Cântico dos cânticosSample
A vida sem satisfação e a solução para isso
É fácil reconhecer que é a noiva quem fala nos versículos 2 a 7. As palavras não são aquelas de alguém morto em ofensas e pecados, para quem o Senhor é como raiz de uma terra seca, sem aparência nem formosura. A noiva teve seus olhos abertos para contemplar Sua beleza, e anela por usufruir mais plenamente do Seu amor.
Beija-me com os beijos da tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho.
E assim, começa um estágio diferente no desenvolvimento da vida da graça na alma. E esta experiência registrada é uma espécie de garantia divina ao desejo por sensíveis manifestações de Sua presença, sensíveis comunicações do Seu amor. Mas não foi sempre assim com ela. Outrora ela estava satisfeita em Sua ausência, e outro relacionamento com outras ocupações a satisfaziam; mas agora isso não pode ser mais assim. O mundo não pode mais ser para ela o que já foi; a noiva aprendeu a amar ao seu Senhor, e nenhum outro relacionamento que não seja com Ele pode satisfazê-la. Suas visitações podem ser ocasionais e breves, mas são preciosos momentos de deleite. Esses momentos são lembrados com prazer nos intervalos, e a repetição deles é muito desejada. Não há qualquer satisfação real sem Sua presença, e ainda, ai dela, Ele não está todo o tempo com ela: Ele vem e vai. Agora, a sua alegria está um céu abaixo; mas novamente ela está anelando, e anelando em vão por Sua presença. Tal qual as marés que sempre mudam, a experiência dela é como o fluxo e o refluxo de uma maré; pode mesmo ser que a inquietação seja a regra, e satisfação seja a exceção. Não há solução para isso? Isso teria de continuar assim? Teria ou poderia Ele ter criado esses anelos insaciáveis apenas para serem uma tortura? Estranho, realmente, seria se este fosse o caso. Entretanto, não há muitos do povo do Senhor cuja experiência habitual corresponde à dela? Eles não conhecem o descanso, a alegria de permanecer em Cristo; e eles não sabem nem como alcançar isso, nem por que isso não é deles. Há muitos que olham para trás, para os tempos de delícias do seu primeiro amor, muitos que, longe de encontrar a sua mais rica herança em Cristo, estão até mesmo conscientes de que perderam o seu primeiro amor e podem expressar sua experiência em triste lamento:
Onde estão as bem-aventuranças que eu experimentei
Quando inicialmente conheci o Senhor?
Outros, que talvez não tenham perdido o seu primeiro amor, podem ainda estar sentindo que as interrupções ocasionais à comunhão estejam se tornando cada vez mais insuportáveis, à medida que o mundo se torna algo menor para eles e o Senhor, maior. Sua ausência é uma aflição cada vez mais intensa. “Ah! Se eu soubesse onde o poderia achar!”; “Beija-me com os beijos da tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho.”; “Como seria bom se o amor Dele fosse forte e constante como o meu, e que Ele nunca retirasse de sobre mim a luz do Seu rosto!”
Pobre equivocada! “Há um amor muito mais forte que o teu esperando, anelando por satisfação. O Noivo está esperando por ti todo o tempo; as condições que impedem Sua aproximação são todo o tempo de tua própria autoria. Tome a correta posição diante Dele, e Ele estará mais do que pronto, mais do que contente em satisfazer teus mais profundos anelos e todas as tuas necessidades.” O que poderíamos pensar de alguém já comprometido com o Noivo, cujo conceito e vontade própria impedem não apenas a consumação de sua própria alegria, mas a Dele que deu a ela Seu coração? Apesar de nunca achar descanso em Sua ausência, ela não pode confiar totalmente Nele, e ela não abre mão de seu próprio nome, seus próprios direitos e possessões, sua própria vontade, a Ele que se tornou necessário para a sua alegria. Ela de bom grado o requestaria totalmente, sem entregar-se completamente a Ele, mas isso não pode nunca ser assim: enquanto ela mantém seu próprio nome, não pode nunca requerer o Dele. Ela não pode prometer amar e honrar se não prometer também obedecer; e até que seu amor alcance o ponto de rendição, ela terá de permanecer uma amante insatisfeita — ela não pode, como uma noiva satisfeita, achar descanso na casa de seu marido. Enquanto ela mantém sua própria vontade e o controle de suas possessões, tem de se contentar em viver de seus próprios recursos; ela não pode reivindicar os Dele.
Poderia haver uma prova mais triste da extensão e da realidade da Queda do que a profunda falta de confiança em nosso Senhor e Mestre, que nos leva a hesitar em nos darmos totalmente a Ele, temendo que Ele possa requerer algo além de nossas forças, ou pedir alguma coisa que acharíamos difícil dar ou fazer? O real segredo de uma vida insatisfeita está, muito frequentemente, em uma vontade não rendida. E, todavia, quão tolo, bem como, quão errado é isso? Teríamos nós a fantasia de sermos mais sábios do que Ele? Ou que nosso amor por nós mesmos seja mais terno e forte do que o Dele? Ou que conhecemos a nós mesmos melhor do que Ele? Como a nossa desconfiança deve ofender e ferir mais uma vez o terno coração daquele que foi por nós o Homem de Dores! Quais seriam os sentimentos de um noivo humano, se ele descobrisse que sua noiva-eleita estava temendo casar-se com ele, com receio de que, quando tivesse poder, ele poderia tornar a vida dela insuportável? Todavia, quantos dos remidos do Senhor não o tratam exatamente dessa maneira? Não é de se admirar que eles não estejam nem felizes nem satisfeitos!
Mas o verdadeiro amor não pode estacionar; ele tem de aumentar ou diminuir. O amor divino sempre nos cativará, apesar de todos os medos injustificados do nosso pobre coração.
Scripture
About this Plan
Este plano de leitura foi retirado do livro Cântico dos Cânticos, de Hudson Taylor. O autor foi capacitado a abrir, em linguagem simples, profundas verdades quanto á unção pessoal dos crentes com Deus, que, de maneira simbólica, são o tema de Cântico dos cânticos. E, ao fazê-lo, forneceu uma direção segura para a compreensão daquele que é um dos livros mais mal-entendidos e pouco considerados da Bíblia. Comece agora!
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