A BênçãoExemplo

Introdução:
No princípio, quando o Verbo pairava sobre as águas primordiais, o Espírito de Deus sussurrou: "Shalom". Este shalom não era meramente a ausência de caos, mas a presença vibrante da harmonia divina, tecendo a tapeçaria do cosmos com fios de graça e ordem. "E te dê a paz" - estas palavras finais da bênção aarônica ecoam aquele sussurro primordial, convidando-nos a mergulhar nas águas profundas da paz que transcende todo entendimento.
Imagine-se às margens do Mar da Galileia, as ondas agitadas pela tempestade noturna, o medo palpável no ar. De repente, uma figura caminha sobre as águas turbulentas, Sua voz elevando-se acima do rugido da tormenta: "Tende bom ânimo; sou eu, não temais" (Mateus 14:27, ARC). Este é o Príncipe da Paz, cuja presença acalma não apenas as ondas externas, mas as tempestades que rugem em nossos corações.
Hoje, navegaremos pelas correntes profundas desta paz divina. Exploraremos o que significa receber o shalom do SENHOR, como ele transforma nossa realidade interior e exterior, e como podemos nos tornar canais deste rio de paz em um mundo sedento por reconciliação e integridade.
I.Shalom
A palavra hebraica para paz, "shalom" (שָׁלוֹם), carrega um significado muito mais rico e profundo do que sua tradução em português pode sugerir. Shalom não é apenas a ausência de conflito, mas a presença de plenitude, bem-estar e harmonia em todas as dimensões da vida.
O conceito de shalom abrange uma completude que permeia todos os aspectos da existência. É como Jó, que declara que suas tendas estão em um estado de shalom porque, ao contar seu rebanho, nenhum animal está faltando (Jó 5:24). Esta ideia de integridade e plenitude se estende ao bem-estar pessoal. Quando Davi visita seus irmãos no campo de batalha, ele pergunta sobre o shalom deles (1 Samuel 17:18), indagando não apenas sobre sua segurança física, mas sobre seu bem-estar completo.
A essência do shalom reside na compreensão de que a vida é complexa, cheia de partes móveis, relacionamentos e situações. Quando qualquer um desses elementos está desalinhado ou ausente, nosso shalom se quebra. A vida deixa de ser completa e precisa ser restaurada.
De fato, quando usado como verbo, shalom significa literalmente tornar completo ou restaurar. Vemos isso quando Salomão traz shalom ao templo inacabado ao completá-lo (1 Reis 9:25). Ou quando, na lei mosaica, se seu animal danifica acidentalmente o campo do seu vizinho, você deve "shalom" a situação, fornecendo uma restituição completa pela perda (Êxodo 22:4). Você pega o que está faltando e restaura à integridade.
O mesmo princípio se aplica às relações humanas. No livro de Provérbios, reconciliar e curar um relacionamento quebrado é trazer shalom (Provérbios 16:7). E quando reinos rivais fazem shalom na Bíblia, não significa apenas que eles param de lutar, mas que começam a trabalhar juntos para o benefício mútuo.
Este estado de shalom era o que os reis de Israel deveriam cultivar, embora raramente tenha acontecido. Por isso, o profeta Isaías olhou para o futuro, antevendo um rei vindouro, um príncipe de shalom. Seu reinado traria um shalom sem fim - um tempo em que Deus faria uma aliança de shalom com seu povo, corrigindo todos os erros e curando tudo o que foi quebrado (Isaías 9:6-7, 54:10).
Quando o SENHOR promete nos dar paz em Números 6:26, Ele está oferecendo esta realidade abrangente de shalom. É um convite para experimentarmos a restauração completa em todas as áreas de nossa vida - espiritual, emocional, relacional e material. Esta paz divina não é uma mera ausência de problemas, mas uma presença ativa de bem-estar e integridade que permeia toda a nossa existência.
Em Isaías 26:3, lemos: "Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti" (ARC). Esta passagem revela que o shalom divino está intrinsecamente ligado à nossa confiança em Deus. Não é algo que alcançamos por nossos próprios esforços, mas um dom que recebemos ao nos ancorarmos no Eterno, permitindo que Ele restaure e complete todas as áreas de nossa vida.
Assim, quando o SENHOR nos dá Sua paz, Ele está essencialmente nos convidando a participar de Sua própria natureza de completude e perfeição. Estamos sendo chamados a experimentar e refletir a harmonia divina que sustenta o universo, tornando-nos agentes de shalom em um mundo fragmentado e conflituoso.
II. Paz
A promessa de paz em Números 6:26 encontra sua expressão mais plena e poderosa na vinda de Jesus Cristo. No Novo Testamento, o nascimento de Jesus é anunciado como a chegada da "eirene" (εἰρήνη), a palavra grega para paz. Esta não é uma coincidência linguística, mas uma profunda declaração teológica sobre a missão de Jesus como o cumprimento da promessa de shalom do Antigo Testamento.
Jesus veio para oferecer Sua paz a todos, como Ele mesmo declarou aos Seus seguidores: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá" (João 14:27, ARC). Esta paz que Jesus oferece não é uma mera sensação de tranquilidade, mas uma restauração completa e radical de tudo o que foi quebrado pelo pecado.
Os apóstolos proclamaram que Jesus estabeleceu a paz entre a humanidade caída e Deus através de Sua morte e ressurreição. A ideia central é que Ele restaurou à integridade o relacionamento rompido entre os seres humanos e seu Criador. É por isso que o apóstolo Paulo pode afirmar que Jesus, Ele mesmo, é nossa paz (Efésios 2:14). Cristo é o ser humano completo e íntegro que fomos criados para ser, mas falhamos em nos tornar. Agora, Ele nos oferece Sua própria vida como um dom gratuito.
Esta realidade transformadora significa que os seguidores de Jesus são agora chamados a serem criadores de paz. Paulo instruiu as igrejas locais a manterem sua unidade através do vínculo da paz, o que requer humildade, paciência e suportar uns aos outros em amor (Efésios 4:2-3). Tornar-se uma pessoa de paz significa participar da vida de Jesus, que reconciliou todas as coisas no céu e na terra, restaurando a paz através de Sua morte e ressurreição.
A paz, portanto, exige muito trabalho, porque não é apenas a ausência de conflito. A verdadeira paz requer tomar o que está quebrado e restaurá-lo à integridade, seja em nossas vidas pessoais, em nossos relacionamentos ou em nosso mundo. Este é o rico conceito bíblico de paz que encontramos tanto no shalom do Antigo Testamento quanto na eirene do Novo Testamento.
Desafio: Reflita sobre áreas de sua vida que parecem estar em conflito ou desarmonia. Como seria a restauração completa nessas áreas à luz do que Jesus realizou? Identifique uma situação específica em sua vida ou comunidade onde você pode ser um agente ativo de paz, trabalhando para restaurar o que está quebrado. Escreva um plano de ação concreto para ser um "criador de paz" nesta situação, inspirado pelo exemplo de Cristo.
Lembre-se, a paz que Deus oferece através de Cristo é uma paz restauradora. Ela não apenas acalma nossas ansiedades presentes, mas cura as feridas do passado e nos prepara para um futuro de esperança. É uma paz que reintegra todas as partes fragmentadas de nossa existência, nos capacitando a viver como embaixadores do shalom divino em um mundo que anseia por restauração.
III. Graça e Paz
A paz que Cristo oferece não é apenas um conceito teológico, mas uma realidade transformadora que começa com a graça de Deus. A vida cristã tem seu fundamento no amor condescendente de Deus, em Sua bondade benevolente e em Seu favor imerecido. Em outras palavras, começa com a graça.
Este favor imerecido inicia-se com a fé do cristão, enquanto a paz é o resultado dessa fé. A humanidade caída tem uma noção mínima e distorcida de paz. Como o Dr. Martyn Lloyd-Jones sabiamente observou, o termo "reconciliação" captura de forma mais precisa a imagem bíblica do que Deus promete em termos de paz.
A paz que Deus oferece é multidimensional e abrangente. Ela inclui:
1.Paz com Deus: A restauração do relacionamento rompido pelo pecado.
2.Paz consigo mesmo: A harmonia interior que vem do perdão e da aceitação divina.
3.Paz com os outros: A capacidade de viver em harmonia e reconciliação com nosso próximo.
Esta paz, fundamentada na graça divina, nos capacita a nos tornarmos pacificadores. Como recebemos o que não merecemos, somos chamados e capacitados a estender essa mesma graça aos outros. A paz de Deus nos transforma em agentes de reconciliação, capazes de amar até mesmo nossos inimigos. Isso ocorre porque, através da graça, desenvolvemos empatia e compreensão, reconhecendo que o problema central da humanidade é o pecado - uma condição que compartilhamos e da qual fomos libertados não por mérito próprio, mas pela graça divina.
É crucial entender que esta graça e paz só vêm através do Senhor Jesus Cristo. Negar a exclusividade de Cristo é negar o próprio cristianismo e o único lugar onde graça, paz e glória podem ser encontradas. Em Cristo, temos acesso a uma fonte inesgotável de graça que nos capacita a viver em paz, mesmo em meio a um mundo conflituoso.
Paulo enfatiza esta verdade em Efésios 2:14-18 (ARC):
"Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto; porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito."
Este texto revela que Cristo não apenas traz paz, mas Ele é nossa paz. Sua obra na cruz não foi apenas para reconciliar-nos com Deus, mas para restaurar a harmonia em todas as dimensões da existência. Ele derrubou as barreiras que nos separavam de Deus, uns dos outros e de nossa verdadeira identidade.
Viver nesta realidade de graça e paz transforma nossa perspectiva e nossas ações. Não somos mais controlados pelo medo ou pela ansiedade, mas motivados pelo amor e pela confiança em Deus. Esta paz interior, fruto da graça, nos capacita a enfrentar conflitos e desafios com sabedoria e compaixão.
Desafio: Reflita sobre como a graça de Deus tem operado em sua vida para produzir paz. Identifique uma situação de conflito em seu ambiente e considere como você pode aplicar os princípios da graça e paz de Cristo nessa situação. Como você pode ser um agente de reconciliação, refletindo a graça que recebeu?
Lembre-se, a paz que temos em Cristo não é apenas para nosso benefício pessoal, mas para ser compartilhada. Somos chamados a ser embaixadores desta paz transformadora em um mundo que desesperadamente precisa de reconciliação.
IV. Pacificadores
"Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" (Mateus 5:9, ARC). Esta bem-aventurança de Jesus não é apenas uma promessa, mas um chamado para vivermos como agentes ativos da paz de Deus no mundo. Ser um pacificador é mais do que evitar conflitos; é trabalhar ativamente para trazer a restauração e a reconciliação que caracterizam o shalom divino.
Para vivermos como verdadeiros pacificadores, precisamos primeiro experimentar a paz de Deus em nossas próprias vidas. Paulo nos oferece um guia prático para isso em Filipenses 4:4-12 (ARC):
"Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos. Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor. Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus."
Este texto nos ensina vários princípios fundamentais para vivermos na paz de Deus:
1.Alegria constante no Senhor: Nossa paz não depende das circunstâncias, mas de nossa relação com Deus.
2.Gentileza notória: Nossa paz interior deve se manifestar em nossas interações com os outros.
3.Consciência da presença de Deus: Lembrar que "perto está o Senhor" nos ajuda a manter a perspectiva em tempos difíceis.
4.Oração em vez de ansiedade: Ao invés de nos preocuparmos, somos chamados a levar tudo a Deus em oração.
5.Gratidão: A ação de graças nos ajuda a focar no que Deus já fez, fortalecendo nossa confiança nEle.
6.Proteção sobrenatural: A paz de Deus, que supera nossa compreensão, protege nossos corações e mentes.
Viver nesta realidade de paz nos capacita a ser instrumentos da paz de Deus no mundo. Quando nossas mentes e corações estão guardados pela paz divina, podemos enfrentar conflitos e tensões com uma perspectiva diferente. Não somos mais controlados pelo medo ou pela necessidade de nos defender, mas podemos agir com amor, compaixão e sabedoria.
Ser um pacificador significa:
1.1. Buscar a reconciliação: Trabalhar ativamente para restaurar relacionamentos quebrados, começando em nossas próprias famílias e comunidades.
2.Promover a justiça: A verdadeira paz não pode existir onde há opressão. Pacificadores lutam pela justiça de maneiras não violentas.
3.Praticar a empatia: Ouvir e tentar entender diferentes perspectivas, mesmo quando discordamos.
4.Falar a verdade em amor: Abordar conflitos de maneira honesta, mas sempre com gentileza e respeito.
5.Perdoar: Assim como fomos perdoados por Deus, devemos estender o perdão aos outros.
6.Interceder: Orar pelos conflitos em nossas comunidades e no mundo, pedindo a intervenção de Deus
Atividade: Esta semana, pratique ser um "instrumento da paz de Deus". Comece cada dia com um tempo de oração, usando o modelo de Filipenses 4:4-12. Entregue suas ansiedades a Deus e peça que Ele o encha com Sua paz. Então, identifique uma situação de conflito ou tensão em seu ambiente (família, trabalho, comunidade) e busque ativamente ser um agente de paz nessa situação.
Isso pode envolver:
·Oferecer uma palavra de encorajamento a alguém que está lutando
·Tomar uma ação concreta para promover reconciliação em um relacionamento tenso
·Interceder em oração por uma situação de conflito em sua comunidade ou no mundo
Mantenha um diário de suas experiências, observando como a paz de Deus em você afeta as situações ao seu redor. Reflita sobre como sua perspectiva e ações mudam quando você está ancorado na paz de Deus.
Lembre-se, ser chamado de filho de Deus não é apenas um título, mas uma identidade que devemos viver. Ao nos tornarmos pacificadores, refletimos a natureza de nosso Pai celestial, que é o Deus de toda paz. Que possamos, através de nossas vidas de oração e ação, ser canais da paz transformadora de Deus em um mundo que tanto precisa dela.
Conclusão:
"E te dê a paz" - nestas palavras, descobrimos não apenas uma bênção final, mas um convite para participarmos da própria natureza de Deus. O shalom que o SENHOR oferece não é uma mera pausa nos conflitos da vida, mas uma realidade transformadora que redefine nossa existência, restaurando-nos à plenitude para a qual fomos criados.
Que possamos viver cada dia imersos neste rio de paz divina, com corações abertos para recebê-lo em sua plenitude, e com vidas prontas para canalizar suas águas vivificantes para um mundo ressequido pelo conflito e pela fragmentação. Que nossas existências se tornem testemunhos vivos do Deus de shalom, oásis de reconciliação em um deserto de divisão.
E lembremos sempre que o shalom supremo é encontrado em Cristo, o cumprimento de todas as promessas de Deus. Nele, vemos a paz de Deus encarnada, a harmonia divina restaurada à humanidade. Ele nos deu Sua paz para que pudéssemos ser não apenas recipientes, mas distribuidores desta realidade celestial. Como Paulo nos lembra: "Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes, em tudo, sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus" (Filipenses 4:6-7, ARC).
Portanto, ao sairmos daqui hoje, que possamos viver como aqueles que não apenas receberam, mas que são chamados a encarnar e compartilhar o shalom do SENHOR. Que cada palavra que falamos, cada ação que realizamos, cada oração que oferecemos seja um reflexo deste rio de paz divina. E que, ao final de nossa jornada, possamos ouvir as palavras do Príncipe da Paz: "Vem, servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor" (Mateus 25:21, ARC) - um gozo que é a plenitude do shalom eterno.
Que a Paz do SENHOR, que excede todo entendimento, seja nossa porção hoje e sempre, transbordando de nós para curar e restaurar o mundo ao nosso redor. Amém.
As Escrituras
Sobre este Plano

Ao explorarmos a primeira palavra da Bênção Aarônica, "O SENHOR", descobriremos que este Nome é mais do que letras em uma página. É um portal para a própria natureza de Deus, um chamado para conhecê-Lo como Ele verdadeiramente é.
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