A Escola De OraçãoSample
NÃO HÁ ÁRVORES SEM FRUTOS NO JARDIM DE DEUS
Quando a Bíblia fala em caminhos ela fá-lo em sentido literal e figurado. Ao relatar que Jesus caminhou com os Seus discípulos, por exemplo, isso contempla ambos os significados. Por quase três anos Ele andou com os doze, pelas estradas do lugar que tem a memória da humanidade, como disse Daniel-Rops, onde um andarilho poderia ir de Dã a Berseba numa semana, de Nazaré a Jerusalém em dois dias. Mas Ele também fez com os Seus seguidores no percurso de salvação, da cruz à ressurreição em três dias, da terra à eternidade num gesto sacrificial. As instruções para os que desejam fazer o mesmo trajeto são as Escrituras, que Ele tão bem fixou nos lugares estratégicos do território da soberana vontade do Eterno.
Em pleno século 21, as rotas da existência não são de livre trânsito como se desejaria, muito menos conduzem à imortalidade, antes são de racionalidade a serviço da dominação financeira, como reconhece boa parte dos filósofos do nosso tempo. As transformações nos campos da ciência e das artes, causadas pela descrença nos grandes discursos ‘legitimadores do bom, do justo e do verdadeiro’, deram lugar a uma nova influência mundial, em que as trilhas da fé são consideradas rústicas demais para a ‘nova organização social’ da hipermodernidade, e para a sua espiritualidade descartável.
O primeiro dos Salmos é como um prólogo, e um dos mais conhecidos e favoritos, do Saltério. Ele resume os dois rumos da vida diante de todas as pessoas, o caminho dos justos e o caminho dos ímpios. O salmista diz mais sobre a verdadeira felicidade nesse texto do que qualquer um dos filósofos, ou todos juntos, já fizeram. O conflito com a mentalidade da nossa época é flagrante. Um filósofo observou que, por toda a parte, a ênfase do tempo presente é na obrigação do movimento, a hipermudança sem o peso de qualquer visão utópica, ditada pelo imperativo da eficiência e pela necessidade da sobrevivência. A mitologia da rutura radical foi substituída pela cultura do mais rápido e do sempre mais: mais rentabilidade, mais desempenho, mais flexibilidade, mais inovação. A velocidade alucinante dessa via contrasta com a serena felicidade encontrada pelos que andam no caminho das bênçãos de Deus. A contraposição dos dois caminhos mostra uma diferença não de agilidade, ou de conforto, somente, mas principalmente do ideal de felicidade. Todos o buscam como finalidade de vida, mas quem conhece a Palavra de Deus sabe que o verdadeiro contentamento não é um objetivo a ser perseguido, mas um resultado do temor ao Senhor. Uma pesquisa da Universidade de Harvard, já nos idos da década de 1940, apontou que o maior fator de bem estar era a capacidade para lidar com crises emocionais de forma madura. Não importa a amplitude das hipermudanças, os anseios do ser humano, e o padrão de justiça de Deus, verdadeira vereda de alegria, continuam imutáveis. As pessoas indiferentes às Escrituras persistem deliberadamente no mal, rejeitam as suas marcas, e ridicularizam os seus preceitos, ignoram os custos do pecado, e para a nossa perplexidade tornam-se referencial do que é correto. Malaquias, último dos profetas antes do período intertestamentário, no entanto, adverte que chegará o dia em que será vista a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não servem.
Até que isso aconteça em definitivo a distinção entre eles será vista nas condutas de uns e outros. O poeta bíblico afirma que a grande característica do justo é recusar-se a viver de forma desagradável a Deus (não segue o conselho de pecadores, não imita a conduta deles, e não se junta a eles). O íntegro tem aversão ao pecado, e não se intimida em seguir por onde as grandes multidões não pisam. Jesus aprofundaria essa figura ao falar sobre o portão e o caminho, estreitos e largos (Mateus 7:13).
A poesia sagrada não se limita a descrever o que a pessoa piedosa não faz, mas também o que ela faz – medita na Lei do Senhor, dia e noite, e a sua satisfação está nisso. Meditar, nesse contexto, é discursar consigo mesmo sobre as grandes verdades do texto inspirado, com aplicações íntimas, fixação de pensamento, até adequada assimilação do coração, como ensinou Matthew Henry. A reflexão sugerida não é a contemplação ascética, mas sim a consideração íntima contínua no decorrer das atividades diárias, independentemente de hora ou contexto, respondendo à vida de acordo com a palavra de Deus. A filosofia oriental, em geral, propõe o completo esvaziar da mente como meio de encontrar o equilíbrio interior. A Bíblia, entretanto, revela a importância da Palavra, e do enchimento da mente com o seu conteúdo para encontrar no Criador o propósito da existência. O mundo foi criado por ela, a encarnação do Verbo fê-la concreta, e o sussurro do Espírito espalha-a em difusa multiplicação.
Essa profusão de significados para descrever o justo remete à metáfora da árvore plantada à beira de águas correntes, que dá fruto no tempo certo e as suas folhas não murcham. No contexto do Primeiro Testamento, o fruto que Deus disse que o reto produziria era de prosperidade física e material basicamente. No Novo Testamento a ideia é muito mais de um caráter transformado (cf. Gálatas 5:22-23). Em ambos os cenários o resultado é a bênção de Deus nas Suas palavras e obras, e a prosperidade alcançada atende aos critérios de Deus, e não necessariamente do mundo – conclusão não improvável, já que a parte mais importante de uma árvore é o seu sistema oculto de raízes. Trapp chegou a propor que não há árvores estéreis no pomar de Deus.
Mas quando se fala dos ímpios, a história é outra. E os crentes que leem qualquer dos textos que contrapõem justos e injustos, arrogam-se logo como padrão de virtude, vociferando contra os perversos. A bem da verdade a palavra usada no versículo denota aqueles que têm pouca ou nenhuma consideração por Deus, e que vivem para satisfazer as suas paixões. Eles não são necessariamente depravados e malignos, ‘apenas’ não se importam com a dimensão espiritual da vida, por isso são superficiais. No julgamento serão pesados como palha, e à semelhança de Belsazar[6], achados em falta. Tanto no futuro, quanto no presente, pecadores não podem partilhar do mesmo destino glorioso dos que temem ao Senhor, já que os caminhos seguem direções opostas.
O salmo 1 é um aviso solene de que o leitor deve viver a sua vida tendo em vista o julgamento final de Deus, alerta Charles Swindoll. Ele indica que não só o caminho divino é o único adequado, mas também produz uma existência verdadeiramente benéfica agora.
Wilson Avilla
Scripture
About this Plan
O livro de Salmos é um grande dicionário de emoções e sentimentos. Nele está descrito todo o repertório existencial de qualquer ser humano. Eugene Peterson tem chamado essa coleção de poesias de ‘Escola de Oração’. Os salmos ensinam como orar com confiança e dependência de Deus em todos os momentos da vida, sejam de alegria ou tristeza.
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