Quem És Tu, Cristão?Exemplo

Quando se lê o livro de Jó a tendência pode ser seguir a história na expetativa de que sejam revelados os mistérios pelos quais Jó sofre. A simpatia imediata para com o personagem pode ser tão grande, que o que se deseja ler acima de tudo é um Jó respondido de um modo que não seja apenas ele consolado de todas as suas angústias, mas também nós da angústia que a leitura nos dá, na medida em que nos oferece a possibilidade de um sofrimento incomportável e incompreensível. Se a sofreguidão por uma resposta imediata ao sofrimento é o motor que nos faz andar, podemos passar ao lado da única resposta que nos é dada – certamente a única que traz o verdadeiro consolo.

Quando no verso 5 do capítulo 42, Jó se mostra finalmente consolado no facto de ver Deus, o texto diz que esse consolo está diretamente relacionado com o pó e a cinza em que Jó está submerso (verso 6). Jó está consolado porque está arrependido. Esta parte do texto é especialmente importante porque se reconhece o paradoxo da fé cristã: o momento da vergonha e tristeza pelo pecado confessado contra Deus é ao mesmo tempo, o momento de maior consolo porque é quando o perdão nos é dado.

Se, por um lado, podemos sofrer consequências pelo mal que fazemos, por outro, o sofrimento pode vir não por castigo imediato, mas por permissão divina. E tal como Jó, lutamos para compreender. Creio que a verdadeira luz que nos é dada neste livro passa por admitirmos que no meio das trevas o mais importante não é descodificar o porquê, mas sermos encontrados por alguém. No meio da desgraça, Jó recebe a graça de se deleitar em Deus de um modo que até então não sabia ser possível. A sabedoria de Jó está no reconhecimento de que não existe progresso no nosso contentamento em Deus sem arrependimento. Precisamos desesperadamente desta sabedoria que nos é dada n'Aquele para quem o sofrimento e a restauração de Jó apontam, Jesus Cristo.