Discipulado da FamíliaExemplo
GLORIFICANDO A DEUS no planejamento e na organização dos nossos RECURSOS
Vivemos num mundo de pessoas cada vez mais sufocadas pelo excesso de atividades. Uma vida cada vez mais corrida e agitada. A consequência disso é um grande número de pessoas cada vez mais estressadas ou frustradas com o não cumprimento de prazos, tarefas e objetivos. Isso acompanha constantes alterações de humor, comprometimento da saúde física e emocional. E justamente quando se pretende viver uma vida mais produtiva, quando a pessoa se dá conta ela está dentro de uma espiral de aflição e esgotamento. Ela se vê cada vez mais aflita, com o avançar das horas, mas não consegue fazer muita coisa, porque está abatida e cansada. E, por se sentir improdutiva, essa pessoa acaba amargando sentimento de culpa, impotência, procrastinação. Muitas são as demandas da vida: relacionamento com Deus, família, casamento, filhos, trabalho, estudos, igreja. Além de fases e períodos específicos da vida que, naturalmente, vai exigir muito de nós. Adaptações necessárias no casamento. Mudanças de rotina e a adaptação inerente a chegada dos filhos. Adaptações de rotina, por conta de um novo emprego, faculdade e tantos outros compromissos familiares. E tudo isso vai demandar tempo e responsabilidade. E, de alguma forma, temos que planejar a nossa vida e organizar todas essas coisas.
Além disso, todas essas demandas de tempo acompanham a necessidade de recursos financeiros, e a sabedoria necessária para administrá-los. A vida de casado, a vinda dos filhos e tantas outras demandas da família exigem não apenas sabedoria para administrar o tempo, mas também os recursos necessários para o provimento da família. É indiscutível que finanças é uma das áreas mais conflituosas na vida familiar. Muitos conflitos entre casais são fruto da falta de sabedoria em administrar os seus recursos financeiros. Além do grande desafio da administração desses recursos, vivemos pressionados por uma sociedade cada vez mais consumista. Uma sociedade que impõe a demanda pelo alto padrão de vida, e o conceito de felicidade imediatamente associado com a capacidade de aquisição de bens e status social. Na sociedade moderna, os papéis do marido e da esposa são modificados para suprir a renda familiar, forçando a esposa ao trabalho fora do lar, e modificando também a forma como o orçamento familiar é administrado.
Como podemos ver, o planejamento e a organização de nossos recursos (tempo, dinheiro, cuidados com o corpo etc.) pode ser uma fonte de problemas constantes. Por isso, inicialmente, precisamos pensar sobre o fundamento e a natureza de todas essas demandas da vida.
O evangelho como fundamento do planejamento e organização dos nossos recursos
Antes de abordar qualquer tema, precisamos considerar uma condição essencial, algo fundamental sem o qual não podemos prosseguir. Quando falamos sobre planejamento, finanças, organização do tempo, rotina, dieta e administração do dinheiro, somos bombardeados com uma infinidade de métodos disponíveis. Temos os famosos planners e aplicativos de agenda, além de perfis no Instagram que oferecem dicas sobre como organizar a casa, a dieta e as finanças. Como se não bastasse, há também inúmeros coachings que prometem as "chaves para o sucesso", afirmando que você irá destravá-las e alcançar o sucesso. São muitos os métodos disponíveis nas redes sociais, em livros que ensinam "as três chaves para alcançar a riqueza", ou "como organizar a vida", "emagrecer em 30 dias", ou "organizar a casa em 15 minutos". Apesar de todas essas opções, antes de discutirmos qualquer método, é preciso partir de um pressuposto fundamental: o evangelho é o padrão norteador e o fundamento não apenas para a nossa salvação, mas para toda a vida cristã. O evangelho não é apenas um bilhete para o céu — "ah, eu creio em Jesus para não ir para o inferno e garantir a minha salvação". Ele não trata apenas de uma salvação futura, mas de uma transformação no presente. Não se refere apenas à nossa mente, como algo meramente cognitivo, mas também envolve o coração e nossas ações. Em termos teológicos, o evangelho é o fundamento da nossa ortodoxia, ortopraxia e ortopathia.
O evangelho abrange todos os aspectos da vida: nossa sexualidade, nossa relação com o Estado, com a sociedade, a forma como tratamos nossos superiores e funcionários, como educamos nossos filhos, como cuidamos do nosso corpo, das finanças e do nosso tempo. Portanto, ao abordar essas questões, nos deparamos com uma bifurcação: ou seguimos os padrões e conselhos oferecidos pelo mundo, ou reconhecemos que o evangelho é o guia em todas as áreas, incluindo nossas finanças e o planejamento de vida.
Se consideramos o evangelho como guia, precisamos reconhecer a importância da humildade e do compromisso contínuo em viver conforme seus ensinamentos. Esse é o ponto central antes de discutirmos qualquer assunto. Muitas vezes, assistimos a uma palestra ou pregação e até concordamos com o que ouvimos, mas, ao voltar para casa, ao trabalho, ou diante das situações cotidianas — como acessar a conta bancária, discutir a relação com o cônjuge, começar a segunda-feira, lavar a louça, arrumar a casa, cuidar e educar os filhos —, tudo parece ser deixado para trás. Se não compreendermos que o evangelho permeia todos os aspectos da nossa vida, estaremos apenas "enxugando gelo". O que mais precisamos não é de um método, mas de uma mudança de coração. Esse é o ponto crucial.
Podemos discutir métodos para tornar a rotina mais eficiente durante a semana, estratégias financeiras e modelos de negócio para alcançar estabilidade financeira. Podemos adotar métodos excelentes e falar sobre como administrar nossos recursos, mas, se vivermos apenas para satisfazer nossos próprios desejos, transformando conforto, descanso e dinheiro em ídolos, nenhum método será eficaz. Continuaremos a gastar dinheiro como se não houvesse amanhã, pois viveremos para saciar nossos prazeres.
Vamos falar sobre glorificar a Deus no planejamento e na organização dos recursos, mas isso vai além de métodos. Não basta seguir um método; é necessária uma mudança de coração. Se entendemos que o evangelho é o guia para o modo como vivemos em todas as áreas — casamento, sexualidade, educação dos filhos, finanças —, então, meus irmãos, como viver o evangelho sem arrependimento e humildade? Quem pode ser salvo pela fé no evangelho sem reconhecer que é pecador? Isso é impossível. A condição para vivermos o evangelho é reconhecer nossas fraquezas, admitir o quanto somos pecadores e o quanto precisamos de ajuda. Em outras palavras, o que estamos discutindo aqui está relacionado à maturidade espiritual. Há pessoas que frequentam a igreja há anos, mas ainda são espiritualmente imaturas. Por quê? Porque maturidade não está apenas relacionada ao tempo de vivência, mas ao arrependimento e à humildade de reconhecer nossas falhas e nossa necessidade da graça de Deus.
Nosso desejo é ter respostas para tudo, acertar em tudo, demonstrar perfeição em todas as áreas. Quando se trata de educação dos filhos, achamos que temos a fórmula certa porque educamos nossos filhos corretamente. Quando o assunto é dinheiro, acreditamos que não precisamos de ajuda porque sabemos administrar. Quanto à sexualidade, pensamos: "isso eu domino". Meus irmãos, se entendemos que o evangelho é o padrão, para vivermos de acordo com ele e alcançarmos a maturidade espiritual, precisamos reconhecer que dependemos da graça de Deus. Ninguém aqui é especialista em educação de filhos, finanças ou qualquer outra coisa. Temos a Palavra de Deus, o Espírito Santo e o evangelho.
O evangelho deve ser o pressuposto fundamental antes de tratarmos qualquer assunto. Não precisamos apenas de um método; precisamos de um coração disposto a viver o evangelho em tudo o que fazemos.
A natureza do planejamento e da organização dos nossos recursos
Nosso ponto de partida é o fato de que todas essas coisas possuem uma natureza espiritual. As nossas atividades diárias, e a forma como organizamos o nosso tempo e as nossas tarefas, estão relacionadas com Deus, e devem glorificar a Deus. Muitas vezes somos tentados a pensar que as coisas que são relacionadas a Deus se resumem em ler a Bíblia, orar e frequentar a igreja. É indiscutível que essas coisas glorificam a Deus. Mas, “Quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei TUDO para a glória de Deus."[1] Quando olhamos para as Escrituras, encontramos dois tipos de manifestação da graça divina: a que chamamos de graça comum ou geral, e a que conhecemos como graça especial. Graça especial é destinada para salvação; dirigida aos eleitos; é regeneradora (cria uma nova natureza no homem); é santificadora; vem acompanhada de fé salvífica e do chamado eficaz. Graça comum é natural (não é destinada para salvar); dispensada a todos os seres humanos; não regeneradora (não altera a natureza humana); podendo apenas restringir a influência do pecado (como uma espécie de freio). A graça comum também é chamada de graça de manutenção; porque é o meio pelo qual Deus mantém a sua criação, mesmo depois da queda, sem que ela se transforme num completo caos, por causa do pecado. A graça comum é a ideia de que “o sol nasce pra justos e injustos”. E mesmo um pecador, que merecia ser exterminado imediatamente, ainda pode ser um bom pai, um bom médico, uma boa mãe, um bom músico etc. E nós aprendemos, a luz da graça comum, que existe graça para além das atividades restritas à esfera eclesiástica. A própria ideia de ordem, e de organização do tempo, é fruto da graça de Deus. Também sabemos, principalmente como herança dos reformadores, que não existe uma dicotomia entre secular e sagrado. Não pertence a Deus apenas aquilo que se restringe ao clero ou a igreja, mas glorificamos a Deus em todas as esferas do seu reino.
O neocalvinismo holandês elucidou ainda mais esse princípio, com a ideia de soberania das esferas. Glorificamos a Deus na igreja, no trabalho, nos relacionamentos, na família. E glorificamos a Deus, inclusive, na forma como organizamos os nossos recursos. Temos muitas demandas pela frente, e já sabemos que glorificamos a Deus por meio de todas essas coisas. Mas, como glorificar a Deus na forma como administramos todas essas coisas?
Como glorificar a Deus no planejamento e na organização de nossos recursos?
Glorificamos a Deus na administração do nosso tempo e recursos, através de pelo menos duas maneiras fundamentais: Precisamos administrar os nossos recursos com sabedoria, e todas essas práticas devem vir acompanhadas de verdade e justiça. Se aquilo que fazemos é para a glória de Deus, sempre vai ser de acordo com a justiça de Deus (devem ser boas obras).
Remir o tempo - vivendo com sabedoria
“Remindo o tempo, porque os dias são maus” Efésios 5.16
Esse texto nos ensina que a sabedoria faz parte do andar cristão. Existe uma sabedoria própria da vida cristã, necessária para andarmos como imitadores de Cristo. Que a sabedoria é algo que Deus requer daqueles que estavam mortos em seus delitos e pecados, e que foram recriados pelo Espírito Santo. Nesse sentido, a sabedoria não é algo opcional. Uma sabedoria que não é restrita apenas a uma classe de crentes especiais ou iluminados (lembrando que esse poderia ser um pensamento comum de alguns daqueles irmãos, por conta da influência do pensamento grego). Além disso, essa sabedoria não é algo apenas próprio ou restrito a mente, no sentido cognitivo. A sabedoria de Deus é uma sabedoria para a vida. Uma sabedoria que diz respeito ao “homem interior”[2], mas que é algo totalmente prático. Sabedoria não é um sinônimo imediato de conhecimento, porque existem pessoas que são muito inteligentes, mas não possuem essa sabedoria de Deus. Sabedoria não é sinônimo imediato de maior idade, mais experiência ou próprio daqueles que possuem mais tempo de casados. Isso porque, mesmo a experiência sendo algo louvável, e que contribui para uma vida de maior sabedoria, existem idosos com muita experiência, mas que ainda assim vivem de maneira insensata. Por isso, esse texto nos fala sobre a sabedoria necessária para o andar cristão.
Infelizmente, muitos casais até se familiarizam com Deus e com sua Palavra, mas ainda carecem dessa sabedoria. Alguns são até muito inteligentes e possuem muito conhecimento, mas esse conhecimento não é traduzido na condução da sua casa, nas inclinações do seu coração, nas suas escolhas, na administração de seus recursos. É comum encontrarmos pessoas até bem-intencionadas, e que amam a Deus, mas que na forma de conduzir a sua família, o seu tempo e as suas finanças acabam vivendo por impulsos da sua antiga natureza. Ao invés de serem guiados pela sabedoria de Deus, acabam sendo conduzidos pelos valores do mundo e pela “sabedoria terrena[3]”. De acordo com Paulo, o andar com Cristo requer de nós sabedoria; andar segundo a sabedoria de Deus. Quantos crentes que até são sinceros, mas que educam os seus filhos segundo os preceitos e costumes do mundo, e não segundo a sabedoria de Deus. Quantos crentes que até são sinceros, mas que são governados por suas emoções, e não pela sabedoria de Deus. E suas casas são um lugar de gritaria, ira, agressões físicas e verbais, porque são governados pelas emoções. Que não têm as suas emoções redimidas, porque não buscam essa vida de plenitude da sabedoria de Deus. Quantos crentes são até sinceros, mas são impulsivos em suas escolhas e ações. Não administram corretamente o seu tempo e as suas finanças, porque são governados por suas paixões, sentimentos, e não pela sabedoria de Deus. Que não buscam compreender a vontade de Deus, e acabam fazendo péssimas escolhas, e colhendo as consequências de atitudes impensadas. Quantas vezes não agimos assim? Muitas vezes somos hábeis em criticar o filho adolescente, que não considera os conselhos dos seus pais (o que está completamente errado e trará péssimas consequências para os filhos que agem dessa forma); mas muitas vezes agimos como esse filho adolescente rebelde, que age por seus impulsos, por suas emoções e desejos. Fazemos isso quando deveríamos agir de acordo com a sabedoria de Deus. Mas, andar com Cristo requer de nós sabedoria; andar segundo a sabedoria de Deus. E isso fica claro, dentro do contexto dessa carta.
No contexto anterior (versículos 8 a 14), Paulo apresenta um contraste (o que é muito comum nos seus escritos), entre luz e trevas. Ele lembra os crentes de Éfeso do seu passado, ao afirmar: “antes vocês eram trevas, vocês faziam tudo o que eles fazem; mas agora vocês são luz, por isso vocês não devem praticar essas coisas, pelo contrário, agora vocês devem andar como filhos da Luz”. Paulo diz que a vida dos crentes de Éfeso deveria refletir a natureza do próprio Deus. Eles deveriam viver em toda bondade, santidade, justiça e verdade. Paulo deixa claro que eles “não deveriam praticar” essas coisas, como também “não deveriam ser cúmplices” daqueles que as praticam. E não apenas serem cúmplices, mas também “deveriam reprovar” essas obras infrutíferas das trevas.
Agora, nesta perícope, Paulo faz uso de mais um contraste. Não mais a comparação entre luz e trevas, mas entre néscios (loucos) e sábios[4]. Os cristãos de Éfeso não deveriam ser insensatos (néscios), mas sábios. E um dos aspectos dessa sabedoria, daqueles que andam imitando a Cristo, é viver remindo o tempo, porque os dias são maus.
O vocábulo remir, traz a ideia de “recomprar” (comprar novamente), de “tirar o máximo de proveito”. Os recursos que Deus nos dá são oportunidades. E "remindo o tempo" provavelmente significa "usando o tempo da melhor forma possível". O significado talvez seja mais próximo à ideia de "aproveitando bem cada oportunidade", conforme traduzido pela Almeida Século 21. Como diz Moisés, na famosa oração do Salmo 90.12: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio”. Utilizar bem o nosso tempo, aproveitando ao máximo todas as oportunidades. Mas um outro comentário de Paulo é que devemos fazer isso porque os dias são maus. A ideia é a de que aproveitar bem as oportunidades está associado com a ideia de evitar o mau. A ideia de que os "dias maus" afetariam a forma de viver dos prudentes também é apresentado em Amós 5.13-15: “Portanto, o que for prudente guardará, então, silêncio, porque é tempo mau. Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e, assim, o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis. Aborrecei o mal, e amai o bem, e estabelecei na porta o juízo.” Uma vida de sabedoria implica em aproveitar as oportunidades, evitando o mau. E aproveitar as oportunidades implica em buscar o bem em tudo o que fazemos, ainda que o mau seja o padrão de normalidade. Para que seja possível andar em sabedoria é necessário discernimento. E o discernimento é a capacidade de ler as entrelinhas. Avaliar não apenas o que ocorre, mas a natureza por trás daquilo que nos é apresentado. Essa é uma linguagem bastante proverbial, de saber discernir entre o bem e o mal. O sábio sabe que o que ocorre não é sempre o que parece. Justamente porque ele sabe que precisa julgar a natureza das ações; a natureza daquilo que é apresentado a ele. Porque aquilo que é apresentado nunca vem divorciado do bem ou do mal.
Vivemos dias difíceis, em que muitos são tentados a viver apenas em torno de si mesmos, e a satisfazer os seus prazeres egoístas. Mas a Palavra de Deus exige que nossas vidas sejam diferentes daqueles que nos cercam. Devemos administrar os nossos recursos com sabedoria, como algo inerente a ordem criacional, fruto da graça comum, e como um princípio de mordomia cristã.
O planejamento e a organização dos nossos recursos são uma forma de glorificar a Deus, e um princípio de mordomia cristã
Um dos conceitos básicos da fé cristã é que, como adoradores, somos responsáveis por zelar e cuidar da vida que Deus nos concedeu. Em Gênesis, o homem foi colocado pelo Senhor como mordomo da criação. Isso é o que os teólogos chamam de reino medianeiro/mediato. A ideia de que somos corregentes da criação. Deus é o supremo Senhor, supremo Rei e Governante da criação. Mas Ele nos concede a responsabilidade de sermos vice regentes da criação, e governar como seus representantes. Não temos muito tempo para discorrer sobre todos os pormenores dessa ideia de federalismo, desde Adão, como cabeça federal e a ideia de representatividade, inclusive numa esfera mais micro, na família. Mas, sabemos que Deus deu a Adão a responsabilidade de governar a criação; de dar nome aos animais. Deus fez alianças com os homens; o que implica em relacionamento com um povo organizado, nos termos dessa aliança. A formação do povo de Israel, como nação formada no Egito, se deu pela instrumentalidade de José, um administrador. Deus estabeleceu leis para Israel, o que necessariamente implica na ideia de ordem. Deus deu para a igreja, por meio da escolha de seus presbíteros e do governo destes, a responsabilidade de governar a si mesma. Isso nos aponta para a ideia de ordem, planejamento e organização, como inerentes ao próprio Deus. E é interessante como a própria adoração a Deus está ligada ao seu aspecto missional. Adorar a Deus é ter comunhão com Ele, e cumprir a missão que Ele deu ao homem. Em outras palavras, o cumprimento da missão é uma forma de adoração. E essa missão está relacionada a todos os aspectos da ordem criacional: mandato cultural, mandato social e mandato espiritual.
Deus fez uma aliança com a criatura e estabeleceu pelo menos três diferentes mandatos para a humanidade: o mandato espiritual (seu relacionamento com o Criador), o mandato social (seu relacionamento em família) e o mandato cultural (seu relacionamento com a sociedade). E assim como um mordomo administra as coisas de seu senhor, devemos administrar com responsabilidade tudo o que recebemos nesta vida. Porque todas as coisas pertencem ao Senhor; e, isso inclui, corpo, alma, espírito, dons, talentos e bens materiais. Quando recebemos o Evangelho pelo poder do Espírito, nos tornamos uma nova criatura, nossos olhos se abriram e passamos a reconhecer o senhorio de Cristo sobre todo o nosso ser. E é o evangelho que traz de volta esta dimensão e perspectiva existencial, que foi manchada pelo pecado e pela queda. De cuidarmos e desfrutarmos da criação, relacionando a adoração com a mordomia, em todas as áreas de nossa vida. Temos então que resgatar este cuidado, por tudo que Deus nos deu e continua dando por Sua graça e amor. Porque Ele é um Pai Amoroso que tem prazer em nos compartilhar “toda boa dádiva”. Então, organizar o tempo é um princípio de mordomia cristã, como cumprimento de uma missão, e é algo que glorifica a Deus.
Deus criou todas as coisas com ordem
Todas as coisas estão no seu devido lugar. Desde o comportamento dos átomos, a cadeia alimentar, a organização das galáxias, a família e a forma como deve se organizar e viver em sociedade. Esse é um princípio de Deus estampado na criação. Logo, Deus nos criou para sermos organizados e fazer planos. Fazer planos e administrar o nosso tempo é inerente a ordem criacional. E essa é uma graça de Deus, fruto da graça comum, que alcança todos os homens e contribui para a ordem da criação. Para a organização da sociedade; um princípio da pólis; o fundamento das leis, da ordem, da própria ideia de comunidade. Deus é soberano e governa a Sua criação, mas a soberania de Deus não exclui a nossa responsabilidade de fazer planos (Pv.16.1,9).
Algumas dicas de como organizar o tempo
Cuidado com as idealizações e o desgaste intenso
Dietrich Bonhoeffer em seu livro Vida em Comunhão[5], fala sobre o perigo de idealizar a comunhão. Ele fala num contexto de comunhão cristã, sobre o perigo de viver uma comunhão idealizada e acabar deixando de viver a comunhão real. Em relação a organização do nosso tempo, penso que podemos aplicar essa mesma ideia. É muito comum observarmos pessoas que começam o ano correndo atrás de novos planners e montando seu calendário e agenda, mas idealizam uma agenda e um planejamento perfeito. E, antes de chegar na metade do ano, essas mesmas pessoas que idealizam o máximo de perfeição acabam frustradas, por não colocarem em prática nem mesmo o mais fundamental da sua rotina. É incontável o número de pessoas que estão esgotadas, física e emocionalmente, em decorrência da agenda que transborda compromissos, da constante sensação de atraso e incapacidade. Como chegaram a esse ponto?
Há diferentes caminhos que culminam nessa condição, mas, de modo geral, eles passam pela ideia de um planejamento perfeito. Que parte de um padrão de pensamento comum de que ‘o nosso valor está no sucesso’, na performance ou na produtividade. Esse é o reflexo de uma cultura que idealiza o ‘sucesso’ como fonte de sentido e descanso para a alma. E, por isso, nós descobrimos que o problema fundamental está no nosso coração: a busca de identidade longe de Deus. A pessoa que acredita que seu valor está no sucesso — acaba sendo esmagada pelo peso de expectativas irreais. E dificilmente conseguirá descansar ou se satisfazer em seu estágio de vida, enquanto não tiver alcançado esse tal ‘sucesso’”.
Utilizar o tempo de maneira inteligente
Uma vez que compreendemos a necessidade de estabelecer um planejamento real, dentro das nossas limitações. Podemos buscar métodos e técnicas úteis para cumprir as demandas. Uma delas é hierarquizar os projetos e as tarefas, para dar atenção ao que é mais importante, urgente ou circunstancial. Assim, para organizar bem o nosso tempo é necessário ter consciência do lugar que os projetos e tarefas ocupam em nossa vida e em nossa agenda. Devemos prestar atenção para não sermos sobrecarregados apenas por demandas urgentes, e negligenciarmos aquilo que é mais importante. Para organizar o nosso tempo precisamos reconhecer as nossas limitações, que somos finitos e só poderemos utilizar o tempo dentro dos limites que Deus estabeleceu graciosamente a nós. Uma boa maneira de organizar o nosso tempo é através da identificação e organização dos nossos projetos e tarefas:
Projetos: são as grandes áreas de atuação, como “casa”, “família”, “trabalho”, “igreja” e “estudos”; ou então tudo aquilo que demanda mais de uma tarefa: o “projeto construção da casa”, o “projeto aprendizado de inglês” etc.
Tarefas: são as ações que precisam ser efetivadas dentro dos respectivos projetos.
E ao estabelecer quais sejam os nossos projetos e tarefas, precisamos classificar essas demandas. Christian Barbosa, autor do best-seller e do conhecido método: A tríade do tempo, classifica as demandas em três categorias: importantes, urgentes e circunstanciais.
Importantes: são as atividades que são significativas em nossas vidas, relacionadas aos nossos sonhos e objetivos.
Urgentes: são as atividades que não são previstas, surgem de última hora, são estressantes.
Circunstanciais: são as atividades desnecessárias, onde desperdiçamos nosso tempo de forma inútil, como conversas sem sentido e atividades que não agregam valor a nossa vida.
Tendo essa hierarquização em mente, é importante investir em atividades que realmente alcancem os frutos almejados[6].
Depois de identificar projetos e tarefas, bem como classificá-los de acordo com o seu grau de importância, uma boa sugestão é listar dada um deles. Isso fará com que o planejamento seja algo muito mais possível de ser alcançado. E nos ajuda a estabelecer prioridades, sem perder tempo com o que é irrelevante.
Fundamentos bíblicos da relação do cristão com o dinheiro
Além das nossas muitas demandas de tempo, elas acompanham a necessidade de recursos financeiros, e a sabedoria necessária para administrar esses recursos. A vida de casado, a vinda dos filhos e tantas outras demandas da família exigem não apenas sabedoria para administrar o tempo, mas também os recursos necessários para o sustento da família. É indiscutível que, além das demandas de tempo e rotina, finanças é uma das áreas mais conflituosas na vida familiar. Muitos conflitos entre casais são fruto da falta de sabedoria em administrar os seus recursos financeiros. Além do grande desafio da administração desses recursos, vivemos pressionados por uma sociedade cada vez mais consumista. Uma sociedade que impõe a demanda pelo alto padrão de vida, e o conceito de felicidade imediatamente associado com a capacidade de aquisição de bens e status social. Na sociedade moderna, os maridos necessitam passar mais horas fora de casa, e muitas vezes são forçados a buscar mais de uma atividade para complementar o sustento da casa. Além disso, os papéis do marido e da esposa são muitas vezes modificados para suprir a renda familiar, forçando a esposa ao trabalho fora do lar e modificando a maneira como o orçamento familiar é administrado. Por fim, temos que lidar com a fonte e a principal motivação dos nossos conflitos: a relação entre o dinheiro e o nosso próprio coração.
Como podemos ver, a nossa relação com o dinheiro pode ser uma fonte de problemas constantes. Por isso, precisamos pensar sobre o objetivo e os perigos da nossa relação com o dinheiro.
Os objetivos do dinheiro na vida cristã:
Normalmente a nossa relação com o dinheiro se dá em termos de ganhos pessoais. Quando pensamos em dinheiro, logo imaginamos como podemos ser beneficiados por sua posse. Entretanto, as Escrituras têm em comum o fato de que a nossa relação com o dinheiro não deve ser voltada para dentro, mas para fora. Ou seja, ao invés de pensar em como podemos ser pessoalmente beneficiados pela posse daquela riqueza, somos encorajados a olhar para além de nós. Dessa forma, ao invés de sua utilidade se restringir ao ganho pessoal, o dinheiro passa a ser uma ferramenta da graça de Deus para exercer a generosidade, redundar em bênção para o próximo e em serviço e adoração a Deus.
Quais seriam então os objetivos do dinheiro na vida cristã?
O dinheiro deve ser destinado ao sustento pessoal e familiar
“Visto que você deu ouvidos à sua mulher e comeu do fruto da árvore da qual eu lhe ordenara que não comesse, maldita é a terra por sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua vida. Ela lhe dará espinhos e ervas daninhas, e você terá que alimentar-se das plantas do campo. Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra, visto que dela foi tirado; porque você é pó, e ao pó voltará”. Gênesis 3.17-19
“Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente”. 1 Timóteo 5.8
“Esforcem-se para ter uma vida tranquila, cuidar dos seus próprios negócios e trabalhar com as próprias mãos, como nós os instruímos; a fim de que andem decentemente aos olhos dos que são de fora e não dependam de ninguém”. 1 Tessalonicenses 4.11-12
O dinheiro deve ser destinado para o suprimento das necessidades do próximo
“Compartilhem o que vocês têm com os santos em suas necessidades. Pratiquem a hospitalidade”. Romanos 12.13
“Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir”. 1 Timóteo 6.18
“Não se esqueçam de fazer o bem e de repartir com os outros o que vocês têm, pois de tais sacrifícios Deus se agrada”. Hebreus 13.16
O dinheiro deve ser destinado para o sustento e expansão do evangelho de Cristo
“Da mesma forma, o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho, que vivam do evangelho”. 1 Coríntios 9.14
“Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino, pois a Escritura diz: “Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal”, e “o trabalhador merece o seu salário”. 1 Timóteo 5.17-18
Os perigos da nossa relação com o dinheiro:
Ao mesmo tempo em que o dinheiro pode ser uma grande bênção de Deus na vida cristã, ele também pode se transformar numa grande fonte de tentação. O mesmo valor monetário pode encontrar joelhos dobrados e mãos erguidas em adoração, ou então se deparar com bolsos furados de corações idólatras e gananciosos. De acordo com o ensino das Escrituras o problema não está inerentemente ligado ao dinheiro, mas ao coração sujeito a idolatria e paixões desgovernadas. Nesse sentido, encontramos na Palavra de Deus diversos alertas sobre a relação do cristão com o dinheiro. Uma vida de maturidade cristã depende de reconhecer esses perigos como fontes constantes de tentação, e guardar o coração para não ser cooptado pelo falso deus Mamon, que costuma ser impiedoso com os seus adoradores.
Uma boa maneira de organizar todos os perigos da relação com o dinheiro, seria pensar que todos eles consistem no engano de um falso deus que deseja avidamente cativar os nossos corações. Todos os alertas da Palavra de Deus partem do princípio de que o problema sempre está localizado no coração. Esse entendimento nos ajuda a observar que muitos desses alertas possuem motivações comuns do coração corrompido. Podemos organizá-las da seguinte forma: CAI – controle, amor e ilusão.
Controle
Temos parâmetros experienciais para afirmar que existe uma relação entre o dinheiro e o poder. Nós vemos na própria sociedade que os ricos normalmente saem impunes, pelo cargo que ocupam ou pela capacidade de pagar os melhores advogados. Os ricos normalmente ocupam os lugares mais privilegiados, estão mais próximos e sempre flertando com posições de poder. O dinheiro pode comprar mais segurança e mantê-los mais protegidos. Essa segurança não se dá apenas em termos de violência, por morar nos lugares mais seguros e poder andar de carro blindado, mas especialmente em relação as possíveis oscilações do mercado. Os ricos estão financeiramente mais seguros em relação ao futuro, pois possuem um maior patrimônio. Além disso, a expectativa de vida e a tranquilidade em relação a sua saúde no futuro é muito maior e mais garantida, pelo acesso às melhores estruturas hospitalares e pela possibilidade dos melhores tratamentos médicos.
A posse do dinheiro nos dá a pretensa ideia de que temos o controle em nossas mãos. Mas ao pensar e agir dessa forma, automaticamente negamos a providência soberana de Deus. No final das contas não desejamos o dinheiro apenas pelos seus benefícios, mas porque desejamos poder que nos permite estar no controle. Entretanto, as centenas de exemplos nas Escritura nos dizem o quão falacioso é esse argumento. Apesar da pretensa sensação de controle proporcionada pela posse das riquezas, quem é o homem capaz de controlar a sua própria vida? “Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lucas 12.20)
Amor
A chamada regra de ouro das Escrituras: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” restringe o chamado para amar a uma esfera pessoal. O amor ao dinheiro é veementemente condenado pelas Escrituras, justamente porque nos faz olhar para o dinheiro como um objeto pessoal, como algo digno do nosso amor e capaz de nos satisfazer existencialmente. O dinheiro visto de maneira pessoal nos leva a buscar o nosso valor, propósito e identidade nas riquezas, como fonte existencial. Além disso, restringe a nossa relação apenas entre nós e o dinheiro, nos fazendo esquecer quem é o nosso Doador. Ao fazer do dinheiro um ser pessoal, automaticamente se exclui o verdadeiro ser pessoal por trás do dinheiro, de quem vem aqueles recursos e para quem retribuímos em gratidão e louvor. Amar o dinheiro é construir um deus falso, um algoz que jamais será capaz de nos satisfazer existencialmente; além de roubar de nós o relacionamento e o reconhecimento daquele que é o único capaz de nos fazer completos e satisfeitos.
Ilusão
Além da pretensa sensação de estar no controle e da relação pessoal com o dinheiro, outra fonte de tentação é a ilusão. A ilusão está associada com a falsa esperança proporcionada pelo dinheiro. A nossa relação com o dinheiro não é vista apenas como uma forma de ter o controle, nos causando a sensação de sermos deuses, ou mesmo como um ser pessoal capaz de nos satisfazer, mas também passa a ser visto como o nosso télos, o nosso céu, a nossa grande linha de chegada onde depositamos a nossa esperança. Apesar de estar diretamente relacionada com a ideia de controle e de relação pessoal, a ilusão aponta para a expectativa associada ao dinheiro. Assim como o senso comum de que os problemas deixarão de existir se alguém ganhar na Mega-Sena, a posse do dinheiro carrega em muitos a expectativa de que ele é a grande solução para todos os nossos problemas. Entretanto, tal expectativa é totalmente falaciosa. Possuir dinheiro nunca poderá ser a solução de todos os nossos problemas, porque ele é um falso deus e não pode evitar que problemas aconteçam. Além do fato de que nem todos os problemas podem ser solucionados pelo dinheiro. Dinheiro não muda o coração de um filho ou cônjuge descrentes. Dinheiro não tem poder para levar alguém ao arrependimento. Dinheiro não tem poder para curar, evitar a morte ou fazer alguém se levantar do sepulcro.
Alertas das Escrituras para a relação do cristão com o dinheiro:
O amor ao dinheiro é condenado pelas Escrituras
“Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos. Isso também não faz sentido”. Eclesiastes 5.10
A relação com o dinheiro não deve ser determinada por avareza (uma vida centralizada ao redor do dinheiro)
“Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; por que a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui”. Lucas 12:15.
O desejo pela riqueza é uma armadilha que leva a destruição
“De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos”. 1 Timóteo 6.6-10
O dinheiro deve ser fruto do trabalho diligente
“Pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém imitar-nos, visto que nunca nos portamos desordenadamente entre vós, nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós; não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes. Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma. Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranquilamente, comam o seu próprio pão”. 2 Tessalonicenses 3.7-12
“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento. Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso, assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado”. Provérbios 6.6-11
O dinheiro deve vir acompanhado de planejamento
“E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar”. Lucas 14.27-30
As dívidas devem ser evitadas
“O rico domina sobre o pobre, e o que toma emprestado é servo do que empresta”. Provérbios 22.7
“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros” Romanos 13.8
Desejar ficar rico depressa é uma armadilha
“O homem fiel será cumulado de bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não passará sem castigo... Aquele que tem olhos invejosos corre atrás das riquezas, mas não sabe que há de vir sobre ele a penúria”. Provérbios 28. 20, 22
A tentação de negligenciar a generosidade e benevolência
“Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber”. Atos 20.35
“Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também”. Lucas 6.38
“Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé”. Gálatas 6.10
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”. Atos 2.42-47
Viver exclusivamente em função do trabalho
“Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência”. Provérbios 23.4
“O rico e o pobre se encontram; a um e a outro faz o Senhor”. Provérbios 22.2
“Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem. Tua esposa, no interior de tua casa, será como a videira frutífera; teus filhos, como rebentos da oliveira, à roda da tua mesa. Eis como será abençoado o homem que teme ao Senhor! O Senhor te abençoe desde Sião, para que vejas a prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua vida, vejas os filhos de teus filhos. Paz sobre Israel”! Salmos 128
As armadilhas da desonestidade
“Os tesouros da impiedade de nada aproveitam, mas a justiça livra da morte. O Senhor não deixa ter fome o justo, mas rechaça a avidez dos perversos”. Provérbios 10.2-3
“Trabalhar por adquirir tesouro com língua falsa é vaidade e laço mortal”. Provérbios 21.6
Todas essas práticas devem vir acompanhadas de verdade e justiça
Nós sabemos que Tiago e Paulo não são inimigos e não se contradizem. Somos salvos tão somente pela graça, mediante a fé. Não somos salvos pelas obras. Mas isso não significa que as obras sejam irrelevantes ou desnecessárias. Pelo contrário, as boas obras são uma evidência, na vida daqueles que, de fato, foram justificados pela graça de Deus, mediante a fé. Nós somos chamados para viver uma vida de boas obras de justiça, conforme expressa o salmista: “Como são felizes os que perseveram na retidão, que sempre praticam a justiça"[7]!
Muitas vezes lemos nas Escrituras que devemos viver uma vida de integridade, retidão e justiça. E, imediatamente, associamos isso com leis civis e tribunais. E pensamos que viver em justiça significa tão somente seguir as leis vigentes no país. Envolve isso também, mas é mais do que isso. Quando você lê nas Escrituras que devemos viver na justiça de Deus, de Cristo, essa ideia de justiça está associada ao caráter de Deus. A justiça, como um atributo de Deus, seu caráter bom, justo, reto, verdadeiro. Por isso, viver em justiça é viver em integridade. Tendo todas as áreas da nossa vida sendo transformadas, conforme o caráter de Deus em Cristo. São os valores do caráter de Cristo fundamentando, ressignificando e orientando os nossos próprios valores, caráter, escolhas, maneira de agir. É uma vida integralmente transformada, para ser segundo o caráter de Jesus. E quais as implicações disso?
Deus te chama para adorá-lo através de todas as suas atividades, e através da maneira como você organiza todas essas coisas. Você adora a Deus quando faz o que faz no trabalho, quando arruma a casa, quando cuida das crianças ou do cônjuge, quando faz as suas leituras, aulas, e tantos outros afazeres. Você honra a Deus através dessas coisas. Mas, assim como a queda deturpou a ordem natural da criação e do relacionamento do homem com o seu Criador. Você também pode NÃO adorar a Deus através dessas coisas. Quando essas práticas NÃO vêm acompanhadas de verdade, integridade e justiça. Quando a forma como fazemos as nossas tarefas, e a maneira com que organizamos as nossas tarefas, não vêm acompanhadas de verdade e justiça, elas não são boas obras. E não existe espaço vazio, meus irmãos. Quando não praticamos virtudes, essas obras darão lugar aos vícios. Bons hábitos dão lugar a maus hábitos. Se não fazemos o que fazemos de forma que glorifique a Deus, não existe uma posição neutra, nossas obras serão carregadas de vícios pecaminosos. Você pode até ler esse plano e concordar comigo, mas continuar dormindo até o meio-dia, por exemplo. Você pode ler esse plano e até concordar comigo, mas continuar deixando tudo para a última hora. E se sentindo culpado depois, porque você sabia que podia ter feito um trabalho melhor. Mudanças reais exigem mudanças de motivação do coração. E essas motivações do coração devem ser reorientadas pelos bons hábitos. Hábitos ruins levarão você a desejar coisas ruins, e por isso são vícios. Bons hábitos levarão você a desejar boas obras de virtude. Isso é muito mais do que mero comportamentalismo behaviorista ou legalismo, mas ferramentas de sabedoria e meios da graça de Deus. Cultivar bons hábitos e uma vida de virtudes são fruto da nossa submissão a Deus. Os vícios são tudo o que nos domina, nos escraviza. Porque são fruto da nossa submissão aos ídolos que entronizamos em nosso coração. Os vícios nos colocam debaixo de um outro senhor. E, quando falamos sobre realizar tarefas e organizar o tempo, alguns desses vícios ficam muito evidentes: procrastinação, mentira, culpa. E isso acontece quando idolatramos o nosso descanso, o nosso prazer. Ou quando fazemos o que fazemos pelo nosso orgulho, ou buscando a nossa fama. Quando desejamos acima de tudo a nossa glória e adoramos a nós mesmos; quando nos colocamos no lugar de Deus. Uma das nossas maiores tentações vai ser deixar tudo para depois.
A negação da natureza das atividades, como um meio de adoração a Deus e uma responsabilidade que responde a um princípio de mordomia cristã, vai mover você e eu a não levarmos tão a sério o que temos que fazer. Vamos dar mais importância para questões circunstanciais, como rede social e Netflix, e deixaremos para depois. Se você pensar que tem que fazer as atividades como uma mera obrigação, vazia do seu real significado, que é a adoração a Deus por meio dessas atividades, você sempre vai achar que aquilo não é tão importante. E você vai deixar para depois. Se você cultivar um coração orgulhoso, pensando que as pessoas não merecem o seu serviço, você vai fazer por fazer, e vai deixar para depois. Se você se render a preguiça e amar mais o seu travesseiro do que a Deus, você sempre vai procrastinar e deixar para depois. Até mesmo coisas boas e necessárias, como o lazer e descanso, podem se transformar em ídolos em nosso coração. E o resultado disso é a procrastinação, deixar para depois. Boa parte de nós pode deixar para fazer o que deve fazer na última hora, e acabar se enrolando. E, a maioria, vai dizer que foi por conta de algum imprevisto. E, de fato, imprevistos acontecem. Mas, temos que avaliar o nosso coração. E, sinceramente, reconhecer se o descanso, o lazer, o sono, não são ídolos intocáveis, que se assentam no trono do nosso coração. Precisamos vencer a preguiça, e substituir um vício por uma virtude. A preguiça precisa dar lugar a diligência. Uma outra grande tentação que nós temos é a mentira. Podemos fingir que estamos trabalhando, quando na verdade não estamos. E na maioria das vezes é porque estamos mais preocupados em passar uma imagem, do que realmente fazer o nosso trabalho. Queremos que as pessoas nos vejam como pessoas perfeitas, de sucesso, que tem o casamento perfeito, os filhos perfeitos, faz o trabalho perfeito, que ainda arruma tempo de ir à academia, viajar etc. Mas na realidade a vida está uma verdadeira bagunça. E, não estamos aqui num concílio para ordenação de pastores. Mas, a título de exemplo, quando olhamos para as qualificações do candidato ao presbitério, nas epístolas pastorais, nós vemos que os critérios técnicos são muito pequenos, comparados aos critérios e qualificações morais. Porque alguém pode ter muito conhecimento teológico. Mas, apenas o conhecimento e habilidades teológicas, exegéticas e de oratória não fazem o verdadeiro pastor e o verdadeiro teólogo. E por que não dizer todo o verdadeiro cristão?! Quanta gente cheia de conhecimento teológico, mas que não move uma palha para servir a igreja de Cristo; dividindo igreja; dando trabalho para o pastor. Se tem uma coisa que não combina com um teólogo e um pastor é uma vida de mentiras; uma vida de caráter dúbio, uma pessoa que não é confiável, que não cumpre a sua palavra e não zela nem pelo seu bom nome, quanto mais ele zelará pelo bom nome de Cristo?! E isso se aplica a todo o cristão. Nós podemos agir como se a gente pudesse enganar as pessoas, mentir passando uma imagem do que não somos. Mas, como vimos ontem no culto, nós estamos diante do Eterno. E fazemos o que fazemos diante de Deus. E não temos como enganar a Deus. É por isso que a forma como organizamos a nossa vida diz muito sobre o nosso caráter.
Conclusão
Nós temos um grande desafio diante de nós. Uma vida inteira pela frente, repleta de muitas atividades, compromissos e responsabilidades. Atividades na igreja, aulas, estudos, cobranças e metas para cumprir em nosso trabalho. O tempo e cuidado necessários para com as nossas famílias: a vida comum do lar, os afazeres e responsabilidades da casa. E tudo isso associado ao mais importante: nossa vida diária de oração, leitura bíblica, comunhão com Deus. Diante de tudo isso, somos chamados para glorificar a Deus, na organização do nosso tempo e dos nossos recursos. Que Ele nos fortaleça com sua preciosa graça. Nos dê sabedoria para remir o tempo e administrar as nossas finanças e planejamento. E que todas essas obras venham acompanhadas de retidão e justiça!
[2] “Para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior” Efésios 3.16
[3] “Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca”. Tiago 3.15
[4] Versículo 15
[5]Bonhoeffer, Dietrich. Vida em Comunhão. 7. Ed. Ver.. – São Leopoldo: Sinodal, 1997.
[6] Barbosa, Christian. A Tríade do Tempo: um modelo comprovado para organizar sua vida e aumentar sua produtividade e equilíbrio. São Paulo, SP: Buzz Editora, 2018.
[7] Salmos 106:3
As Escrituras
Sobre este Plano
Qual a sua definição de riqueza? Qual o seu estereótipo de sucesso e realização? Em nome da busca pela riqueza, muitos acabam desprezando (ou deixando para segundo plano) o seu relacionamento com Deus e a importância da família. O assunto desse plano de leitura é de extrema importância, quando pensamos sobre o contexto da família. Veremos o que a Escritura tem a nos dizer sobre o casamento, a sexualidade, a administração dos nossos recursos, a educação dos filhos etc, à luz do evangelho.
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Gostaríamos de agradecer ao Danilo Paixão por fornecer este plano. Para mais informações, visite: https://www.instagram.com/danilo.paixao_/