JOB Introdução
Introdução
A estrutura complexa — poesia e prosa, diálogos e monólogos — leva alguns a concluir que este livro foi composto em fases diferentes. O estilo e a linguagem da parte poética, bem como a antiguidade de outros textos orientais sobre o justo sofredor, levam a pensar num fundo de relatos sobre Job que remontaria à época dos patriarcas, à qual os eventos relatados, pelas características da sociedade descrita, parecem pertencer. Nota-se, porém, algum ceticismo em relação às ideias tradicionais sobre a retribuição, expressas em intervenções de amigos de Job: a noção de que o mal e o bem são forçosamente consequência do pecado ou da justiça individuais, refutada pelas réplicas deste e atenuada na intervenção de Eliú (32,1—37,24). Esta inflexão de mentalidade indiciaria, para alguns, que a composição do livro teria sido concluída em data mais recente, num período posterior ao exílio.
O livro de Job começa com uma narrativa em prosa, ao gosto popular da época: Job, homem rico e honesto é, de repente e inexplicavelmente, atingido por terríveis desgraças. Apesar disso, ele mantém-se firme na sua fé (1,1—2,13).
A maior parte do livro é em poesia dialogal, à maneira hebraica e oriental, que traduz bem o espírito de discussão e de dramática contraposição de pontos de vista, e cria a tensão própria deste livro. Os três amigos, que se apresentam para reconfortar Job no seu sofrimento, defendem ideias tradicionais que não respondem aos problemas levantados pelo sofrimento deste homem justo. Eles pensam que o sofrimento é sempre castigo de algum pecado. Job recusa tal explicação para o seu caso, pois acha que não fez mal nenhum, e exige enfrentar-se com Deus, certo de que este lhe dará razão e lhe fará justiça (3,1—31,40).
Eliú, um outro amigo, apresenta-se com uma opinião diferente: o sofrimento ajuda o homem a tomar consciência de si mesmo e das suas limitações e tem, portanto, um valor educativo (32,1—37,24). O discurso de Deus confirma, de algum modo, esta perspetiva. Deus responde com mais perguntas e Job reconhece que estava a exigir respostas, sem saber quem Deus era realmente (38,1—42,6).
O livro termina com uma pequena narrativa, em prosa, onde Deus aprova a atitude de Job e lhe restitui a dobrar tudo o que ele tinha perdido (42,7–17).
O amor descomprometido e a fidelidade do justo a Deus são uma das grandes lições do livro. Outra grande lição é a da esperança de que, no meio dos sofrimentos dos justos, Deus e a sua redenção se fazem presentes. Job manifesta essa esperança através da evocação de um advogado redentor desconhecido que interceda por ele diante de Deus (16,19–21; 19,25; 33,24). Esta invocação parece figurar Cristo, o intercessor entre Deus e os homens. Mas a esperança de Job vai ainda mais longe: é pessoalmente que poderá testemunhar a manifestação desse redentor, com os próprios olhos, mesmo após ter morrido. Esta esperança é a da ressurreição física, crença que se consolidaria entre os judeus e que, graças à ressurreição de Cristo, os cristãos confirmariam.
Este livro pode sintetizar-se no seguinte plano:
— Personagens e acontecimentos: 1,1—2,13.
— Diálogo entre Job e os três amigos: 3,1—27,23.
— Interlúdio sobre a sabedoria: 28,1–28.
— Outros discursos de Job: 29,1—31,40.
— Discurso de Eliú: 32,1—37,24.
— Discurso de Deus e resposta de Job: 38,1—42,6.
— Conclusão: 42,7–17.
Atualmente selecionado:
JOB Introdução: BPT09DC
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