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A MUSICALIDADE DO SALMO

Em princípio, todo salmo é uma composição musical, mas não é apenas esta a razão pela qual podem ser encontrados elementos que emprestam musicalidade ao salmo 37.

O equilíbrio formal e beleza de uma composição não dependem da mera combinação de sons. Há diversos aspetos que determinam as diferenças entre uma obra de arte ou uma cacofonia. Um deles é o contraste. Não há beleza musical sem o adequado uso desse recurso composicional.

O principal assunto do salmo 37 é o contraste entre a vida do justo e do ímpio. O salmista adverte sobre o perigo de uma visão distorcida do ‘sucesso’ dos ímpios, ideia aprofundada pelo sabedoria de Provérbios 4:18 “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.”

James Houston disse: "O sofrimento cristão é como uma nota musical tão grave que nenhum instrumento da orquestra consegue reproduzi-la.”Parece despropositado pensar num som que não possa ser ouvido. Entretanto, a física mostra o contrário, há vários sons inaudíveis ao ouvido humano. Dentre eles está a grande maioria dos chamados harmónicos que nas suas infinitas combinações permitem a variedade dos contrastes timbrísticos. Nas nossas vidas, a injustiça e o sofrimento referenciam os contrastes, às vezes só ouvidos pelo Pai que, na Sua maiúscula soberania, produz inigualável beleza.

De imprescindível valor estético musical é o movimento. As inflexões melódicas e os coloridos harmónicos exaltam o valor artístico da incansável dualidade entre tensão e repouso.

O movimento da vida tem essa característica, desde a criação, da Palavra à existência, da ação ao descanso, e soa como um vigoroso convite à glorificação do Criador, numa Sinfonia a um Deus Maior (tomando de empréstimo uma expressão salientada pelo Pr. Carlos Osvaldo).

Confiar, deleitar-se, entregar, descansar, viver, sofrer, descansar, morrer, são acordes de uma longa cadência que reverbera o refrão “tudo quanto se movimenta, louve ao Senhor”.

A musicalidade do Salmo 37 está na beleza do contraste entre a vida do justo e do ímpio, na singeleza dos movimentos que glorificam a Deus, de tensão e repouso, até mesmo entre a vida e morte. Na eternidade, será revelada toda a musicalidade ‘oculta’ do Salmo 37 e da vida com Deus.

Wilson Avilla