Toda Língua: Ouvindo ao Deus PoliglotaExemplo
O amor é paciente
Estas palavras são familiares em inúmeros casamentos e pregações. Contudo, assim como muitas outras coisas na vida, é benéfico olhar para aquilo que é tão familiar com um novo olhar – neste caso, olhar através da perspetiva de outras línguas.
Porquê? Não é porque os tradutores da Bíblia noutras línguas, são necessariamente melhores teólogos ou porque eles até possam ter novas perceções espirituais, mas sim porque nos seus idiomas há sempre a possibilidade de impactar com mais profundidade, aquando da expressão do texto original, de forma a serem reveladas verdades, que não são imediatamente acessíveis a todos.
O que poderia um outro idioma, possivelmente "desbloquear" numa declaração como "o amor é paciente"? Vamos começar com "amor".
"Amor" é um substantivo abstrato – uma palavra que descreve algo intangível. Em inglês (e no grego koiné, a língua original do Novo Testamento), os substantivos abstratos são abundantes, tal como em palavras como morte, liberdade, caos, sabedoria e democracia. Outras línguas têm muito menos substantivos abstratos ou não tem mesmo nenhum.
Substantivos abstratos são normalmente formados a partir da transformação de um verbo num substantivo, como no caso de "amor". Contudo, num idioma sem substantivos abstratos, "amor" equivale apenas a um verbo, requisitando, assim, duas informações adicionais: a pessoa que ama e quem (ou o que) essa pessoa ama.
Se fosse um tradutor da Bíblia encarregado da tradução de "o amor é paciente" para um idioma, em que o amor é um verbo que não pode ser transformado num substantivo, teria que inferir a informação essencial do sujeito que ama e do objeto amado. Dois desses idiomas são o lamogai, uma língua falada na Papua-Nova Guiné; e Mixteca de Tezoatlán, uma língua falada no México. Uma vez que o texto original em grego não dá nenhuma evidência direta sobre o sujeito e o objeto do amor (o que ama e o que é amado), teria que olhar para o contexto bem como a informação que cerca o versículo em questão.
Dave Brunn, um tradutor do lamogai que trabalhava com 1.ª Coríntios 13:1-3, percebeu que Paulo continuamente se referia a si mesmo ("Eu poderia falar todas as línguas...," "as minhas palavras seriam como o som de um gongo...," etc.). Dave concluiu que, se Paulo se incluía a si mesmo, então o "quem" que amava deveriam ser as "pessoas".
John Williams, um tradutor do Mixteca de Tezoatlán, explicou que "na primeira abordagem, a equipa de tradução pensou que poderia ser Deus a amar-nos, mas, então, nós vimos que, depois de dizermos que o amor é paciente, que o amor é bondoso, as próximas oito declarações dizem o que o amor não é", e concluiu que essas declarações negativas não podiam ser relacionadas com Deus.
No que diz respeito ao objeto, o "quem," parecia óbvio que seriam "pessoas" também, porque, como Dave explica, "Quando é que, mais frequentemente, exercitamos a paciência, a bondade, a alegria, o orgulho e a raiva? Geralmente, nos nossos relacionamentos com outras pessoas".
A sua tradução, portanto, teria que ser algo como: "A pessoa que ama outras pessoas age com paciência para com estas" ou "Quando amamos os outros, internamente suportamos o que eles fazem".
Tente ler 1.ª Coríntios 13:4-7 novamente, desta vez, reformulando as frases de amor em declarações de ações pessoais com o seu nome como sujeito e com outras pessoas – talvez até pessoas específicas – como objeto. Como é que isso muda a sua perspetiva sobre o árduo trabalho do amor? Como é que isso exercita os seus músculos pessoais do amor?
Escritura
Sobre este plano
A comunicação de Deus com a humanidade foi planeada desde o início para "toda nação, tribo e língua". Embora todas as línguas sejam igualmente competentes na expressão da mensagem da Bíblia, cada língua tem capacidades únicas de comunicar certas mensagens bíblicas de formas, excecionalmente enriquecedoras, que outras línguas não o conseguem. Este plano bíblico explora sete desses tesouros escondidos, que vão expandir a forma como pensa sobre Deus e as Suas boas-novas.
More