Certo dia, Abimeleque, filho de Gideão, foi a Siquém visitar os irmãos de sua mãe e disse a eles e aos demais membros do seu clã materno: “Perguntem aos líderes de Siquém se preferem ser governados por todos os setenta filhos de Gideão ou por um só homem. E lembrem-se de que eu sou da mesma carne e do mesmo sangue de vocês!”.
Então os tios de Abimeleque transmitiram sua mensagem a todos os líderes de Siquém, que, depois de ouvirem a proposta, decidiram em favor de Abimeleque, pois era parente deles. Deram-lhe setenta moedas de prata do templo de Baal-Berite, que ele usou para contratar indivíduos desocupados e desordeiros que concordaram em segui-lo. Ele foi à casa de seu pai em Ofra e ali, sobre uma pedra, matou todos os seus setenta meios-irmãos, os filhos de Gideão, exceto Jotão, o filho mais novo, que fugiu e se escondeu. Então os líderes de Siquém e Bete-Milo convocaram uma reunião debaixo do carvalho perto da coluna em Siquém e proclamaram Abimeleque rei.
Quando Jotão soube disso, subiu ao topo do monte Gerizim e gritou:
“Ouçam-me, cidadãos de Siquém!
Ouçam-me se querem que Deus os ouça!
Certa vez as árvores resolveram ungir um rei.
Primeiro disseram à oliveira:
‘Seja nosso rei!’.
Mas a oliveira se recusou e disse:
‘Devo deixar de produzir o óleo que agrada a Deus e às pessoas,
só para ser a mais alta das árvores que o vento agita?’.
“Então disseram à figueira:
‘Seja nosso rei!’.
Mas a figueira também se recusou e disse:
‘Devo deixar de produzir meus frutos doces e deliciosos,
só para ser a mais alta das árvores que o vento agita?’.
“Então disseram à videira:
‘Seja nosso rei!’.
Mas a videira também se recusou e disse:
‘Devo deixar de produzir o vinho que alegra a Deus e às pessoas,
só para ser a mais alta das árvores que o vento agita?’.
“Por fim, todas as árvores se voltaram para o espinheiro e disseram:
‘Seja nosso rei!’.
E o espinheiro respondeu às árvores:
‘Se querem mesmo ungir-me seu rei,
venham abrigar-se à minha sombra.
Se não, que saia fogo de mim
e queime os cedros do Líbano’”.
Jotão prosseguiu: “Será que vocês de fato agiram de forma honrada e íntegra ao proclamar Abimeleque seu rei? Será que foram justos com Gideão e seus descendentes? Vocês o trataram como ele merece, tendo em vista tudo que realizou? Meu pai lutou por vocês e arriscou a vida para libertá-los dos midianitas. Mas hoje vocês se rebelaram contra ele e seus descendentes e mataram seus setenta filhos sobre uma pedra. Escolheram Abimeleque, filho da escrava dele, para ser rei só porque ele é seu parente.
“Se hoje agiram de forma honrada e íntegra com Gideão e seus descendentes, então que sejam felizes com Abimeleque, e ele seja feliz com vocês. Mas, se não o fizeram, então que saia fogo de Abimeleque e queime os líderes de Siquém e Bete-Milo, e saia fogo dos líderes de Siquém e Bete-Milo e queime Abimeleque!”.
Então Jotão fugiu e foi morar em Beer, pois tinha medo de seu irmão Abimeleque.
Depois que Abimeleque havia governado Israel por três anos, Deus enviou um espírito que gerou discórdia entre Abimeleque e os líderes de Siquém, que se rebelaram. Foi um castigo para Abimeleque por ele ter assassinado os setenta filhos de Gideão e para os líderes de Siquém por terem apoiado Abimeleque no assassinato de seus irmãos. Os líderes de Siquém prepararam uma emboscada para Abimeleque no alto dos montes e assaltavam todos os que passavam por ali. Contudo, alguém alertou Abimeleque sobre essa conspiração.
Nessa época, Gaal, filho de Ebede, se mudou para Siquém com seus irmãos e ganhou a confiança dos líderes da cidade. Depois de irem ao campo, colherem as uvas e pisarem nelas, realizaram uma festa da colheita, no templo do deus local. Foi servido vinho à vontade, e todos começaram a amaldiçoar Abimeleque. “Quem é Abimeleque?”, disse em alta voz Gaal, filho de Ebede. “Se não é um verdadeiro filho de Siquém, por que devemos servi-lo? É apenas filho de Gideão, e esse Zebul é apenas seu ajudante. Sirvam aos verdadeiros filhos de Hamor, o fundador de Siquém! Por que devemos servir a Abimeleque? Se eu estivesse no comando, me livraria de Abimeleque. Diria a ele: ‘Convoque seus soldados e venha lutar!’.”
Mas, quando Zebul, que governava a cidade, tomou conhecimento das palavras de Gaal, ficou furioso. Enviou mensageiros a Abimeleque em Arumá para lhe dizer: “Gaal, filho de Ebede, e seus irmãos se mudaram para Siquém e estão instigando a cidade a se rebelar contra você. Venha de noite com seu exército e esconda-se nos campos. Pela manhã, assim que o sol nascer, ataque a cidade. Quando Gaal e aqueles que o acompanham saírem para lutar contra você, faça com eles o que desejar”.
Então Abimeleque e todos os seus homens saíram de noite, dividiram-se em quatro grupos e armaram uma emboscada ao redor de Siquém. Gaal, filho de Ebede, estava à porta da cidade quando Abimeleque e seu exército saíram de seus esconderijos. Quando Gaal os viu, disse a Zebul: “Olhe, há pessoas descendo do alto das colinas!”.
Zebul respondeu: “São apenas as sombras dos montes que se parecem com homens”.
Mas Gaal insistiu: “Não! São pessoas descendo das colinas. E outro grupo vem pela estrada que passa pelo Carvalho dos Adivinhos”.
Zebul se voltou para ele e perguntou: “Onde foi parar toda a sua conversa? Não foi você que disse: ‘Quem é Abimeleque e por que deveríamos servi-lo?’. Os homens dos quais você zombou estão logo ali do lado de fora da cidade! Saia e lute contra eles!”.
Então Gaal marchou à frente dos líderes de Siquém para a batalha contra Abimeleque. Abimeleque perseguiu Gaal, e muitos homens de Siquém foram feridos e caíram pelo caminho enquanto recuavam até o portão da cidade. Abimeleque voltou a Arumá, e Zebul expulsou Gaal e seus irmãos de Siquém.
No dia seguinte, o povo de Siquém saiu para guerrear nos campos. Abimeleque soube disso, dividiu seus homens em três grupos e armou emboscadas nos campos. Quando Abimeleque viu o povo sair da cidade, ele e seus homens saíram de seus esconderijos e atacaram. Abimeleque e seu grupo tomaram de assalto o portão da cidade para impedir que os homens de Siquém voltassem para dentro. Enquanto isso, os outros dois grupos atacaram e mataram aqueles que estavam nos campos. A batalha durou o dia inteiro. Por fim, Abimeleque tomou Siquém e matou seus habitantes. Depois, destruiu a cidade e espalhou sal em todo o solo.
Ao tomarem conhecimento do que havia acontecido, os líderes que viviam na torre de Siquém correram e se esconderam na fortaleza do templo de Baal-Berite. Quando alguém informou Abimeleque de que esses habitantes estavam reunidos ali, ele levou seu exército ao monte Zalmom. Pegou um machado, cortou alguns galhos de uma árvore e os pôs sobre os ombros. “Rápido! Façam como eu!”, disse a seus homens. Assim, cada um cortou alguns galhos e fez como Abimeleque. Então amontoaram os galhos junto às paredes do templo e puseram fogo. Todos que viviam na torre de Siquém morreram, cerca de mil homens e mulheres.
Em seguida, Abimeleque atacou a cidade de Tebes e a conquistou. No meio da cidade, porém, havia uma torre forte, e toda a população, homens e mulheres, fugiu para lá. Trancaram-se por dentro e subiram até o terraço. Abimeleque foi até a torre e a atacou. Mas, quando se preparava para incendiar a entrada da torre, uma mulher que estava no terraço jogou na cabeça de Abimeleque uma pedra de moinho, que rachou seu crânio.
Sem demora, ele disse a seu jovem escudeiro: “Tire a espada e mate-me! Assim ninguém dirá que uma mulher matou Abimeleque!”. O jovem o atravessou com sua espada, e ele morreu. Quando os israelitas viram que Abimeleque estava morto, debandaram e voltaram para casa.
Desse modo, Deus castigou Abimeleque pelo mal que ele havia feito a seu pai, matando os setenta irmãos. Deus também castigou os homens de Siquém por toda a sua maldade. Assim cumpriu-se a maldição de Jotão, filho de Gideão.