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A Escola De OraçãoExemplo

A Escola De Oração

Dia 5 de 7

O QUE FAZER QUANDO NÃO HÁ O QUE FAZER?

Um exercício filosófico propõe o seguinte dilema:

Imagine o seguinte cenário: um elétrico desgovernado segue velozmente pelos trilhos de uma ferrovia em direção a cinco pessoas imóveis. Por sua vez, encontra-se ao lado de uma alavanca que, caso ativada, desviaria o elétrico em rota de colisão para um trilho adjacente. Nota, todavia, que outro indivíduo está parado no trilho alternativo. Com isso em vista, duas opções se apresentam: (A) poderia abster-se de fazer qualquer coisa e deixar que o elétrico passasse por cima, matando as cinco pessoas do primeiro trilho; ou (B) poderia puxar a alavanca e alterar o curso do veículo para o trilho secundário onde ele irá atropelar e trucidar apenas o outro sujeito. Qual seria a sua decisão?

A resposta de primeiro impulso é pela segunda opção. Melhor perder uma vida do que cinco. Jeremy Bentham, articulou uma corrente filosófica que justifica escolhas como essa: o utilitarismo. As ações de todos devem seguir o ‘princípio da maior felicidade’: produzir o maior bem para o maior número de indivíduos, e, em contrapartida, o menor sofrimento para o menor número.

Sem entrar nos méritos dos questionamentos filosóficos, não nos damos conta de quanto estamos impregnados por essa ideia. Vivemos em busca das melhores respostas, e modelos de vida, que redundem na maior felicidade possível. Mais do que isso, passamos a acreditar que se tivermos respostas e explicações razoáveis para justificar as nossas condutas seremos mais felizes, e as nossas vidas terão mais sentido, e então poderemos confiar em Deus. Só que na prática a teoria é outra. Quando nos vemos cercados de problemas que escapam ao nosso ilusório controlo, despejamos a nossa perplexidade, quando não rebeldia, em Deus. Por outras palavras, não sabemos o que fazer quando não há o que fazer.

Por volta de 976 a.C., o rei Davi, num dos seus melhores momentos, questionou o facto de viver com tanta ostentação, enquanto Yahweh vivia como um nómada. Assim, determinou no seu coração iniciar os planos para a construção do templo. Mas, antes disso, Absalão, o seu filho, instigou uma rebelião contra o seu próprio pai, adiando o projeto e forçando-o a fugir de Jerusalém. Não é difícil imaginar como isso deve ter abalado Davi; dividido entre a promessa de um reino para o qual não faltaria sucessor, e uma afronta familiar que lhe poderia custar o reinado. Estudiosos acreditam que foi nesse contexto que o salmo 62 foi escrito.

Por certo Davi teria muitos questionamentos, talvez até reclamações, mas ele preferiu dizer ‘em silêncio diante de Deus, a minh'alma espera’. Apesar de tudo o que lhe fora prometido, não era preciso ‘agredir a Deus’ com orações. Esperar confiantemente n'Ele é melhor que ter todas as respostas. Agostinho expressou essa atitude na conhecida frase: ‘as nossas almas, ó Deus, foram feitas para ti; e nunca descansarão até que descansem em ti”. Para muita gente essa exagerada passividade incomoda, cheira a simplismo, escapismo, ou até negação da realidade; rótulos que os crentes costumam receber. Mas, a bem da verdade, Davi fez uma análise honesta do seu contexto pessoal, estimou os seus recursos, os seus meios de confiança, e chegou a uma conclusão plausível; algo bem diferente de desistência. Assim pensa Ravi Zacharias quando afirma que Deus pôs neste mundo o suficiente para tornar a fé n'Ele uma coisa bem razoável. Mas deixou de fora o suficiente a fim de que viver tão somente pela razão pura fosse impossível. Deus tem prometido guardar em paz os que confiam n'Ele, e isso não muda.

Esperar em silêncio é um esforço da alma, de resignação, mas que requer a mais intensa energia do ser, como ensina MacLaren. Ela não decorre da exaustão de quem já tentou tudo que era possível, mas de uma compreensão de que é necessário silenciar a vontade até que ela seja tão somente um eco da voz de Deus. Como um instrumento que não soa até que o instrumentista lhe toque.

Esperar em silêncio é também criar o ambiente ideal para ouvir Deus, sem tumultos e barulhos estridentes. Mas para o estilo de vida que adotamos isso é praticamente inalcançável. Estamos expostos a um nível de estímulos sobrepostos praticamente desumanos.

A experiência de Davi é paradigmática porque ele dispõe-se a confiar no Senhor não dando importância aos inimigos. A exclusividade e segurança estão marcadas na declaração ‘somente Ele é minha rocha e minha salvação, minha fortaleza'. O apóstolo Paulo teve atitude semelhante quando afirmou que fora impelido pelo Espírito para ir a Jerusalém, sabendo teria que enfrentar prisão e sofrimento. Noutra ocasião, encorajando os crentes de Corinto, ele disse, com autoridade, que as tentações deles não eram diferentes, mas que pela fidelidade de Deus, nada seria permitido além do suportável. É importante lembrar, ainda no contexto da aliança do povo de Israel, que o rei era o legítimo representante de Deus. Portanto, desafiar o líder político dos israelitas era o mesmo que desafiar o Senhor do Exércitos. Enfrentar inimigos do Todo Poderoso não é pouco.

Mas somos tidos em pouca conta por causa da nossa fé. O salmista fez menção disso ao afirmar que as pessoas o viam como uma parede curva, prestes a cair. Não muito diferente de como somos tratados hoje por confiar em Deus. E não é de hoje. Arqueólogos cavando os restos de uma escola em Roma encontraram uma imagem datada do terceiro século. Ela mostra um menino em pé, com a mão levantada, adorando uma figura numa cruz, mas a representação nela é de um homem com a cabeça similar a nádegas. Os pesquisadores chegaram à conclusão que, provavelmente, um jovem cristão sendo ridicularizado pelos seus colegas de escola. O chamado ‘guru do nosso tempo’, Yuval Harari, guardadas as proporções, vai na mesma direção. Numa das suas obras mais recentes ele afirma que não frequentar templos e não acreditar em nenhum deus também é uma opção viável. Como provaram os séculos recentes, não precisamos de invocar o nome de Deus para viver uma vida de moralidade. O secularismo pode prover-nos de todos os valores dos quais precisamos. Para citar uma declaração das ‘menos ofensivas’. O Evangelho é mesmo loucura para os que perecem, mas para nós é o poder de Deus.

A despeito do poderio dos inimigos, da gravidade da situação, ou da falta de perspetiva, Davi fez da sua constatação uma ordem, da garantia uma expetativa, e da confiança um dever. A sua ênfase poética reside na continuidade da confiança. Confiança ocasional é infidelidade contínua. A religião espasmódica é apenas uma variedade de descrença. Ele estava convicto de que o poder pertence a Deus, tanto como o amor, e tudo que estiver em desacordo com essas realidades divinas será armadilha contra a fé.

Para não cair nelas, alguns conselhos bem práticos podem ser extraídos do salmo.

Não confiar em pessoas é o primeiro deles. Isaías e Jeremias fizeram advertências bastante semelhantes nesse sentido. “Não ponham sua confiança em simples mortais; são frágeis como um sopro. Que valor eles têm?” Assim diz o Senhor: “Maldito é quem confia nas pessoas, que se apoia na força humana e afasta seu coração do Senhor.” Isso não significa que não devamos confiar em pessoas, mas sim que não devemos trocar a confiança que temos em Deus, pela que depositamos no que é humano.

O segundo aponta para o perigo de ser autossuficiente, o que implica também, achar que a provisão das bênçãos de Deus está relacionada em primeiro plano à justiça e bondade pessoal. Salomão lembrou que é melhor confiar no Senhor de todo o coração do que depender do próprio entendimento.

O terceiro conselho recomenda não confiar no que é secundário. Quando a Bíblia afirma que se o Senhor não edificar a casa em vão trabalham os que a edificam, não está desprestigiando o planeamento, a técnica, a previdência, mas ensinando que o que é secundário não deve ser colocado em primeiro lugar.

Por fim, um último conselho, muito adequado nos dias que estamos vivendo, não buscar a Deus apenas nas grandes crises da vida. Um teólogo do século 19 escreveu isso de forma singela: “que a nossa confiança seja cultivada no berço da humildade da nossa experiência diária, com as suas pequenas carências, provações e pesares sempre recorrentes; e então, quando necessário, ela se apresentará para as grandes coisas que lhe forem exigidas.”

Quando não há o que fazer, confiar no poder de Cristo é tudo o que podemos fazer (e devemos fazer dia a dia). Não é contraditório, é uma gloriosa expetativa pelo momento em que tudo será submetido ao domínio d'Ele.

Wilson Avilla

Dia 4Dia 6

Sobre este plano

A Escola De Oração

O livro de Salmos é um grande dicionário de emoções e sentimentos. Nele está descrito todo o repertório existencial de qualquer ser humano. Eugene Peterson tem chamado essa coleção de poesias de ‘Escola de Oração’. Os salmos ensinam como orar com confiança e dependência de Deus em todos os momentos da vida, sejam de alegria ou tristeza.

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Gostaríamos de agradecer ao #V3 Comunidade Cristã por fornecer este plano. Para mais informações, visite: https://prwilsonavilla.blogspot.com/