Pecado Grande, Graça Muito MaiorSample

O pecador que foi alcançado pela graça de Deus percorre um caminho em que os planos individual e geral da redenção entram em cena na mesma curva: Deus, através do sacrifício de Cristo, opera uma redenção individual no pecador, chamando-o ao arrependimento e à fé, mas também uma redenção que promove a renovação de todas as coisas – o pecado de Adão e Eva trouxe a corrupção geral ao ser humano e a toda a criação de Deus. O crente passa a ser definido individual e coletivamente pelo que Jesus fez na cruz.

Mas há um perigo constante para o cristão na sua nova vida: a tentação de definir-se a si mesmo, ou seja, ser definido sobretudo pelo que ele passa a fazer depois de ter sido salvo e não necessariamente pelo que Jesus já fez. Nesta lógica, a nova vida do cristão será apenas a passagem de um conjunto de atos biblicamente reprováveis para um conjunto de atos biblicamente aceites. A intenção é boa, mas terrivelmente perigosa. Quando o foco está na novidade do que agora se faz, a avaliação do nosso bem estará sempre no nosso talento e na comparação com o talento dos outros, e assim a justificação que estamos a proclamar será sempre uma fundada no nosso próprio desempenho. Este perigo é válido no trajeto individual e coletivo de qualquer discípulo de Jesus: individualmente, o crente será comandado pela sua irredutível obsessão em não quebrar regras - nobre, mas cego; coletivamente, o crente verá no cristianismo uma espécie de partido político onde se poderá assumir como virtuoso defensor da verdadeira moral e justiça - cívico, mas equivocado.

Precisamos mesmo de um salvador porque até nos melhores momentos vemos o pior que podemos fazer: o quão natural é recomendar-nos a nós mesmos com o pretexto de estarmos a recomendar a graça de Deus. Não é preciso inventar muito: o fim da nossa salvação é a glória de Deus em Jesus Cristo.

Senhor, quem seríamos nós sem o sangue derramado na cruz? Seríamos nada. Todo o nosso valor reside em sermos feitos à Tua imagem e para a Tua glória. Perdoa, Senhor, a presunção de acharmos que há mérito em nós, fora de Ti. Humilha-nos a ponto de sermos como Jesus, e tem misericórdia de nós.