'Causos' de Família - 03Exemplo

MEU PAI....

As mãos de Moisés, porém, ficaram cansadas... - Êxodo 18.12

Quando nos casamos, eu e mamãe ganhamos poucos presentes, nenhum de grande valor comercial. Daqueles itens mais caros, tudo tivemos que comprar em seguida: geladeira, televisão, fogão, máquina de lavar roupa, enfim, quase tudo...

Meu pai não precisou de muito dinheiro para nos dar um presente: deu-nos uma Bíblia e fez uma dedicatória muito bonita. Guardamos aquele presente com muito carinho, e o guardamos tão bem que poucas vezes usamos. Só muito tempo depois, já conscientes da salvação em Cristo, pudemos dar o verdadeiro valor àquele presente do Vô Zé. Naquele livro tomei gosto pela leitura e pelo estudo da Palavra de Deus.

Um certo dia, lendo essa agora surrada Bíblia, pude “ver a fotografia” de papai em alguns versículos no livro de Êxodo. Este texto descreve um momento ímpar na vida de Moisés que, colocando-se frente ao seu povo que guerreava, levanta os braços pedindo para eles, as bênçãos de Deus. O texto nos mostra que, enquanto Moisés permanecia com os braços levantados, seu povo vencia a batalha; sempre que seus braços arriavam, o inimigo vencia.

Essa parte das escrituras me fez ver a figura de papai. Ele sempre fora um homem de dobrar os joelhos e que incansavelmente orava e pedia as bênçãos de Deus para toda sua família: filhos e filhas, noras e genros, netos e bisnetos. E esta, que é a nossa família, tem sido vitoriosa e diria mesmo que, mais que vitoriosa por Cristo Jesus; para verificarmos isso basta olhar nosso próprio passado. É absolutamente certo que as vitórias alcançadas têm como razão as bênçãos de Deus; e também é certo que papai orava diariamente por cada um de nós!

No último dia 29 de Junho papai foi chamado pelo Pai. Assim que nós soubemos da notícia, e enquanto nos preparávamos para viajar para Assis, aquele texto sobre Moisés veio imediatamente à minha memória. Tomei a velha bíblia, já com muitas folhas desprendidas pelos vinte e sete anos de uso, e a coloquei no porta-luvas do carro. Ela certamente seria usada durante o Ofício Fúnebre, de tal forma que, aquele que tinha sido o “grande presente de papai” seria usada em um momento especialmente marcante para mim e para nós todos.

Às quatorze horas do domingo dia 30, ao som cristalino de um violão, um jovem pastor nos liderava nos cânticos. Cantamos belos e tocantes hinos, muitos dos quais nos acostumamos a ouvir papai cantar e assobiar. Os hinos entoados com vozes embargadas saiam do mais profundo de nossos sentimentos e subiam aos céus como agradecimento pela vida de papai, um homem que honrara o nome de cristão.

Antes que o pastor fizesse a pregação da Palavra, perguntou se algum filho gostaria de falar. Meu coração palpitou desejando ler aquele texto de Êxodo, mas não dei o passo à frente. O Édison, filho mais velho, assumindo a condição de líder, tomou a palavra falou-nos sobre papai, contando fatos que marcaram sua personalidade e seu jeito de ser, sempre muito enérgico e ao mesmo tempo, bondoso e emotivo. O Edison nos comoveu.

Assim que ele terminou, dei o passo que meu coração exigia, pedi a palavra, abri a velha Bíblia e li aquele texto sublinhado há tanto tempo, onde escrevera ao lado, as palavras “Meu Pai”. O texto diz o seguinte: “Então, veio Amaleque e pelejou contra Israel em Refidim. Com isso, ordenou Moisés a Josué: - Escolhe-nos homens, e sai, e peleja contra Amaleque; amanhã, estarei eu no cimo do outeiro, e o bordão de Deus estará na minha mão. Fez Josué como Moisés lhe dissera e guerreou contra Amaleque; Moisés, porém, Arão e Hur subiram ao cume do outeiro. Quando Moisés levantava a mão, Israel prevalecia; quando, porém, ele abaixava a mão, prevalecia Amaleque. Ora, as mãos de Moisés eram pesadas; por isso, tomaram uma pedra e a puseram por baixo dele, e ele nela se assentou; Arão e Hur sustentavam-lhe as mãos, um, de um lado, e o outro, do outro; assim lhe ficaram as mãos firmes até ao pôr-do-sol. E Josué desbaratou a Amaleque e a seu povo a fio de espada. Então, disse o SENHOR a Moisés: - Escreve isto para memória num livro e repete-o a Josué...” - Exodo 17.8-14.

Consegui fazer a leitura segurando as lágrimas, e pudemos concluir todos, que assim como Moisés fora um patriarca, também o fora nosso velho pai. Assim como Moisés levantou suas mãos e pediu as bênçãos para seu povo, assim também sempre o fizera nosso pai. Assim como o povo de Israel se tornava vencedor enquanto os braços de Moisés estavam levantados, nós sabemos que nossa família também tem sido vencedora até aqui. Lemos também que os braços de Moisés estavam cansados e por isso arriavam e nesses momentos seu povo era derrotado. Lemos também que alguns homens tomaram a iniciativa de segurar os braços de Moisés para que estes permanecessem erguidos e pedindo bênçãos até o pôr-do-sol...

Sentimos em nossos corações a realidade de que os braços de papai haviam ficado cansados além da conta, e que o pôr-do-sol já acontecera; as suas guardas estavam arriadas e seus joelhos nunca mais se dobrariam em nosso favor. O povo de Israel era derrotado enquanto Moisés tinha os braços baixados. E quanto a nós que não teremos mais o nosso patriarca orando por cada um? E agora? O que fazer para continuar obtendo vitórias, quando sabemos que para nós as lutas não cessaram?

Na leitura do texto bíblico, vimos que o Senhor ordena a Moisés que escreva tudo e relate à Josué, um novo líder que despontava. Josué era alguém que certamente iria continuar a interceder pelas vitórias do povo de Deus! A quem caberá a tarefa de continuar suplicando a Deus pelos filhos e netos? Outros patriarcas e matriarcas estão se estabelecendo naturalmente, novas lideranças são e serão firmadas, porém o desafio é o mesmo: Buscar a Deus em favor de nosso povo!

Quanto a mim, estou escrevendo tudo e repetindo esta história...

Americana, 01 de Julho de 2002

Meu pai era muito bonito e bom violonista... Vejam este vídeo com a voz de meu pai e o violão dele. Eu estou tentando dublar Seu Zé e a Lelê, minha neta está tentando dublar seu violão. A música e letra são de autoria do velho pai, Seu Zé Luziano.

Edilaney