Voltando Para CristoExemplo

Arrependimento Genuíno

"De todas as ações do homem, o arrependimento é a mais divina. A pior de todas as ofensas de alguém é não estar consciente de nenhuma delas" - Thomas Carlyle

Bem-vindo ao segundo dia do nosso devocional! Hoje, exploraremos algo crucial em momentos de reconciliação com Deus, mas também a cada dia da jornada com Ele. O caminho do cristão é o caminho do arrependimento - isso não deixa de ser crucial por um dia sequer. Afinal, não podemos nos aproximar de Jesus sem deixar para trás aquilo que ofende sua santidade.

E o termo é conhecido na vida cotidiana da igreja: lemos em passagens bíblicas, escutamos em pregações e cantamos nas letras das músicas. Não há uma história de conversão que não o tenha como uma de suas etapas mais importantes. Mas o que de fato significa se arrepender?

Todos conhecemos a sensação de perceber que fizemos algo de errado, que assola a consciência e nos faz sentir vergonha. Pode ser que neste momento seja exatamente isso o que está acontecendo com você: a memória de certos feitos é um tanto quanto incômoda, e a culpa parece ser um martelo que não desiste de trabalhar nos seus pensamentos. A vontade de voltar atrás para fazer diferente é uma realidade, mas também algo impossível de se executar. Pode ser que seu coração esteja experimentando uma fase de contrição e angústia, o que, em muitos casos, é um ótimo sinal. Mas como compreender se essa contrição tem uma raiz pura, agradável ao Senhor?

Vamos lá. O ponto de partida ideal para nós é a passagem do dia, o Salmo 51. Nele, Davi é confrontado pelo profeta Natã acerca de seu pecado, que resultou em morte, adultério e desonra ao nome de Deus. Ao perceber o que havia feito, ele se lança em um estado de profunda tristeza, pranto e amargor, justamente pela gravidade de suas ações.

Ele havia visto Bate-Seba se banhando, e desejando tê-la, manipulou a organização das suas tropas de modo que o marido dela, Urias - um servo fiel e competente - fosse morto em combate. Ele a toma por esposa e com ela concebe um filho; tudo isso sem que os olhos onipresentes do Senhor fizessem vista grossa quanto à injustiça.

Pode ser que a consciência da depravação já tenha chegado ao seu interior, e, se esse for o caso, você verá ao longo prazo essa dor se convertendo em alegria. Ela é, muitas vezes, o ponto de partida para o agir do Senhor em nós.

Ou, pode ser, que seu estado seja outro. Por vezes, ao nos depararmos com essa e outras histórias, pensamos: "Ah, mas o meu pecado não é tão grave. Eu estou longe de ser um assassino, um traidor, um ladrão ou o que quer que vejamos nesses casos por aí. Pode ser que eu seja acometido pela preguiça, pela raiva exacerbada, pela ganância, pela fofoca ou pelo orgulho. Mas no geral, meu pecado não é tão grande assim."

Diante disso, é oportuno que consideremos duas questões. A primeira é o nível de poder, influência e autoridade que Davi possuía, extremamente diferentes dos de quase todas as pessoas nos dias dele ou nos dias de hoje. Ele era rico o suficiente para dar vazão à futilidade, conhecido o suficiente para chegar a qualquer pessoa no reino, e poderoso o suficiente para decretar coisas que pensava serem convenientes. Podemos dizer que a ponte entre seus desejos extremos e a realidade era um pouco mais curta (sem eximí-lo, é claro, das responsabilidades disso). Mas e você? Dentro do seu nível de poder e autonomia, quais têm sido as suas ações e os seus pecados? Como você tem administrado as ações que estão ao seu alcance? Ao fazer essa análise, muitas vezes iremos perceber que, proporcionalmente falando, a gravidade da nossa falta de temor a Deus é a mesma.

A segunda questão se encontra no fato de que, não importa o quão banal seja o pecado aos seus olhos, ele continua sendo capaz de ofender a santidade de Deus. Para alguém que não tem sujeira nenhuma, qualquer mísera partícula de pó representa uma impureza, e uma impureza grave. Jesus é completamente, intensamente e maravilhosamente santo. Qualquer pecado é suficiente para ofender a sua dignidade e para nos afastar do Senhor, que não convive com mácula. Um Deus que não acata a sujeira, não aceita nem uma pequena nem uma enorme manchinha. Qualquer uma delas tem que ser retirada. Logo, não é sobre o quão sujo ou limpo você acha que está, mas sim sobre o quão infinitamente puro Deus é. Na terra, um homem jogado no mais profundo buraco e um homem de pé no mais alto monte estão infinitamente mais perto um do outro do que do céu.

Esse é um dos motivos, por exemplo, de precisarmos olhar para outras pessoas com misericórdia. Um filho maduro em Deus sabe que seus pecados são indesculpáveis, e ao olhar para o próximo, também pecador, não se esquece o que seu próprio coração fez de ruim.

No Salmo 51, vemos um Davi pronto em clamar por misericórdia da parte de Deus. Ele compreendia que mais do que com qualquer pessoa, ele havia falhado com Deus - aquele que o amava com o melhor e mais puro amor; o único capaz de resgatá-lo e de purificá-lo.

O pecado pesa sobre um filho de Deus não somente pela sua dureza e desaprovação moral. O motivo principal do pecado resultar em tristeza para o cristão é o fato de que nos afasta do Senhor, sendo prejudicial para a comunhão. Estar distante do Senhor é doloroso para aqueles que o amam.

No dia de hoje, pergunte-se se você tem se arrependido, como é devido a cada cristão. Se não, podemos começar por aí, solicitando que o Senhor te dê entendimento da gravidade do pecado. Se sim, pergunte-se qual tem sido a raiz do seu arrependimento: por vezes, as consequências das nossas ações; por outras, o medo de sermos enxergados de forma ruim pelas pessoas ao nosso redor. Quando nos arrependemos de verdade, o motivo principal da tristeza é saber que ofendemos o Cristo que deu a vida por nós.

Davi, após o Salmo 51, estava disposto a aceitar qualquer que fosse a ação de Deus em relação ao seu pecado, porque sabia que qualquer que fosse sua perda, seria menor do que perder o relacionamento com seu Senhor. Se nosso arrependimento não nos leva a nos aproximarmos de Deus, seremos, por exemplo como Judas Iscariotes: não passará de remorso.

Por fim, no termo bíblico original, arrepender-se significa mudar de caminho. Muito mais do que na angústia que ele nos gera, o proveito do arrependimento é abrir espaço para que o Senhor nos faça melhores. O arrependimento que agrada a Deus é aquele que resulta em mudança de atitude. É o que a Palavra vai chamar da diferença entre "tristeza para a morte e tristeza para a vida": aqueles que estão em Jesus se entristecem diante do seu pecado e, em consequência, o abandonam. Aqueles que não caminham de perto com Deus, podem ter uma compreensão moral de que aquilo que fazem ou fizeram é vergonhoso. Mas à medida que a sensação se esfria, esfria-se também sua necessidade de agradar a Deus e seu esforço para corrigir o próprio caráter, tomando um caminho diferente.

No dia de hoje, peça ao Senhor para revelar ao seu coração as coisas das quais você precisa se arrepender e ore para que ele gere em você frutos verdadeiros de arrependimento. Há momentos em que nosso coração está tão endurecido pelo pecado, que não conseguimos sentir nem arrependimento, nem (sequer) remorso por si só. Se esse for seu caso, saiba que Jesus continua sendo fiel e capaz de transformar corações de pedra em corações de carne. Fale com ele sobre como você está, e peça para que ele te visite com o Espírito Santo.

Todos nós somos chamados ao arrependimento, e isso é um privilégio. Sem arrependimento não há santificação.

Que nosso Deus amoroso, soberano e bom te abençoe na sua jornada!