“Agora, porém, os mais jovens zombam de mim,
rapazes cujos pais não são dignos de correr com meus cães pastores.
De que me serve a força deles?
Seu vigor já desapareceu!
Enfraquecidos pela pobreza e pela fome,
roem a terra seca, em regiões sombrias e desoladas.
Colhem ervas silvestres entre os arbustos
e comem as raízes das giestas.
São expulsos, aos gritos, da companhia das pessoas,
como se fossem ladrões.
Agora, moram em desfiladeiros medonhos,
em cavernas e entre as rochas.
Uivam como animais no meio dos arbustos
e ajuntam-se debaixo dos espinheiros.
São gente insensata, sem nome nem valor;
foram expulsos da terra.
“Agora, divertem-se às minhas custas!
Sou alvo de piadas e canções vulgares.
Desprezam-me e ficam longe de mim;
só se aproximam para cuspir em meu rosto.
Pois Deus cortou a corda de meu arco;
já que ele me humilhou,
eles não se refreiam mais.
Essa gente desprezível se opõe a mim abertamente;
lançam-me de um lado para o outro
e planejam minha desgraça.
Bloqueiam meu caminho
e fazem de tudo para me destruir.
Sabem que não tenho quem me ajude;
atacam-me de todos os lados.
Quando estou caído, lançam-se sobre mim;
vivo aterrorizado.
O vento carregou minha honra;
minha prosperidade passou como uma nuvem.
“Agora, minha vida se esvai;
a aflição me persegue durante o dia.
A noite corrói meus ossos;
a dor que me atormenta não descansa.
Com mão forte, Deus agarra minha roupa;
pega-me pela gola de minha túnica.
Lança-me na lama;
não passo de pó e cinza.
“Clamo a ti, ó Deus, e não me respondes;
fico em pé diante de ti, mas não me dás atenção.
Tu me tratas com crueldade
e usas teu poder para me perseguir.
Tu me lanças no redemoinho
e me destróis na tempestade.
E sei que me envias para a morte,
para o destino de todos os que vivem.
“Por certo, ninguém se voltaria contra os necessitados,
quando clamam por socorro em suas dificuldades.
Acaso eu não chorava pelos aflitos?
Não me angustiava pelos pobres?
Esperava o bem, mas em seu lugar veio o mal;
aguardava a luz, mas em seu lugar veio a escuridão.
Meu coração está agitado e não sossega;
dias de aflição me atormentam.
Ando nas sombras, sem a luz do sol;
levanto-me em praça pública e clamo por socorro.
Contudo, sou considerado irmão dos chacais
e companheiro das corujas.
Minha pele escureceu,
e meus ossos ardem de febre.
Minha harpa toca canções fúnebres,
e minha flauta acompanha os que choram.”