Se ele dizia: “Os salpicados serão o seu salário”, então todos os rebanhos davam salpicados; e, se ele dizia: “Os listrados serão o seu salário”, então os rebanhos todos davam listrados. Assim, Deus tirou o gado do pai de vocês e o deu a mim.
— Pois, chegado o tempo em que os animais acasalavam, levantei os olhos e vi em sonhos que os machos que cobriam as ovelhas eram listrados, salpicados e malhados. E o Anjo de Deus me disse em sonho: “Jacó!” E eu respondi: “Eis-me aqui!” Ele continuou: “Levante agora os olhos e veja que todos os machos que cobrem o rebanho são listrados, salpicados e malhados, porque vejo tudo o que Labão está fazendo com você. Eu sou o Deus de Betel, onde você ungiu uma coluna, onde me fez um voto. Levante-se agora, saia desta terra e volte para a terra de sua parentela.”
Então Raquel e Lia disseram:
— Será que ainda existe para nós parte ou herança na casa de nosso pai? Não é verdade que ele nos considera como estrangeiras? Pois nos vendeu e consumiu tudo o que nos era devido. Porque toda a riqueza que Deus tirou de nosso pai é nossa e de nossos filhos; agora, pois, faça tudo o que Deus pediu que você fizesse.
Então Jacó se levantou e, fazendo montar seus filhos e suas mulheres em camelos, levou todo o seu gado e todos os seus bens que chegou a possuir, o gado de sua propriedade que havia acumulado em Padã-Arã, para ir a Isaque, seu pai, à terra de Canaã. Enquanto Labão tinha ido fazer a tosquia das ovelhas, Raquel roubou os ídolos do lar que pertenciam a seu pai. E Jacó enganou Labão, o arameu, não revelando que tinha planos de fugir. E fugiu com tudo o que lhe pertencia. Levantou-se, passou o Eufrates e tomou o rumo dos montes de Gileade.
No terceiro dia, Labão foi avisado de que Jacó ia fugindo. Reuniu os seus parentes e saiu no encalço de Jacó, por sete dias de viagem, e o alcançou nos montes de Gileade. De noite, porém, Deus veio em sonhos a Labão, o arameu, e lhe disse:
— Cuidado! Não fale a Jacó nem bem nem mal.
Labão alcançou Jacó. Este havia armado a sua tenda naqueles montes. Também Labão armou a sua tenda com os seus parentes, nos montes de Gileade. E Labão disse a Jacó:
— Que foi que você fez? Você me enganou e levou as minhas filhas como se fossem prisioneiras de guerra. Por que você fugiu em segredo, e me enganou, e não me disse nada? Eu o teria despedido com alegria, com cânticos, com tamborins e com harpa. E por que não permitiu que eu beijasse meus netos e minhas filhas? Nisso você agiu como um tolo. Tenho em minhas mãos poder para fazer mal a vocês, mas ontem à noite o Deus do pai de vocês me falou e disse: “Cuidado! Não fale a Jacó nem bem nem mal.” E agora que você partiu de vez, pois está com saudades da casa de seu pai, por que roubou os meus deuses?
Jacó respondeu:
— Porque tive medo. Pensei assim: para que não aconteça que me tome à força as suas filhas. Que seja morto aquele com quem o senhor achar os seus deuses. Na presença de nossos parentes, verifique o que pertence ao senhor e, se estiver comigo, pode levar embora.
Acontece que Jacó não sabia que Raquel os havia roubado.
Labão entrou na tenda de Jacó, na tenda de Lia e na tenda das duas servas, mas não achou nada. Tendo saído da tenda de Lia, entrou na tenda de Raquel. Ora, Raquel havia pegado os ídolos do lar e, depois de colocá-los na sela de um camelo, estava sentada sobre eles. Labão apalpou toda a tenda e não os achou. Então Raquel disse ao pai:
— Não fique zangado, meu senhor, por eu não poder me levantar na sua presença, pois estou no meu período menstrual.
Ele procurou, mas não encontrou os ídolos do lar.
Então Jacó ficou zangado e discutiu com Labão. Dirigiu-se a Labão, dizendo:
— Qual é a minha transgressão? Qual o meu pecado, para o senhor me perseguir com tanta fúria? Havendo apalpado todos os meus utensílios, quais foram os utensílios de sua casa que o senhor encontrou? Coloque-os aqui diante dos meus parentes e dos seus parentes, para que julguem entre nós dois. Vinte anos eu estive com o senhor. As suas ovelhas e as suas cabras nunca perderam as crias, e não comi um só carneiro do seu rebanho. Não lhe apresentei os animais que eram despedaçados pelas feras; assumi o prejuízo. Da minha mão o senhor o requeria, tanto o roubado de dia como de noite. De maneira que eu andava, de dia consumido pelo calor, de noite, pela geada; e o meu sono me fugia dos olhos. Vinte anos permaneci em sua casa. Catorze anos trabalhei para o senhor pelas suas duas filhas e seis anos trabalhei para conseguir o seu rebanho; dez vezes o senhor mudou o meu salário. Se não fosse o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o Temor de Isaque, por certo o senhor me despediria agora de mãos vazias. Mas Deus viu o meu sofrimento e o trabalho das minhas mãos e ontem à noite ele repreendeu o senhor.
Então Labão respondeu a Jacó:
— As filhas são minhas filhas, os filhos são meus netos, os rebanhos são meus rebanhos, e tudo o que você está vendo é meu. Que posso fazer hoje a estas minhas filhas ou aos filhos que elas deram à luz? Venha, pois, e façamos uma aliança, eu e você, que sirva de testemunho entre mim e você.
Então Jacó tomou uma pedra e a erigiu por coluna. E disse aos seus parentes:
— Ajuntem pedras.
Eles foram ajuntar pedras e fizeram um montão, ao lado do qual comeram. Labão deu-lhe o nome de Jegar-Saaduta, mas Jacó lhe chamou Galeede. E Labão disse:
— Seja hoje este montão de pedras por testemunha entre mim e você.
Por isso foi chamado de Galeede e Mispa, pois disse:
— Que o SENHOR vigie entre mim e você e nos julgue quando estivermos separados um do outro. Se você maltratar as minhas filhas e tomar outras mulheres além delas, não estando ninguém conosco, lembre-se de que Deus é testemunha entre mim e você.
E Labão continuou:
— Eis aqui este montão de pedras e esta coluna que levantei entre mim e você. Seja o montão testemunha, e seja a coluna testemunha de que para mal não passarei para o lado de lá do montão e você não passará para o lado de cá do montão e da coluna. O Deus de Abraão e o Deus de Naor, o Deus do pai deles, julgue entre nós.
E Jacó jurou pelo Temor de Isaque, seu pai. E Jacó ofereceu um sacrifício na montanha e convidou seus parentes para uma refeição. Eles comeram e passaram a noite na montanha.
Na manhã seguinte, Labão se levantou de madrugada, beijou os seus netos e as suas filhas e os abençoou. E, partindo, voltou para a sua casa.