Encontros com JesusExemplo

VISITA INESPERADA

Sem dúvida, a aparição do anjo de Deus a Zacarias nos entusiasma muito mais do que o testemunho sobre ele e sua esposa, que afirma terem sido irrepreensíveis diante de Deus. “Ser irrepreensível” é possuir um caráter aplaudido por todos, mas como o caminho para alcançá-lo é lento e trabalhoso demais, não nos sentimos estimulados a percorrê-lo. Influenciados por uma cultura ligada à adrenalina e às intensas sensações sentimos a necessidade de manter nossa devoção a partir de dramáticas experiências espirituais.

Queremos “sentir” que Ele nos tocou, que agiu em nosso meio ou que tenhamos sido testemunhas de algum milagre espetacular. Para os que creem que isto se relaciona com a vida espiritual, receber a visita de um anjo significaria, sem dúvida, “tocar o céu com as mãos”.

A experiência de Zacarias nos deixa pelo menos três importantes advertências. Em primeiro lugar, aconteceu “enquanto Zacarias exercia seu ministério sacerdotal diante de Deus”. É precisamente este o contexto que nos produz tantas dificuldades porque o “enquanto” nos incomoda. Porém, ser fiéis na tarefa que nos foi entregue é uma condição indispensável para se chegar a maiores projetos. Em certas ocasiões, esta fidelidade deve ser provada, como no caso de Isabel e Zacarias ao longo de toda a vida. Não está em nós chegarmos, ou não, a projetos maiores, mas é uma decisão exclusiva dAquele em cujas mãos está a nossa vida. Encontramos na reação de Zacarias uma segunda advertência: “turbou-se, e apoderou-se dele o temor”. A aparição do anjo não resultou em uma experiência agradável, exatamente como imaginamos, caso isso acontecesse conosco. De fato, uma passagem pelas Escrituras revelará que essa reação de medo é comum a todas as pessoas que receberam uma visita celestial. Cada qual sentiu grande temor diante de algo que fugia completamente ao âmbito da experiência cotidiana. A verdade é que não temos capacidade para nos movermos com naturalidade nesse contexto, porque a fragilidade da nossa condição humana não pode suportar a mais tênue manifestação do Alto.

Isto nos leva à terceira advertência. Não encontramos qualquer indício de que Zacarias tenha tido outra experiência como esta ao longo da sua vida. Ao observar os 2 mil anos da história do povo de Deus, registrados na Bíblia, veremos que esses tipos de visitação acontecem raramente. Creio que o motivo é evidente: a vida espiritual não se desenvolve no plano do extraordinário, mas no que é comum. O Senhor bem sabe que essa classe de experiências facilmente pode se converter em uma distração. Por isso, o discípulo sábio tomará para si a oração do salmista: “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo” (Salmo 131:1,2).