a nossa perícope (3.1-17) nós podemos dizer que esse primeiro bloco de ideias resume a ideia central de Paulo. Esses versículos de 1 a 4 funcionam como uma espécie de dobradiça que resume o pensamento anterior de Paulo e orienta todo o restante do texto que virá pela frente. Esse bloco resume muito bem a ideia que Paulo vem desenvolvendo ao longo da carta. Como vimos, essa carta é iminentemente cristológica, onde Paulo fala sobre a supremacia da pessoa e da obra de Cristo. Ele faz uma oração por aqueles irmãos, além de tecer vários elogios àquela igreja. Vimos que Paulo se alegra em saber do bom procedimento deles. E alerta a igreja sobre o perigo do engano dos falsos ensinos. Basicamente, Paulo olha para uma igreja que está produzindo frutos e crescendo, e teme que a influência dos falsos ensinos pudesse afastar aqueles irmãos do verdadeiro evangelho.É por isso que nós podemos destacar o evangelho de Cristo como o DNA dessa carta. Em todo o tempo Paulo está falando sobre quem Cristo é, e o que ele fez por aqueles que creem em seu nome. Cristo nos libertou do império das trevas. Cristo nos deu a redenção dos nossos pecados. Cristo nos reconciliou. Cristo cancelou o escrito de dívida que era contra nós cravando-o na cruz. Nós fomos sepultados juntamente com Cristo, no batismo, e fomos ressuscitados mediante a fé no poder de Deus.

Agora, é interessante que o tempo todo Paulo faz uma relação entre aquilo que Cristo fez por nós, com aquilo que nós devemos fazer. Ele fala de uma nova posição (lembrando aqui a teologia paulina em Efésios) e um novo procedimento. A ideia é a de que nós fomos reconciliados com Cristo PARA algo. Fomos reconciliados, para que sejamos apresentados perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis (1. 22). No capítulo 2.6 Paulo diz: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim ANDAI nele”. Paulo está afirmando que nós não fomos salvos apenas para uma salvação futura: “olha, se você crê em Cristo você vai para o céu, e se você não crê você vai para o inferno, mas o que você faz nesse meio tempo não é tão importante”. Pelo contrário, não existe um gap, um espaço vazio, entre a nossa reconciliação e a nossa glorificação. Existe um tempo entre o momento em que somos salvos e o julgamento final, a volta de Cristo ou a nossa própria morte. Enquanto Cristo não volta, nós já devemos ANDAR como reconciliados. Devemos viver como filhos de Deus. Como alguém que foi criado em Cristo Jesus para as boas obras. Deus espera que façamos algo. Muitas vezes nós nos apoiamos na graça de Deus, para agir contra o próprio Deus da graça. Dizemos que “o importante é crer em Jesus e o resto não importa, porque sou salvo pela graça”. E qual é o problema e o perigo aqui nessa igreja de Colossos? O problema é que uns falsos mestres da época estavam ensinando que esse algo a ser feito era seguir algumas práticas religiosas. Uma espécie de “filosofia dos Colossos”. A carta não deixa muito claro os pormenores dessa heresia. Mas ela tinha uma certa mistura de judaísmo e misticismo ascético. Práticas ligadas aos judaizantes e religiões de mistério da época. E Paulo diz: não! Seguir todos esses rituais religiosos não serve para nada, porque toda essa aparência de religiosidade não tem valor algum contra a sensualidade. Isso não produz verdadeira santidade. Isso não nos faz viver em novidade de vida. Isso não nos torna parecidos com Cristo. E Paulo começa a ensinar aquela igreja sobre como eles realmente deveriam ANDAR. O que implica em como nós devemos viver a nossa nova vida que temos em Cristo. É justamente o que Paulo diz aqui dos versículos 1 a 4.

Paulo inicia dizendo que “vocês já morreram e foram ressuscitados.” Você pode se perguntar: “agora complicou! Isso não serve para mim, porque eu não morri ainda”. Ou você pode dizer: “Paulo estava falando para uma comunidade inteira que morreu e ressuscitou ainda nessa vida aqui. Mortos vivos de Colossos”. Obviamente que não é nada disso. No texto original esse “ressuscitados” do versículo 1 pode ser traduzido por “fostes levantados”, fazendo aqui uma clara referência ao batismo. Ele segue a mesma linha de pensamento do que ele já disse no capítulo 2:12. A ideia é a de que assim como Cristo ressuscitou dentre os mortos, nós que nele cremos também ressuscitamos com ele. E o batismo é o testemunho público, que simboliza essa nossa morte e ressurreição com Cristo. E essa ressurreição futura é garantida. Aqui podemos lembrar o conceito apresentado por alguns eruditos do “JÁ” e o “AINDA NÃO” de Paulo. Nós ainda não morremos nesse corpo e ainda não fomos glorificados. Mas a nossa fé em Cristo e a nossa justificação já é uma certeza. É uma garantia que Cristo nos oferece pelos seus méritos. Essa verdade bíblica é um bálsamo para nós. Não precisamos nos desesperar quanto ao nosso futuro, porque estamos guardados em Cristo. A nossa salvação não depende em nada dos nossos méritos. Se não depende de nós para receber a salvação, também não dependerá de nós para perdê-la. Não precisamos temer a morte, porque a nossa salvação é garantida pela morte e ressurreição do nosso Senhor. Não precisamos temer o inferno, porque já ressuscitamos com Cristo. Não há o que temer. A nossa vida está oculta em Cristo (versículo 3). A ideia aqui, no texto original, é de algo que está escondido. Nós estamos escondidos em Cristo. Não há o que temer. No versículo 4 Paulo afirma que a manifestação da glória futura é uma certeza. Isso deveria arrebatar o nosso coração. Porém, muitas vezes nos acostumamos tanto com os problemas que enfrentamos nessa vida, que deixamos de falar, pensar e desejar a glória futura. Os prazeres dessa vida nos fazem esquecer dessa maravilhosa promessa. Por isso que muitas vezes nos pegamos tristes e desanimados. Porque perdemos a perspectiva dessa salvação futura. Colocamos os olhos nos problemas. Nos encantamos com o sucesso, com o dinheiro e com prazeres momentâneos. Descalibramos o nosso coração, e os nossos desejos ficam desorientados. Deixamos de desejar a intimidade e a comunhão com o nosso Deus. Deixamos de desejar o céu e a comunhão com o Criador. E, de repente, nos vemos amargurados. Nos vemos tristes e não sabemos como podemos voltar a nos alegrar. É justamente quando devemos voltar de onde caímos. Recalibrar os nossos desejos e as motivações do nosso coração. Precisamos nos lembrar que em Cristo temos VIDA NOVA. Novidade de vida. O que a Escritura nos ensina aqui é que nesse espaço entre a reconciliação com Cristo e a manifestação futura, algo deve ser feito. Muitas vezes enfatizamos bem o que Cristo fez por nós, mas nos esquecemos da nossa responsabilidade. É fato indiscutível que a salvação é uma obra de Deus. A única maneira em que contribuímos com a nossa salvação é sendo pecadores. Ele nos deu vida, quando estávamos mortos em nossos pecados e delitos. O Espírito Santo é quem tirou as escamas dos nossos olhos e nos convenceu do pecado, da justiça e do juízo. E gratuitamente, mediante a fé (que é dom de Deus, inclusive), nós fomos ressuscitados, reconciliados, justificados. Entretanto, é claro no texto que fomos reconciliados PARA algo. Uma vez justificados, nós entramos num processo contínuo de santificação. E ao longo desse processo de santificação, somos chamados e exortados a exercer a nossa responsabilidade. Encontramos diversos imperativos, apenas nessa perícope, além de outros milhares em toda a Bíblia, que apontam para algo que nós devemos fazer. Sobre como devemos viver a nova vida que recebemos em Cristo Jesus. Para isso, necessitamos viver na terra com o coração no céu. Precisamos andar um degrau acima, e pensar além dos pensamentos desse mundo caído. Como cristãos, devemos ter um novo propósito e uma nova maneira de pensar e agir.

Nesse primeiro bloco, Paulo usa dois imperativos:

“Buscai” as coisas do alto (1);

“Pensai” nas coisas do alto (2).

E faz um claro contraste entre “coisas do alto” e “coisas da terra". Assim como ele contrasta a morte e a nova vida mediante a ressurreição, ele contrasta as coisas da terra com as coisas do alto. E por “coisas do alto” nós entendemos coisas do céu, onde Cristo habita. Nossa vida está escondida com Cristo e será manifestada com Cristo. Da mesma forma nós devemos buscar as coisas de Cristo, e pensar nas coisas de Cristo. Esse “pensar” [fronesis], usado por Paulo, não carrega em si uma ideia estática, de ficar pensando apenas como uma espécie de mantra. Não é algo meramente cognitivo. A ideia desse vocábulo, no texto original, diz respeito a um pensar que te impulsiona a agir. É parecido com a ideia de “cogitar”; de “desejar”. Eu busco e cogito. Eu busco e desejo agir. Ou seja, a minha vida já está com Cristo e por isso busco ser como Jesus. Por isso, penso em ser como ele é. Desejo agir como Jesus.

Aplicando essa verdade à relação matrimonial, podemos pensar sobre a importância da primazia de Cristo no casamento. Se Cristo é o fundamento da relação conjugal, o coração de ambos os cônjuges deve estar em Cristo acima de todas as coisas. Em outras palavras, amar a Cristo mais do que ao cônjuge deve ser um princípio norteador do casamento. Aquela mesma ideia, quando pensamos sobre as diferentes relações entre marido/esposa e pais/filhos. Já ouviu aquela expressão: “quer amar de verdade o seu filho? Então ame a mãe dele”? Igualmente, somente seremos capazes de amar o nosso cônjuge mais profundamente, quando amarmos mais a Cristo do que a nosso próprio cônjuge[6]. Justamente porque diz respeito a uma relação superior, que reflete e orienta as relações inferiores, de maneira natural e representativa. Talvez um dos maiores inimigos do casamento seja o egoísmo de cônjuges que querem viver apenas para si mesmos. E qual a solução que normalmente apresentamos, para vencer o egoísmo no casamento? Pensar menos em você e amar mais o seu cônjuge. E, de fato, nós somos chamados para amar e servir ao nosso cônjuge, tirando o foco de nós mesmos. Mas, perceba que existe algo ainda superior, que precisa vir antes do próprio altruísmo, e que nos habilita para tal. Quando somos ressuscitados com Cristo, nós compreendemos que ele passa a ocupar o fundamento do nosso matrimônio. O amor a Cristo reorienta os demais amores e passam a governar as demais relações. O que implica em desfrutar do máximo das potencialidades dos amores que estão subordinados a Cristo e a sua glória. Ou seja, quanto mais amamos a Cristo, mais seremos capazes de desfrutar ao máximo da relação matrimonial. Ainda que bem-intencionado, o amor conjugal divorciado do amor a Cristo, tende a se tornar um ídolo, vazio de propósito e significado. O matrimônio passa a ser visto como a maior, mais alta e final esfera de relacionamento, que desconsidera a sua submissão e dependência a um relacionamento superior. Consequentemente, como todo falso deus, tende a nos escravizar. O cônjuge passa a ser adorado, como objeto máximo de desejos desordenados, e ao mesmo tempo vilão e algoz. Ou seja, a melhor maneira de desfrutarmos de completude de satisfação matrimonial é ter o coração “nas coisas do alto”, amando a Deus acima do próprio amor conjugal.

2) Compreender o real inimigo: o pecado, e não o nosso cônjuge, é o nosso verdadeiro inimigo

“Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas coisas é que vem a ira de Deus [sobre os filhos da desobediência]. Ora, nessas mesmas coisas andastes vós também, noutro tempo, quando vivíeis nelas. Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos” (5-9)

Esse texto é uma convocação, para fazer guerra contra o pecado. E, para isso, Paulo utiliza dois imperativos nesses versículos:

“Mortificai” /fazei morrer (5);

“Despojai” /colocar de lado (8).

Aqui Paulo explica o que são essas “coisas da terra”, que ele disse no versículo 2. Aquilo que ele chama de “natureza terrena”. São os famosos desejos que militam na nossa carne. Ou, como o próprio Paulo já se referiu como o “corpo da morte”. Nós já fomos justificados dos nossos pecados, reconciliados com Deus e a nossa vida está escondida em Cristo. Porém, enquanto não recebemos um novo corpo glorificado, e enquanto aqui vivermos, nós ainda teremos uma natureza pecaminosa. No texto original, Paulo usa uma linguagem que se refere aos nossos membros, algo que está intrinsecamente ligado ao nosso corpo. Enquanto vivermos aqui, nós estaremos nesse processo de santificação, que consiste exatamente em crucificar o velho homem. Fazer morrer a natureza terrena diariamente. É por isso que desfrutar da nova vida que temos em Cristo implica em fazer guerra. Fazer guerra contra os impulsos naturais da natureza pecaminosa. Fazer guerra. Assassinar. Fazer morrer. Mortificar o que ele chama de imoralidade sexual [porneia], impureza, paixão lasciva, desejos maus, e a cobiça que é idolatria. Paulo deixa claro que Deus detesta essas coisas. E por causa delas vem a ira de Deus, sobre os filhos da desobediência. Paulo deixa claro que essas práticas dizem respeito ao velho homem, e em nada dizem respeito ao novo homem. E o que devemos fazer, de acordo com ele, é nos “despojar”.

A ideia de “despojar”, no texto original é “colocar de parte”, ou “colocar de lado”. Abandonar. Abandonar a ira, a indignação, a maldade, a maledicência e a conversa obscena. Se queremos viver em novidade de vida, e pensar nas coisas do alto, nós precisamos fazer morrer essas paixões da natureza pecaminosa. Em outras palavras, Paulo está dizendo: “coloque a sua vida no altar”. O altar da purificação. A nossa vida está escondida com Cristo no céu, e no céu não entra pecado. Nós precisamos de purificação. O fogo da santidade divina precisa queimar as impurezas do pecado. Precisamos consagrar a nossa vida sobre o altar. Muitos não entendem o porquê de não sentirem mais a alegria da salvação, como sentiam antes. Um dos motivos é porque podem estar alimentando pecados ocultos em seus corações. Que suas esposas não sabem. Que os seus maridos não sabem. Porém, não há como esconder nada do nosso Deus. Diante de Deus não tem como “dar um jeitinho”, e “jogar a sujeira para debaixo do tapete”. Talvez essa seja a razão da sua infelicidade no casamento. Esse texto nos mostra contra quem nós estamos em guerra. Fala sobre o nosso verdadeiro inimigo. E o nosso verdadeiro inimigo somos nós mesmos, a nossa natureza terrena. O casamento é um ambiente propício para diversos conflitos, uma vez que são dois pecadores vivendo juntos em aliança diante de Deus. Porém, diante dos muitos conflitos no casamento, os cônjuges, que estão fundamentados em Cristo, reconhecem que são chamados para fazer guerra contra o seu maior e verdadeiro inimigo: os seus próprios pecados. A tendência da natureza terrena, diante dos conflitos matrimoniais, sempre será enxergar o outro como sendo o inimigo, e o alvo dos nossos ataques. Assim como Adão, que tentou responsabilizar Eva pelo seu pecado. Ou mesmo a própria Eva, que tentou responsabilizar a serpente. O ser humano caído sempre buscará o caminho da acusação egoísta, ao invés de enxergar os seus próprios pecados como o principal responsável e, consequentemente, o verdadeiro inimigo. Porém, o seu cônjuge não é o seu inimigo!

3) Viver o caráter de Cristo: se revestir das virtudes de Cristo no casamento

“E vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos. (temos uma nova identidade em Cristo). Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (10-17)

Paulo descreveu o que seriam “as coisas da terra” e agora ele se refere “as coisas do alto”. Ele é enfático ao exortar aqueles irmãos, sobre a necessidade de mortificar o pecado de sua natureza terrena. Entretanto, não basta apenas mortificar o pecado. Não basta apenas tirar algo. É necessário colocar algo no lugar. James Smith em seu livro: “O poder espiritual do hábito” se refere ao ser humano como seres eróticos. Erótico não no sentido exclusivamente sexual, mas a ideia de Eros (prazer), no sentido de que o ser humano sempre desejará algo. O nosso coração sempre vai desejar algo, e buscar por esse algo que o satisfaça. Por isso, não basta apenas colocar de lado os desejos e as práticas pecaminosas. É necessário colocar algo no lugar delas. De acordo com Paulo, é necessário se revestir. É justamente o que ele diz nos versículos 9 e 10:

“Uma vez que vos despistes” (9), e “vos revestistes” (10).

No original fica claro um paralelo. Ele diz “tendo ido para fora” do velho homem, e “tendo ido para dentro” do novo homem. Observamos que Paulo utiliza a mesma palavra, mudando apenas o prefixo. Tirar algo e colocar algo. Ir para fora do velho homem, e vir para dentro do novo homem. Esse novo homem está em Cristo e não há mais distinção entre grego e judeu, escravo e livre. Em outras palavras Paulo está dizendo que nós recebemos uma espécie de nova nacionalidade, como cidadãos do céu. Nós temos uma nova identidade, pois estamos em Cristo, pertencemos a ele e somos definidos a partir dele[7]. Ainda que exista a possibilidade de um não crente, alguém que não foi ressuscitado com Cristo, desfrutar da graça comum de Deus[8] e, consequentemente, glorificar a Deus vivendo uma vida virtuosa, que expressa tanto virtudes morais quanto intelectuais, ele jamais poderá viver as virtudes que são próprias do caráter de Cristo, reservadas apenas para aqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo, o que Tomás de Aquino chamou de virtudes teologais[9].

Sendo assim, o que devemos colocar no lugar do pecado, ao fazer guerra contra ele e abandoná-lo? Quais são as virtudes que devem determinar a nossa relação conjugal? Como podemos, de fato, experimentar algo novo, a plenitude do que Deus reservou para nós no matrimônio, uma vez que o pecado entrou no mundo e afetou os nossos relacionamentos? O texto nos diz: sentimentos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão, longanimidade. O versículo 13 fala sobre considerar o outro acima de você (aparece na tradução como “suportar uns aos outros”). E oferecer graciosamente a si mesmo, para o bem do outro. Diante de uma queixa, isso significa perdoar, assim como o Senhor se ofereceu a si mesmo por nós e perdoou os nossos pecados. Além disso, Paulo diz que o amor é o que “dá a liga” (14). A “ligadura de completude” seria uma tradução mais próxima do texto original. O vínculo completo e perfeito.

Dos versículos de 15 a 17 Paulo usa alguns imperativos. Ele não apenas diz para aqueles irmãos que eles deveriam abandonar o pecado e se revestir de um novo homem, mas ele apresenta algumas ferramentas para colocar isso em prática:

A paz de Cristo deve ser o árbitro da relação matrimonial

A paz de Cristo deveria ser o árbitro das suas relações. Os crentes de Colossos deveriam fortalecer o seu senso de comunhão, uma vez que juntos eles são um só corpo. O árbitro do relacionamento deles deveria ser a paz (15). É importante compreendermos a influência da teologia de Paulo em relação a sua concepção de paz. Paulo fala sobre a PAZ a partir de sua influência judaica, à luz do povo de Deus da primeira aliança. E qual a ideia de PAZ para um judeu, um israelita? Independente das discussões envolvendo o judaísmo paulino, fato é que o nacionalismo judaico estava intimamente ligado as promessas de livramento de Deus e a preservação do povo. Ou seja, independentemente de Paulo falar a partir do judaísmo do primeiro, do segundo templo ou de seitas judaicas do primeiro século, é indiscutível a concepção judaica de Deus como HOMEM DE GUERRA; como O GUARDA DE ISRAEL; como aquele que guerreia as batalhas do povo. É o que encontramos especialmente nos textos monárquicos e nos salmos que apresentam Deus como o guarda de Israel. Pense o seguinte, toda ideia de PAZ precisa partir da existência de um conflito; uma guerra. E a compreensão judaica não vê diferença entre o mundo de cima e o mundo de baixo, como uma espécie de divisão entre o mundo material e o mundo ideal, como era próprio da cosmovisão grega helênica. A compreensão judaica apresenta um Deus transcendente que guerreia as nossas guerras, tanto em cima quanto embaixo; tanto circunstanciais e materiais, como também cósmicas, por assim dizer, espirituais e atemporais. A influência paulina é judaica, de um Deus que garante a paz, porque vence a guerra, tanto cósmica quanto circunstancial. Jeová Nissi “Deus é a nossa bandeira”, que guarda o seu povo Israel enquanto nação eleita. A expressão de vitória depois de uma guerra. Mas, muito mais do que isso, em Jesus Cristo ele guarda o seu povo eleito numa batalha cósmica contra o mal. Cristo é a nossa paz, por ter lutado e vencido a nossa guerra contra o mundo, a carne e o diabo. Jesus vence a guerra ao pagar a nossa dívida e satisfazer a justiça de Deus, sofrendo a condenação em nosso lugar. Nós que anteriormente estávamos em guerra contra Deus, por causa do nosso pecado, agora fomos reconciliados com ele, por meio de Cristo Jesus. Isso significa que a PAZ não é, em hipótese alguma, a ausência de lutas, guerras e sofrimentos. A PAZ é a vitória de Cristo sobre cada uma delas. Não temos como falar sobre esse texto sem nos lembrarmos do texto de João 16.33: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais PAZ em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu VENCI o mundo”. A PAZ não vem da ausência de aflições, mas de ter Cristo VENCIDO o mundo. O Senhor Jesus diz que o seu objetivo é conceder aos discípulos a sua paz, mas ele não nega que eles teriam aflições. A paz de Jesus não é a ausência de aflições e lutas, mas a vitória de Jesus sobre cada uma delas. Por isso ele diz: “eu venci o mundo”. Essa é a visão de Paulo, por traz do texto, que o levou a fazer essa afirmação e desejar que: “essa PAZ seja o árbitro entre vós”. Em outras palavras, a maneira de resolver os nossos conflitos deve ser a reconciliação. A maneira como Cristo venceu a nossa guerra deve determinar a maneira como resolvemos os nossos conflitos interpessoais. Os conflitos interpessoais, obviamente, continuarão existindo em nossos relacionamentos, uma vez que, apesar de desfrutarmos da garantia da justificação e da promessa de glorificação, da certeza de que estaremos por toda a eternidade com Cristo, onde não haverá mais pecados e conflitos; enquanto ainda lutamos contra a presença do pecado em nossa natureza, ainda teremos algumas batalhas para travar. Esse é o desejo de Paulo para aqueles irmãos: que a maneira de Cristo lutar e vencer a guerra fosse o árbitro de suas relações interpessoais. Que eles experimentassem a paz, e isso determinasse a maneira deles resolverem os seus conflitos. A paz de Cristo traz o consolo presente, como consequência da certeza da sua vitória na cruz. E também nos apresenta um modelo de reconciliação em nossos relacionamentos interpessoais.

Louvor e adoração devem determinar o ambiente da relação matrimonial

A palavra de Cristo deveria habitar ricamente entre eles. Eles deveriam ensinar essa palavra uns aos outros, com conhecimento e fidelidade. E eles deveriam fazer isso num ambiente de louvor e adoração a Deus, com salmos hinos e cânticos espirituais. É bastante interessante a construção desse texto. Uma tradução mais literal seria algo como: “Cantando a graça em seus corações a Deus” [Rárite adontes] (cantando a graça) (16). Isso é algo tão poderoso, e ao mesmo tempo tão negligenciado pelas famílias cristãs. Um ambiente de louvor tem um potencial de colocar os corações no lugar certo, nos conduzir a Deus e à gratidão. Um ambiente de louvor é o ambiente propício para o amor e as boas obras. Um ambiente de louvor é o ambiente perfeito para o perdão e a reconciliação. Isso, obviamente, inclui ouvir louvores e cantar louvores, por meio da nossa voz. Entretanto, o ponto do texto não diz respeito apenas a algo externo, mas interno. Ou seja, cantar a graça de Deus deve ser algo que brota dos corações. Um verdadeiro ambiente de louvor surge da motivação de corações que se rendem a Deus em adoração. E esse deve ser o ambiente de um casamento que está fundamentado em Cristo.

Os cônjuges devem representar Cristo em sua relação matrimonial

O último versículo (17), mais uma vez destaca o aspecto prático de viver o caráter de Cristo. Agora por meio de ações que enfatizam o aspecto simples e corriqueiro do dia a dia. A expressão “seja em palavra, seja em ação” aponta para a generalidade de tudo o que falamos, bem como de tudo o que fazemos. O tempo todo, e através das pequenas coisas, nós o fazemos como representantes do próprio Cristo, uma vez que estamos nele, porque fomos ressuscitados com ele. Em outras palavras, é como se Cristo assinasse embaixo, como se todas as nossas atitudes tivessem a credibilidade de serem chanceladas pelo próprio Senhor Jesus. As nossas atitudes levam o nome do próprio Cristo, pois o refletimos, através da nossa maneira de viver. Isso aponta para a representatividade de Cristo em nossa relação matrimonial. O agir dos cônjuges é um agir representativo, que aponta para a supremacia de seu Senhor. O marido cumpre as suas funções de marido, em nome do Senhor Jesus. E, igualmente, a esposa cumpre as suas funções de esposa, em nome do Senhor Jesus. Dessa forma, ambos alcançam um propósito que transcende a relação apenas bilateral entre si, como embaixadores de Cristo.

A gratidão deve ser a motivação da relação matrimonial

Um ponto interessante para observamos é que todas as orações dessa menor perícope (versículos 15 a 17) apresentam a mesma expressão, de maneira enfática, para destacar que todos os aspectos da nova vida em Cristo devem ser exercidos com uma motivação: a gratidão. O versículo 15 traz a expressão “sede agradecidos”. O versículo 16 traz a expressão “com gratidão, em vosso coração”. E o versículo 17 enfatiza mais uma vez a gratidão, através da expressão “dando por ele graças a Deus Pai”. Essa repetição enfática esclarece que todas essas ferramentas, que devem ser exercidas como prática da nova vida em Cristo, não devem ser praticadas por mera obrigação, mas como fruto de um coração grato. É fato que todos os relacionamentos trarão as suas dificuldades, problemas e pecados. Ou seja, sempre haverá motivos de sobra para reclamar, murmurar e cultivar raízes de amargura e ingratidão em nossos corações. Entretanto, apesar das dificuldades que possam ser enfrentadas no relacionamento conjugal, se os cônjuges desfrutam de nova vida em Cristo, da mesma maneira sempre haverá razões para cultivar um coração agradecido.

Conclusão

Tendo em vista os aspectos observados, conclui-se que a nova vida em Cristo não modifica ao ponto de validar o casamento, mas o ressignifica ao ponto de aproximá-lo de seu objetivo primário estabelecido na criação, mesmo depois de manchado pelo pecado: a aliança perfeita entre um homem e uma mulher, manifestando visivelmente a comunhão entre ambos, e de ambos com o próprio Criador, em adoração. Dessa forma, o matrimônio pode ser ainda mais capaz de refletir, de maneira análoga, a comunhão do próprio Cristo com a igreja. Em Cristo somos reconciliados e experimentamos uma nova criação que, consequentemente, nos permite redimir todos os aspectos da criação, inclusive o casamento. Os reflexos dessa nova vida em Cristo podem, e devem, ser experimentados no casamento.

[1] Mateus 19.3-9

[2] 1 Timóteo 2.11-15, 4.3; Efésios 5.31; 1 Pedro 3.5-6; 1 Coríntios 6.16, 11.8-9

[3] O máximo dessas potencialidades só poderá ser desfrutado entre cônjuges crentes. Ainda que o cônjuge descrente possa ser de alguma forma santificado pelo cônjuge crente, o matrimônio ainda constituirá em jugo desigual. – 1 Coríntio 7.14; 2 Coríntios 6.14-15

[4] Colossenses 2.16-19: “16 Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados,17 porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.18 Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal,19 e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem-vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus”.

[5] Nesse período, do primeiro século, ainda não poderíamos falar em termos de gnosticismo. Talvez as cartas joaninas tenham sido as que mais se aproximavam das influências gnósticas, como uma espécie de pré-gnosticismo.

[6] Mateus 10. 37-39

[7] 2 Coríntios 5.17

[8] Quando olhamos para as Escrituras, encontramos dois tipos de manifestação da graça divina: a que chamamos de graça comum ou geral, e a que conhecemos como graça especial. Graça especial é destinada para salvação; dirigida aos eleitos; é regeneradora (cria uma nova natureza no homem); é santificadora; vem acompanhada de fé salvífica e do chamado eficaz. Graça comum é natural (não é destinada para salvar); dispensada a todos os seres humanos; não regeneradora (não altera a natureza humana); podendo apenas restringir a influência do pecado (como uma espécie de freio). A graça comum também é chamada de graça de manutenção; porque é o meio pelo qual Deus mantém a sua criação, mesmo depois da queda, sem que ela se transforme num completo caos, por causa do pecado. A graça comum é a ideia de que “o sol nasce pra justos e injustos”. E mesmo um pecador, que merecia ser exterminado imediatamente, ainda pode ser um bom pai, um bom médico, uma boa mãe, um bom músico.

[9] O espaço não nos permite definir cada uma das virtudes exaustivamente, e nem mesmo apresentar uma explanação abrangente de teologia moral e dos pormenores da ética das virtudes em Tomás de Aquino. Antes, cumpre-nos afirmar que ele as apresentava dentro de grupos distintos. Como vimos, Tomás faz uma distinção entre as virtudes morais e virtudes intelectuais. Segundo ele, as virtudes intelectuais cumprem a função de aperfeiçoar o intelecto humano, e as virtudes morais cumprem a função de aperfeiçoar a potência apetitiva (desejar e buscar o que lhe é bom e agradável). Ele define as virtudes morais como as principais virtudes, juntamente com a virtude intelectual da Prudência. Porém, um ponto observado por Tomás é de que tanto as virtudes morais quanto as intelectuais são necessárias ao homem, mas ambas funcionam apenas como princípios naturais. Ou seja, são maneiras naturais de humanizar o homem criado a imagem e semelhança de Deus. Entretanto, elas não bastam para buscar o propósito de Deus na criação. Todas as virtudes agem como motores que têm o objetivo de aperfeiçoar o homem e levá-lo ao seu propósito criacional. Porém, ele distinguia dois conjuntos diferentes de virtudes; naturais e sobrenaturais. De acordo com Tomás de Aquino, além das virtudes naturais da moral e do intelecto, faz-se necessário outras virtudes que são sobrenaturais e que só podem ser acrescentadas por Deus. Essas virtudes sobrenaturais são bem-aventuranças conhecidas como virtudes teologais. As virtudes teologais ultrapassam a capacidade da potencialidade humana e só podem ser recebidas em Deus, por meio da revelação divina na Sagrada Escritura. Apesar de todas as virtudes encontrarem a sua origem na graça divina, somente os hábitos de virtudes adquiridas naturalmente não podem trazer uma vida superior ou alcançar um destino sobrenatural. Enquanto as virtudes naturais são adquiridas, as virtudes sobrenaturais são infusas. Enquanto uma se relaciona com o reino da natureza humana, a outra é fruto de uma capacitação para seguir uma lei do Espírito (1-2. Q. 63, a.2):

“Sem querer diminuir a atividade virtuosa adquirida e suas contribuições variadas para a sociedade e pessoa, Tomás de Aquino observou a partir do ponto de vista teológico do ST de que "só as virtudes infusas são completas e merecem ser chamadas absolutamente de virtudes, pois dirigem um ser humano ser para o fim absolutamente último. Outras virtudes, aquelas adquiridas, são tal em um sentido limitado e não sem qualificação. Eles dirigem uma pessoa em uma área particular" (1-2, q. 65, a. 3). Cada virtude mantém sua dinâmica natural de exercício e hábito na personalidade humana criada, mas esta é expandida pela graça cujas animações das virtudes são encontradas não em autoaperfeiçoamento ou em uma imitação extrínseca de Jesus, mas em uma forma vital que traz maior capacidade e orientação. Infundido As virtudes diferem dos modos naturais da virtude não porque sejam ligados vagamente à caridade ou porque são mencionados na Bíblia, mas porque fluem da graça, aquela extrínseca (e depois intrínseca) princípio trazendo algo da vida da Trindade. "Fé, esperança e amor são as virtudes do ser humano ao se tornar participante da graça divina" (1-2, q. 58, a. 3, ad 3).­[9]

As virtudes intelectuais e morais são extremamente necessárias para todos os seres humanos, como excelentes ferramentas de humanização do homem; fazendo-o substituir vícios por virtudes e aproximando-o do seu propósito criacional. Mas, as virtudes teologais são o máximo que o ser humano consegue alcançar, em termos de imagem e semelhança de Deus.

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Discipulado da Família

Qual a sua definição de riqueza? Qual o seu estereótipo de sucesso e realização? Em nome da busca pela riqueza, muitos acabam desprezando (ou deixando para segundo plano) o seu relacionamento com Deus e a importância da família. O assunto desse plano de leitura é de extrema importância, quando pensamos sobre o contexto da família. Veremos o que a Escritura tem a nos dizer sobre o casamento, a sexualidade, a administração dos nossos recursos, a educação dos filhos etc, à luz do evangelho.

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