Sermões de Spurgeon sobre as parábolasExemplo

Há muitos que nunca socorrem na aflição

Nosso Salvador relaciona pelo menos dois tipos de pessoas que “passaram ao largo”, e suponho que Ele poderia ter prolongado a parábola para mencionar outras duas dúzias se assim tivesse decidido fazê-lo. Contudo, Ele ficou bastante satisfeito em citar apenas um samaritano, pois dificilmente acho que poderia haver um bom samaritano para cada duas pessoas insensíveis, proporcionalmente falando. Eu gostaria que houvesse, mas receio que os bons samaritanos são muito raros em proporção ao número de pessoas que fazem o papel do sacerdote e do levita.

Agora, percebam quem foram estas pessoas — o sacerdote e o levita — que se recusaram a estender socorro ao homem em sofrimento.

Em nossa versão lemos “Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho”, mas os eruditos em grego leem “coincidentemente”. Estava nos planos da divina providência que um sacerdote chegasse primeiro a essa pessoa aflita a fim de examinar o caso como um homem treinado e habilitado, e depois quando veio o levita, ele seria capaz de dar seguimento ao que o sacerdote começara. Se um deles não pudesse carregar o pobre homem, os dois conseguiriam conduzi-lo à hospedaria, ou um poderia ter ficado para protegê-lo enquanto o outro buscaria socorro. Deus os trouxe a essa posição, mas eles deliberadamente recusaram o sagrado dever que a providência e a humanidade exigia deles.

Agora, vocês que são ricos são enviados à nossa cidade com o propósito de terem compaixão dos enfermos, feridos, pobres e necessitados. A intenção de Deus em favorecer qualquer pessoa com mais riqueza do que precisa é que ela possa ter o aprazível ofício, ou melhor, o deleitoso privilégio de aliviar a necessidade e o infortúnio de outros. Infelizmente, quantos há que consideram esse estoque que Deus pôs em suas mãos com o propósito de socorrer o pobre e o necessitado como somente uma provisão para seu próprio luxo excessivo — um luxo que os mima, mas que não lhes rende nenhum benefício ou prazer.

Outros sonham que a riqueza lhes é concedida para que possam mantê-la a sete chaves, apodrecendo e desgastando-se, gerando cobiça e preocupação. Quem se atreve a rolar uma pedra para cima da boca do poço quando há imensa sede por toda parte? Quem ousa reter o pão das mulheres e crianças que estão prontas para roer seus próprios braços de tanta fome? Acima de tudo, quem teria a audácia de permitir que o sofredor se contorcesse em agonia sem auxílio e que os enfermos definhem até seus túmulos sem que haja cuidado médico? Isso não é pecado pequeno. É um crime pelo qual se responderá diante do Juiz quando Ele voltar para julgar os vivos e os mortos. Aqueles que negligenciaram o pobre homem foram levados àquele lugar com o propósito de aliviá-lo, da mesma forma que vocês, e mesmo assim passaram de largo.